Artigo de Paulo Rabello de Castro
 
A pergunta está ficando frequente e a resposta continua difícil. Muita gente quer saber se vamos cruzar o caudal das incertezas atuais, especialmente no campo político, minado pela inexperiência gerencial do governo e de seus líderes para, finalmente, decolar na recuperação econômica que tanto esperamos. Como será o restante de 2019? Três aspectos ressaltam numa previsão tão complicada por fatores que se opõem. O setor produtivo – empresas e famílias – entra na conta com sinal positivo. Se depender da expectativa dos empresários e da disposição para o gasto das famílias, vamos crescer 3% ou mais. Mas aí vem o governo federal, de um lado, e o cenário externo, de outro; o primeiro, entrando com sinal negativo sobre as expectativas; e o lado externo, com influência neutra.
 
A mais recente avaliação do Ministério da Economia rebaixou o crescimento esperado de 2019 para 2,2%. Antes eram 2,5%. Nossa consultoria mantém os 2,5% porque enxerga o setor empresarial com gás para bem mais do que os 2.2% oficiais. O próprio governo se encarrega de derrubar o otimismo. No entanto, o aumento do emprego – com mais 173 mil vagas só em fevereiro e 211 mil no primeiro bimestre do ano – é fato auspicioso que ressalta a inclinação positiva e ascendente da economia. O que estaria, então, o governo vendo de tão negativo, talvez enxergando a si mesmo no espelho? O Brasil não tem problemas novos; os que temos, estão mapeados há muito tempo. A doença nova do País não existe. Sabemos que o governo também não é a cura; aliás, ele é a própria doença. O diagnóstico está feito. Dai estranhar que o governo se assuste com o mega-déficit fiscal de R$139 bi deste ano – número requentado – ou a dificuldade esperada de aprovar seu texto de reforma da previdência, que não mobiliza nem empolga a opinião pública; ou ainda, a estagnação do investimento público, que decorre do total engessamento das contas do governo. É isso, e apenas isso, que atrapalha uma previsão mais otimista – de 3% ou mais de crescimento do PIB em 2019. Que pena! Poderia ser diferente se o time em Brasília soubesse se posicionar melhor em campo, adotar uma tática de jogo séria e parar de se confundir com os ruídos e gritos da torcida.
 
Mas tem boa notícia no ar. Se o lado federal está confuso, as 27 parcelas estaduais, silenciosamente, mais adicionam do que subtraem ao PIB nacional. Devemos prestar mais atenção ao que se passa no nível dos estados e municípios. Há muitos dirigentes políticos, nesses níveis de governo, com ótimos planos e boas equipes. Nem tudo é Brasília no Brasil (só quase tudo…). Os governadores, recém chegados, querem muito acertar o passo. O erro deles será contar com Brasília para acudir com recursos e pronto-socorro financeiro. Quem cuidar de si, sem esperar o milagre que não virá, sairá na frente. Cito, por exemplo, Paraná, Pará e Mato Grosso, que tomaram medidas enérgicas desde o primeiro dia. Mas há vários outros bons exemplos de gestão eficiente que deixo de aqui mencionar.
 
E não é só isso. A safra de grãos que está sendo colhida agora (230,7 mil toneladas, pelo IBGE) é um espetáculo. Quando o interior vai bem, aumenta o consumo nas cidades. Com inflação moderada e juros estáveis (ainda que indecentemente altos) a economia invisível dos pequenos e grandes negócios privados se movimentará mais e o reflexo positivo sobre os empregos e a renda já começa a ser sentido. Precisamos nos desapegar um pouco do noticiário poluído pelas notícias sufocantes de violência e corrupção, com seus atores truculentos e desprezíveis. Nosso sentimento de impotência, diante do que não podemos mudar, é um exterminador de PIB porque nos empurra para baixo. A reação tem que vir da própria sociedade, tocando a bola para frente, sem deixar repercutir a algazarra doentia do noticiário. Quanto ao mundo político, este é o que é. Não há velha nem nova, apenas a sempre política. Quem a faz melhor ou pior são os personagens da peça.
 
(*) Paulo Rabello de Castro é economista e escritor. Autor do best-seller O MITO DO GOVERNO GRÁTIS e outras obras.
 
 
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