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     Wilson Renato Pereira

Jornalista, psicólogo e psicanalista
 
Os frequentadores assíduos de bares e outros ambientes dedicados à desconcentração e ao prazer de encontrar amigos ao sabor de uma boa conversa, sempre tiveram pavor de uma figura capaz de transformar esses locais numa verdadeira câmara de tortura. Pessoas desagradáveis são sempre incômodas em qualquer lugar, mas num botequim é demais, estraga uma boa breja e dá uma ressaca instantânea. Com o recente boom das cervejas especiais, artesanais ou importadas, e a maior difusão da cultura cervejeira, surgiu por aí um novo personagem: o cervochato, correspondente ao enochato, na área de vinhos, aquele capaz de ter sempre uma explicação ou comentário deslumbrado sobre os novos conhecimentos que adquire. Conheço bem a figura, pois, logo que comecei a descobrir as maravilhas das bebidas produzidas com técnica e ingredientes de qualidade, quase me tornei um deles, apesar das boas intenções (e quem não, um dia?). Lembro-me que, certa vez, fui num encontro de amigos levando algumas garrafas de cervejas artesanais e as coloquei na roda, não sem antes desfilar, orgulhoso, meus recentes conhecimentos sobre cevada, lúpulo, leveduras, estilos, com direito a dissertação sobre a história dessa bebida. Eles me ouviram pacientemente, provaram o que ofereci com educado e discreto assentimento (e uma indisfarçável careta) e mudaram de assunto logo depois, não sem antes pedir ao garçom as suas tradicionais Bohemia, Skol e Brahma. Foi uma boa lição, pois aprendi a guardar minha cervochatice para a plateia certa. Tudo tem seu tempo, lugar e necessidade, já dizia minha sábia avó. Os “experts” de botequim sobre qualquer assunto (futebol, política, ecologia etc), podem ser mesmo uns “malas” quando perdem o limite do bom senso. No caso das cervejas, sem ser solicitados, estão sempre prontos a criticar a temperatura das bebidas, o serviço de copos e taças, a harmonização com os pratos consumidos, a presença de adjuntos numa cerveja industrial e até a pronúncia dos nomes dos estilos. Por exemplo, as India Pale Ale (IPA) só podem ser chamadas de aipiei, como no inglês. O site americano Beer & Whiskey Brothers, citado pelo nosso Brejas, listou algumas dos mais recorrentes sintomas de cervochatice:
1) Recusar uma cerveja caso ela não seja servida no copo correto. 
2)Somente degustar uma cerveja pela primeira vez sozinho e num quarto escuro. 
3) Não servir as cervejas que os seus amigos trazem e sim apenas aquelas da sua (superior) seleção. 
4)Corrigir o garçom, sempre. 
5) Achar que a trapista belga Chimay se tornou “popular demais” para o seu paladar superior.
6) Não falar alemão mas fazer questão de mostrar que sabe p r o nu n c i a r corretamente a palavra Reinhe it s gebot (Lei da Pureza da Cerveja).
7) Sugerir marcas e estilos de cerveja a outros clientes no supermercado, sem eles pedirem. E, pior, criticar os rótulos que estão nos carrinhos de compras deles.
8) Numa festa, jamais beber cervejas “populares”.
9) Acreditar que nenhuma outra pessoa bebe cerveja do jeito certo. 
Mas tudo tem outro lado, felizmente. O cervochato, apesar dos pesares, tem o seu lugar e ajuda na difusão da cultura cervejeira, levando a consumidores ainda não “beerevangelizados” informações novas, úteis e que contribuam para apurar seu paladar. É uma questão de equilíbrio ser um cervochato do bem ou do mal, pois, como se diz por aí, tudo que é demais, sobra. Ou entorna, no caso. Mas, ao final, o importante é respeitar a paciência dos amigos para não perdê-los.
 
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