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Jayme Vita Roso

 
Quanto Sartre nos ensinou! Impossível sequer imaginar que Sartre (1905 – 1980) não tenha sido decisivo para o pensamento do século passado, apesar de muitos intelectuais (filósofos e psicólogos) insistirem que ele foi mais publicidade do que profundidade de pensamentos, ideias e “novidades”, esquecendo que ele foi um participante, destacando-se no que se envolveu. Retrocedo nos anos 1960, quando trabalhava na Europa, baseado em Pádua, na Itália, mas, sempre tentado, ia participar dos acontecimentos políticos e sociais que ocorriam na França. Embora mero expectador, refletia nos eventos que iriam dar um novo tom às orientações dos costumes, provocados por contestações legítimas. Tanto que, em menor proporção, na Itália, a “contestazione” ecoou, até na cinematografia, com um filme protagonizado por Alberto Sordi, humorizando o movimento peninsular. E, na França, na década subsequente, ainda Sartre era modelo. Um dos ícones franceses da “nova filosofia”, Bernard Henri Levi , muito criticado porque seus detratores afiançavam que ele não mereceu a fama conquistada, com seus escritos, até considerados medíocres, no início deste século, deu ao público “O Século de Sartre” , em que retrata o homem e sua obra. Enfatiza que Sartre comandou o pensamento mundial, sobretudo da segunda metade do século XX. Dividiu o livro em três grandes partes, porque tentou emoldura-lo, dentro do “homem século”, onde retrata sua glória sua intelectualidade, as ideias que combinavam com Gide, Beregon e Heidegger (p.17/217); na segunda parte, desnuda o homem: esboça que seu existencialismo é anti-humano; seu caráter e atitude como ferrenho autofacista, como enxergava a rendição francesa e o governo de Vichy, como resistente naqueles momentos e contra quem Sartre esgrimou intelectualmente (Foucault) e quem ele apoiou (a questão judaica) e seus interlocutores desafetos, dentre eles Camus; na terceira parte – para o escriba, a mais consistente – o autor aponta várias singularidades sartrianas no campo das ideias e da política fervilhante, a amizade com Castro, o amor à Itália, os testemunhos dos contemporâneos, sua pregação literária (p. 427/628). Levi traça em linhas, ferventes de emoção, no epílogo (p. 629/662), seu carinho, pois exibe Sartre cego, seu reencontro com Benny Levy, o homem que teria sido judeu, dai seu diálogo com Levines. Nessa época, derradeira desta vida inigualável, depois de várias tentativas, por quinze anos, consegui que Sartre me autografasse seu livro síntese “L’age de la raicon ”. Desse encontro, ocorrido em Montemartre quase três décadas passadas, ele muito doente, mas lúcido, me fez validar o valor literário de Gilles Hanus, para confirmar que pensar a dois “não é trocar pensamentos elaborados na solidão a fim de mensurar seus efeitos vis-àvis, mas produzir um conjunto de enunciados, proposições de pensamento”, aliás por meio de uma prática inédita, como fez, sem titubear. Será difícil surgir outro Sartre, neste século, onde impera a falta de inteligência, a mediocridade intelectual, a ausência de elaborar propósitos assumindo, ideias, que não se confundem com mitos.

 

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