Tal como antecipado no início do ano, a recuperação dos mercados de ações concretizou-se em contrabalanço com o pânico do final do ano 2018, sustentada pela reviravolta da Fed relativamente às suas ambições de normalização monetária. O índice de ações MSCI Mundial subiu 11,21% nos dois primeiros meses do ano, anulando completamente a sua correção do último trimestre de 2018. Naturalmente, é uma questão de avaliar se esta recuperação tem boas hipóteses de continuar nos próximos meses.

O abrandamento econômico continua e os pontos fracos ainda persistem. Na litania de incertezas políticas da Europa aos Estados Unidos, até ao problema do sobre-endividamento num novo contexto de desaceleração do crescimento, os mercados poderiam encontrar em grande parte uma justificação para o regresso à prudência neste ano. No entanto, esta realidade pouco atrativa é aumentada, ou pelo menos mitigada, por um cenário central que se acalmou objetivamente face ao ano anterior. Os mercados reconheceram o abrandamento económico em curso, assim como os bancos centrais, agora libertados do seu compromisso de normalização monetária forçada. A colisão entre o ciclo económico e a política monetária constituiu o pano de fundo dos mercados para 2018. Tal não é o caso para este ano. O momento atual é de atonia, propício a mercados hesitantes, uma espécie de resgate lento e delicado após a colisão de 2018, e que exige estratégias de investimento menos direcionais, mais centradas na geração de alfa do que na gestão do beta.

Existem vários parâmetros políticos suscetíveis de afetar os mercados este ano: as negociações finais entre a Comissão Europeia e o Reino Unido sobre o Brexit, os últimos desenvolvimentos nas negociações comerciais entre os Estados Unidos e a China, as novas ameaças americanas às importações de automóveis alemães e as eleições europeias. Estes grandes desafios para a confiança e, por conseguinte, para o crescimento, entrarão nas suas fases decisivas nos próximos meses ou mesmo semanas. São, portanto, uma fonte de preocupação a curto prazo. No entanto, é sensato assumir que as estratégias baseadas no “pior dos casos”, que não beneficiam ninguém, acabarão por ser evitadas. Neste caso, embora não seja certamente sensato apostar na racionalidade das políticas, uma sucessão de modus vivendi, mesmo se instáveis, poderia permitir que os mercados continuassem a expressar algum alívio após meses de ansiedade. Porém, além de prazos muito curtos, a direção dos mercados em 2019 deverá regressar principalmente ao contexto económico, que entretanto se tornou particularmente fraco. Com efeito, o abrandamento mundial prossegue, para já, conforme previsto.

Nos Estados Unidos, a atividade do setor de construção permanece limitada e os indicadores da atividade industrial, tais como o índice Markit PMI industrial, que atingiu 53,7 em fevereiro, o seu nível mais baixo desde 2017, continuam mal orientados. Não obstante, enquanto a procura de serviços se mantém (os indicadores permaneceram relativamente estáveis desde há um ano), sustentada por um mercado de trabalho ainda resiliente, espera-se que a economia em geral registe apenas um abrandamento moderado. Esta perspetiva é agora reforçada pelo recente apoio da FED, cujo dogma de normalização se transformou subitamente num receio expresso da pressão dos mercados e num crescente desinteresse pelos indicadores de inflação de curto prazo.

Além disso, os resultados das negociações comerciais com a China poderão fornecer um apoio concreto à confiança e ao investimento. Este resultado continua certamente sujeito ao difícil equilíbrio a encontrar entre um confronto ideológico a longo prazo e um interesse mútuo por um acordo que mantenha as aparências de ambas as partes e evite a autoflagelação económica. Mas o abrandamento americano, a aproximação das próximas eleições presidenciais e a fragilidade dos mercados observada em dezembro passado aumentam a probabilidade de um "deal" pelo menos aparentemente satisfatório para ambos os protagonistas.

Na Europa, as estatísticas económicas publicadas em fevereiro, tais como o indicador Markit PMI industrial, que caiu abaixo do nível de 50, confirmam que o abrandamento no final do ano passado não foi reduzido unicamente à  produção de automóveis alemães, temporariamente penalizada pela adaptação às novas normas WLTP relativas à emissão de CO2. É certo que agravamento desta tendência deveria certamente ser evitado através de um reforço do poder de compra dos consumidores, graças a uma melhoria efetiva dos salários e do emprego. Mas uma verdadeira estabilização exigirá uma recuperação da procura chinesa, que se anuncia modesta. O BCE não terá outra alternativa senão continuar a ser extremamente ponderado.

Com efeito, a China prossegue o seu percurso delicado (ver Nota da Carmignac de janeiro, "50 sombras negras") entre restrições de redução dos níveis de endividamento, pressões comerciais e abrandamento cíclico. As medidas tomadas para apoiar o consumo deverão permitir a estabilização do crescimento chinês ao longo do ano, sobretudo na eventualidade de um acordo comercial com os Estados Unidos. No entanto, estas medidas não constituirão certamente uma força impulsionadora das exportações europeias comparável à que beneficiou as exportações em 2016. Neste início do ano de 2019, a figura de uma aterragem mundial mais ou menos suave das economias mundiais começa a ganhar forma, temperada por políticas monetárias com ambições neutralizadas de aperto monetário.

Neste contexto, as perspetivas para os índices de ações poderão ser medíocres face aos níveis atuais, tendo em consideração os níveis médios de avaliação recuperados desde o início do ano e as perspetivas de crescimento dos resultados das empresas extremamente débeis. Em contrapartida, nesta fase de abrandamento, a dispersão dos desempenhos entre os títulos poderá revelar-se um vetor de desempenho muito significativo, ao contrário do observado em 2018, quando a avaliação da direção dos índices se revelou muito mais decisiva para o desempenho. Em particular, as ações de empresas com uma avaliação ainda razoável e capazes de defender as suas margens e de sustentar o seu crescimento deverão ser capazes de reclamar um prémio de qualidade significativo no fraco ambiente económico que antecipamos para este ano. Uma avaliação semelhante sobre a prioridade na geração de alfa este ano, em vez de  grandes apostas direcionais, aplica-se aos mercados obrigacionistas, em especial aos mercados de crédito.

Sobre a Carmignac

Fundada em 1989 por Edouard Carmignac e Eric Helderlé, a Carmignac é uma das principais gestoras de ativos da Europa. O capital da empresa é integralmente detido pelos seus gestores e funcionários. Essa estrutura acionária estável assegura a viabilidade da empresa para o futuro e reflete o seu espírito de independência. Esse valor fundamental garante a liberdade necessária para uma gestão bem-sucedida a longo prazo. Com mais de €60 bilhões* de ativos sob gestão, a Carmignac desenvolveu uma gama de 17 fundos de investimento que cobrem todas as classes de ativos – ações, títulos e diversificados – de forma a poder responder às expectativas dos investidores. Os fundos são comercializados ativamente em 11 países europeus: França, Luxemburgo, Suíça, Bélgica, Itália, Alemanha, Espanha, Holanda, Áustria, Suécia e Reino Unido. Como parte do seu desenvolvimento internacional, a Carmignac possui filiais em Luxemburgo e Frankfurt, escritórios em Madrid, Milão e Londres. Os seus fundos estão igualmente registrados em Singapura e Taiwan e destinam-se aos investidores profissionais. Para mais informações, acesse: www.carmignac.com

*Por Didier Saint-Georges – Membro do Comitê de Investimento

 

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