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Carlos Alberto Teixeira de Oliveira
Bacharel em Administração, Ciências Contábeis e Econômicas.
Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de
Minas. Presidente/Editor-Geral de MercadoComum
O país dos juros indecentes
Inicio esta matéria citando um depoimento de do país a elevadas taxas reais de juros para se com-
meu amigo economista Paulo Eduardo Rocha Brant, bater a inflação. Provavelmente o Brasil seja uma das
concedido ao livro de minha autoria intitulado “JK-50 raras economias em todo o mundo que tenha conse-
Anos de Progresso em 5 Anos de Governo: guido sobreviver por um período de tempo tão amplo
“É importante ressaltar dois equívocos, que, contabilizando taxas reais de juros exorbitantes e na
em minha opinião, têm permeado as políticas econô- ostentando o título de campeão mundial disparado
micas do País, e que, se persistirem, obstruirão ina- neste perverso indicador.
pelavelmente qualquer tentativa de relançamento da Será que só o Brasil está certo ao utilizar
economia brasileira de volta ao caminho do desenvol- essa política monetária de taxas de juros real eleva-
vimento. díssima?
O primeiro deles diz respeito à crença de que a De outro lado, é interessante observar que
estabilidade econômica é condição prévia à retomada outros instrumentos usuais de política monetária não
do desenvolvimento do País. Primeiro a estabilidade, foram suficientemente utilizados, reinando o medica-
só depois o desenvolvimento. Sendo assim, as políti- mento das taxas reais de juros elevados como um dos
cas de estabilização assumem um caráter de primazia únicos e exclusivos no combate à inflação. Assim, por
absoluta, subordinando e sufocando todas as outras exemplo, não se utilizou dos mecanismos das impor-
políticas. Apequena-se a política econômica, ames- tações para se baratear preços de produtos escassos
quinham-se os objetivos para a economia do País. E ou em falta, dos depósitos compulsórios nem da ele-
já lá se vão algumas décadas de busca inglória da vação do IOF-Imposto sobre Operações Financeiras
miragem da estabilidade. para se equilibrar as questões usuais relacionadas
Evidentemente, ninguém em sã consciência à oferta e demanda, cabendo destacar a relevância
há de negar a necessidade das economias nacionais dos preços dos bens e serviços administrados nessa
ostentarem bons e saudáveis fundamentos macroe- equação.
conômicos. Não se trata disso! No entanto, o caminho Não se trata de uma discussão em relação a
da estabilidade deve ser concebido e implementado diagnósticos ou a remédios indicados e sim, quanto
no bojo de uma política de desenvolvimento para o à dosagem aplicada. Tivesse sido acertada a políti-
País. A estabilidade não precede o desenvolvimento, ca monetária adotada, muito provavelmente não te-
ao contrário, é a estratégia de desenvolvimento do ríamos colhido os resultados alcançados quando, em
País que deve, simultaneamente, orientar e contex- várias oportunidades, superou-se o limite do teto da
tualizar as opções da política macroeconômica. Até meta de inflação estabelecida.
porque, ao contrário do que se costuma propagar, os Vale relembrar as sábias palavras de Rober-
caminhos possíveis para se alcançar a estabilidade to Campos: “Mais relevante é o argumento de que o
econômica são vários.” simples controle da oferta da moeda pelo Banco Cen-
Venho compartilhando, ao longo dos últimos tral não elimina as distorções criadas pela emissão da
20 anos, de um grupo escasso de economistas – en- dívida pública. Esta pode ter efeitos inflacionários (na
tre os quais se incluem o próprio Paulo Brant, Paulo hipótese de provocar alta das taxas de juros) ou aloca-
Rabello de Castro e Luis Paulo Rosenberg, que vem tivos. Estes, por sua vez, poder ser de dois tipos. Um
discordando da dosimetria da política de condenação é o fenômeno do crowding out, isto é, a compressão
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