Apesar das incertezas quanto à aprovação pelo Congresso da reforma da previdência e o exame do pacote de novas leis penais, o cenário da economia interna continua favorável a quem aplica o dinheiro no mercado financeiro, principalmente na bolsa de valores.

Ativos de renda fixa como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), fundos de investimentos financeiros, títulos do Tesouro Direto e também as cadernetas de poupança mantêm a atratividade diante da permanência da taxa Selic (juros básicos da economia) em 6,50% ao ano em 2019 e da previsão de subida desta taxa para 8% ao ano em 2020. O juro real brasileiro – taxa Selic menos inflação projetada para os próximos doze meses – da ordem de 2,5% é atraente para o investidor interno e externo. O Brasil detém o sétimo maior juro real do mundo, apesar do recuo significativo dessa taxa nos últimos meses.

Previsões de manutenção da inflação anual abaixo do centro da meta de 4,25% ao ano na faixa de 3,87% em dezembro próximo e dólar comercial no patamar moderado de R$ 3,70 no mesmo período, que não atrapalha o alcance de superávit expressivo na balança comercial, são os dois fatores que tranquilizam.

Crescimento lento

Nem tudo são flores. Não se pode esperar avanços acentuados na diminuição do desemprego formal diante da previsão anual de crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) pelos principais analistas do mercado segundo a pesquisa do boletim Focus do Banco Central (BC) divulgada na segunda semana de fevereiro. Menos otimistas, bancos como o ItaúUnibanco reduziram para 2% a expectativa de crescimento econômico em 2019. Para o próximo ano, a projeção de expansão do PIB também não passa dos 2,5%. A entrada de vultosos recursos externos diante dos possíveis acertos do governo na área econômica é uma incógnita. Temos que esperar para ver.

Esse crescimento modesto da economia e o desemprego na faixa superior a 12 milhões de pessoas tornam difícil o equilíbrio nas contas da previdência social mesmo que o governo consiga impor mais limites nas concessões das aposentadorias dos setores privado e público e consiga receber parte das dívidas das empresas para com o INSS.

Os desempregados, integrantes da categoria dos desalentados (que não procuram mais emprego) e os milhões de trabalhadores na economia informal tendem a não contribuir para com o INSS, e quando o fazem é pelo valor mínimo. Sem a volta de crescimento econômico expressivo ainda não visualizado no horizonte neste ano e no próximo, o sucesso da reforma da previdência que objetiva conter os déficits crescentes do setor.  No curto e médio prazo, a reforma só trará expectativas favoráveis, o que já muito.

Nos meios empresariais, executivos que se formaram após o regime militar não dão o devido valor ao atual governo Bolsonaro que consegue evitar que o Brasil se torne uma Venezuela ou Cuba sob o comando do “comissariado” de um grande partido político dominante, intelectuais e artistas que se dizem de esquerda, mas que vivem de acordo com as práticas de um capitalismo selvagem e de benesses do Estado. Só de evitar o pior do socialismo, o governo já é exitoso.

Contas externas

O Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil previsto para este ano para US$ 80 bilhões associado ao alcance do superávit de US$ 51 bilhões na balança comercial (exportação menos importações) são mais que suficientes para cobrir o déficit de US$ 25 bilhões nas contas correntes (todo o movimento do País com o exterior).

E as reservas cambiais do Brasil da ordem de US$ 390 bilhões afastam o perigo maior de todos os países que o é o desajuste nas contas externas.

No cenário externo, a tranquilidade não é total, mas não é tão preocupante. Os juros básicos americanos foram mantidos recentemente entre 2,25% e 2,50% ao ano pelo Federal Reserve (FED), o banco central americano, e a maior economia do mundo continua em bom ritmo de crescimento e com inflação controlada, apesar dos embates constantes do presidente Donald Trump com a imprensa e alguns setores políticos que não o apoiam.

Quem vai aos EUA e visita regiões mais ricas como a Califórnia tem visão mais otimista em relação ao governo Trump do que a transmitida pela mídia.

Os embates comerciais entre EUA e China também preocupam porque nem sempre podem favorecer o relacionamento de negócios do Brasil com a maior economia da Ásia.

Na Europa, a saída da Grã Bretanha do livre comércio (Brexit) com o países do velho continente pode repercutir desfavoravelmente no crescimento dos envolvidos e nas suas transações com o restante do mundo. E nem os termos da saída dos ingleses dos acordos comerciais está clara.

A Europa padece ainda e principalmente com a entrada desenfreada dos imigrantes do norte da África e países em crise do Oriente Médio e Ásia.

Destaque da bolsa

O ingresso de cerca de 300 mil investidores na B3, antiga bolsa de SP, desde o ano passado e o alcance dos 95 mil pontos do Ibovespa neste início de ano, dá uma Idea do interesse maior que o mercado acionário vem despertando. A estabilidade dos juros, o crescimento moderado da economia e a expectativa positiva em relação ao governo no mercado financeiro justificam o maior interesse pela bolsa de valores. Em janeiro passado, ações de bancos como Bradesco, Santander, BB e ItaúUnibanco chegaram a apresentar rentabilidade superior a 20% no período.

A expectativa do alcance de bons resultados pelos bancos neste ano, alicerçada pela divulgação dos lucros elevados referentes ao quarto trimestre de 1018, estimulou a procura pelas ações de bancos. E os dividendos também. Os três maiores bancos privados do País – ItaúUnibanco, Bradesco e Santander – distribuíram R$ 37 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio relativos aos lucros do ano passado. A cifra equivale a 61,7% do lucro ajustado daqueles três bancos em 2018.

Os dividendos dos bancos são um grande atrativo para os investimentos em ações. A firma de consultoria Economática divulgou que algumas companhias devem pagar bons dividendos este ano. Entre elas estão as ações das Transmissão Paulista, Taesa, MRV, Fibria, Porto Seguro, Ecovias e ItaúUnibanco.

O acidente/crime ambiental da mineradora Vale, em Brumadinho e no entorno das margens do rio Paraopeba derrubou as ações da mineradora em Nova York e SP, como não poderia deixar de acontecer. O valor de mercado da mineradora chegou a recuar R$ 70 bilhões. Os prejuízos da companhia com as reparações de danos, pagamentos de indenizações, etc. ainda não são mensurados. Além das vidas ceifadas e dos prejuízos materiais dos atingidos, os danos serão grandes para seus investidores. A Vale estima gastos de R$ 5 bilhões só para desativar as barragens de rejeitos de alto risco.  O preço da tonelada do minério de ferro disparou e superou a barreira dos US$ 90 no início de fevereiro no mercado internacional devido às dificuldades que a Vale enfrentará para extrair o minério e embarcá-lo.

Serve com lição o caso Vale. Ao se investir em uma companhia não se pode ficar somente na análise das informações financeiras. É preciso verificar também o conjunto de sua produção, os riscos e o gerenciamento das atividades. Não se deve aplicar percentual elevado de recursos em uma companhia mesmo que ela ofereça elevado potencial de ganho.

Velhos conceitos da alma humana também devem ser observados. A ganância no mundo dos negócios acaba produzindo grandes prejuízos para empresas e comunidades envolvidas. O Estado de Minas Gerais é o grande prejudicado com a crise da Vale. Pior ainda, o Estado não possui lideranças nos setores público e privado para defender seus interesses e buscar a reparação dos prejuízos causados pela Vale.

*Fernando Soares Rodrigues – Jornalista especializado em economia e finanças

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