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Na sala de espera para o exame ergométrico, encontro Alexandre Paulineli, que, dez anos antes, tivera uma “esquimiazinha”. Lembra as eleições de 1986, Itamar e Aécio Cunha disputando com Newton e Júnia Marise o governo estadual, seu pai eleito deputado federal constituinte com mais de 50.000 votos.
Havia um comício em Lavras, previsto para as nove da noite, para o qual Itamar iria de São João Del Rei, depois de um encontro com prefeitos. O encontro deveria terminar por volta de sete, mas se arrastou até as nove. Os quase cem quilômetros até Lavras podiam ser vencidos em pouco mais de uma hora, atraso compreensível numa situação de campanha. O grupo se animava com o resultado de uma pesquisa em que Itamar pela primeira vez aparecia à frente de Newton.
Quando avistaram luzes se aproximando, Itamar perguntou o nome do lugar. “São Sebastião da Vitória”, explicou alguém, improvisado em guia turístico: “É um dos cinco distritos de São João Del Rei. Como é comum entre nós, doutor Itamar, o povoado se formou em torno de pequena capela, o nome homenageia o santo que nos protege contra a fome, a peste e a guerra; e ‘da Vitória’ é por causa da guerra dos emboabas”.
Quando ia falar do Festival do Pão de Queijo, o povo na rua ao som da banda de música, Itamar ordenou: “Para! Para!”.
Mesmo sem entender, Alexandre Paulinelli, que atuava como motorista, obedeceu imediatamente.
“O padre daqui é poderoso e milagreiro.
Tancredo nunca passava aqui sem pedir a bênção dele”, explicou Itamar. Ruas vazias, casas fechadas, pararam no acostamento, esperando aparecer alguém. Quando, finalmente, um morador notívago mostrou a casa, bateram, bateram, receosos de ser muito tarde. Afinal, passava das dez da noite. Mas o padre apareceu, cauteloso, atrás da porta entreaberta – um homem grande, numa batina branca. Olhou, intrigado, perguntou quem era. “É o Itamar, padre: doutor Itamar Franco”, responderam. Com ar de dúvida, ele abriu, indicou cadeiras, foi coar um café.
Itamar foi à cozinha, falou da recomendação de Tancredo. Padre Antônio murmurou encabulada bênção e disse: “Essa fama de milagreiro me prejudica demais, não tem nada disso não. Mas não precisa se preocupar, meu filho, o lugar do Tancredo está reservadinho pra você”. Abençoado, café tomado, pegaram a estrada.
Quando Itamar contou o que o padre havia dito, houve uma certeza: o lugar de Tancredo no Palácio da Liberdade estava garantido.
O comício em Lavras foi um fracasso. Perto de meia-noite, sem recurso para um show que segurasse o povo, Itamar, supostamente vitorioso, falou para meia dúzia de gatos pingados. Newton elegeu-se governador, padre Antônio faleceu dois anos depois, sem ver cumprirse, por linhas tortas, sua profecia: Itamar, no palácio do Planalto, assumiu o posto que Tancredo não chegou a ocupar. Dias depois de nossa conversa, Alexandre liga com novidades.
Pesquisando na internet, descobriu que Tancredo referia-se era a Padre Miguel, famoso por suas virtudes e famoso milagreiro, com processo de beatificação em andamento. 
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