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DEBATE ECONÔMICO








            de 24,30% quando medida pelo IGP-DI e acumulada,   até mesmo o custeio para a manutenção dos serviços
            no mesmo período.                               públicos”.    Relativamente  a  essas  alegações,  vários
                  Cabe  mencionar  que  o  primeiro  déficit  global   economistas consultados consideraram a argumenta-
            das  contas  públicas  estaduais  da  série  consecutiva,   ção um tanto quanto improcedente e descabida, pelo
            que em 2017 completará o seu quinto ano, foi registra-  fato de não se presenciar, atualmente, nenhuma crise
            do ainda no governo tucano de Anastasia, em 2012, no   econômica no âmbito internacional. Em segundo lu-
            valor de R$ 2,1 bilhões. Desde então, as contas se de-  gar, porque as commodities mineiras, das quais Minas
            terioraram em velocidade crescente, até se chegar a um   é grande exportadora, não recolhem tributos locais e,
            déficit de R$ 13,8 bilhões em 2015, que só foi reduzido   portanto, as finanças públicas do Estado não são, as-
            a R$ 8,9 bilhões por conta da incorporação ao tesouro   sim, tão deles dependentes para a configuração de sua
            dos depósitos judiciais. No ano de 2016 o resultado foi   arrecadação tributária. Trata-se do mesmo tipo de argu-
            um déficit de R$ 4,1 bilhões. Tal incorporação, no en-  mento apresentado pela equipe econômica da ex-pre-
            tanto, está sendo questionada pelo Tribunal de Contas   sidente Dilma Rousseff, para jogar toda a culpa pelas
            de MG, conforme matéria abaixo:                 mazelas da economia nacional em uma pretensa, falsa
                                                            e inexistente crise econômica internacional. Cabe res-
            MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS-MPC DESAPROVA       saltar que, pela primeira vez em nossa história econô-
            CONTAS DO 1º ANO DO GOVERNO PIMENTEL            mica, as razões desta mais longa e severa crise econô-
                  “Por quatro votos a dois, os conselheiros do Tri-  mica que atravessa o País é motivada exclusivamente
            bunal de Contas do Estado aprovaram em 21 de no-  por questões de natureza endógena, sendo descabidas
            vembro de 2016 as contas do governador Fernando   quaisquer outras colocações em sentido contrário.
            Pimentel referente ao ano de 2015. O Ministério Público   Em sua argumentação final, pondera o governa-
            de Contas-MPC emitiu parecer pela desaprovação sob   dor de Minas como motivo da falência do setor público
            a alegação que o estado maquiou a receita ao classifi-  estadual estão os “fortes desequilíbrios gerados pela
            car o uso de R$ 4,8 bilhões de depósitos judiciais como   dívida do Estado junto à União, cujos contratos foram
            receita corrente líquida, e não como dívida. Sem esse   balizados no passado por outras condições macroeco-
            valor, Minas ultrapassaria o limite de endividamento   nômicas não mais presentes, sendo que ao longo da
            previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O MPC   vigência dos referidos contratos o saldo da dívida vem
            também acusa o governo de não ter aplicado o mínimo   crescendo, a despeito do pagamento pontual de eleva-
            constitucional  em  saúde  e  educação.  O  parecer  será   dos desembolsos ao longo de tantos anos, sem que os
            agora  publicado  no  Diário  Oficial  de  Contas,  quando   respectivos passivos sequer tenham diminuído.”
            será  aberto  prazo  para  recurso.  Terminado  o  proces-  Em relação a este último argumento pode-se
            so,  as  contas  serão  encaminhadas  para  a  análise  da   afirmar que ele procede parcialmente. Em primeiro lu-
            Assembleia  Legislativa.”  (Jornal  Estado  de  Minas  –   gar porque Minas não é o único estado devedor junto
            22.11.2016)                                     à União e vários outros, mesmo devendo elevadas dívi-
                  Entre outras razões para o decreto de situação   das, como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e outros,
            de calamidade financeira,  o governador Fernando Pi-  não compartilham da mesma situação de dificuldades
            mentel alega “a situação anormal derivada dos impac-  de Minas. Em segundo lugar, vale mencionar que esta
            tos no País da crise econômica internacional e nacional   situação foi, em grande parte, agravada, principalmen-
            que implicam a contração do Produto Interno Bruto,   te, pelos governos petistas que estiveram à frente do
            reflexo da queda da atividade dos diversos setores, so-  País nos últimos 13 anos, nos quais o próprio governa-
            bretudo em face da dependência da economia mineira   dor, atuou como ministro da Pasta de Desenvolvimento.
            ao mercado internacional de commodities agrícolas e   Há de se perguntar:  porque antes nada foi feito para
            metálicas e que decorrem em severa redução na recei-  se corrigir as eventuais distorções e ora por ele apon-
            ta pública estadual originária, derivada e transferida, de   tadas?
            modo a comprometer a capacidade de investimento e      No grupo dos estados que decretaram calami-



              6              Janeiro a Março de 2017
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