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José Marcos Carvalho de Oliveira

Escritor, radicado em Sunrise, Flórida, Estados Unidos

 

“Com efeito o ser humano, ponto de encontro entre o espiritual e o material, entre o celeste e o terreno, é um Templo Vivo, pois é no seu próprio âmago que a pedra bruta se transforma em Pedra Filosofal, última etapa da Realização Interior.”

De um membro anônimo da Ordem Rosacruz-AMORC

Eram 5h30 da tarde do dia 09 de julho de 2015 quando o ônibus da ‘Helinho Turismo’ saiu de uma das ruas laterais da Praça da Estação, em Belo Horizonte.

Éramos vinte e cinco passageiros, entre eles meu primo Júlio Araújo Teixeira e minha irmã Telma. Eram dois motoristas e eles iriam se revezar durante a viagem.  As passagens de ida e volta custaram R$ 300,00. Ainda conosco estava o Helinho, médium e coordenador da viagem. Dirigíamo-nos a Abadiânia, cidade do interior de Goiás, com cerca de 18.000 habitantes (censo de 2013), onde o internacionalmente reconhecido médium e curador João de Deus nos receberia. Cada viajante tinha um problema de saúde, e a ele iríamos pedir sua intercessão. A viagem seria de aproximadamente treze horas, intercalada por paradas em três cidades. Antes de entrarmos no ônibus, ficamos cientes de que os números 5, 6 e 7 das poltronas estariam reservadas a nós, e eu já antecipara que o número 5 pertenceria a mim. Esse número significa proteção divina.


Nem bem sentamos, senti uma energia muito positiva, forte, pairando no interior do veículo. Senti-me envolvido por ela, e sua intensidade era tão marcante que de repente lágrimas afloraram em meus olhos e fui possuído de uma emoção indescritível e prazeirosa. Telma, sentada ao meu lado, percebeu meu estado emocional, bem como Júlio, que estava sentado numa poltrona individualizada à nossa direita. Não falaram nada. Entenderam, simplesmente. Telma me ofereceu um lenço de papel. Uma música suave tocava, cantada por uma voz feminina mas, por mais que tentasse, não conseguia entender a letra. Num dado momento, falei para ela: “isso é um Templo ambulante, pura energia…”
 

Ao iniciarmos a viagem, Helinho se apossou de um microfone e começou a dar várias instruções. Não estávamos ali a turismo, por diversão, nem para conhecermos lugares interessantes, mas, ao contrário, estávamos à busca de uma cura para determinada enfermidade para nós ou para alguém do nosso relacionamento. Portanto, o percurso deveria ser feito em silêncio, de maneira que as entidades celestiais começassem antecipadamente a trabalhar em nós. O silêncio, a meditação e a oração seriam as ferramentas das quais disporíamos até chegar ao destino. Estavam previstas três paradas para descansar e comer alguma coisa. Qualquer dúvida ou pergunta poderia ser feita a ele durante o trajeto. A partir desse momento passou então a rezar o Pai Nosso, mas de uma maneira tão diferente que percebi que suas palavras caíam profundamente dentro de mim, podendo absorvê-las com clareza e compreendendo melhor o significado da oração ensinada pelo Grande Mestre em seu Sermão da Montanha. À medida que Helinho rezava, eu assim meditava:


– ‘Pai Nosso, que estais no céu’: eu estava suplicando pela Sua ajuda, que se situa acima de nós;
– ‘Santificado seja o Vosso nome’: reverencio a Sua majestade, o Seu nome eterno e bendito;
– ‘Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu’: sua onisciência, onipotência e onipresença devem ser louvadas por serem únicas, em todo o infinito;
– ‘O pão nosso de cada dia, nos dai hoje’:  um pedido para que sempre sejamos alimentados, material e espiritualmente;
– ‘Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’:  revelando a importância do perdão, que sejamos cuidados, pois abriremos nosso coração também para aqueles a quem fizemos o mal;
–  ‘Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal’: que não caiamos no pecado, na matéria impura, mas nos ajude a desvencilhar dela;
– ‘Amém’: que tudo o que louvamos e pedimos seja concretizado agora, se assim o merecermos.


O mesmo aconteceu com a Ave Maria que se seguiu. Não era uma coisa automática, rápida, mas os vocábulos tinham sentido, eram belos e comovedores. Mesmo com o balanço do ônibus, Helinho se mantinha de pé, como se amparado por mãos invisíveis. Ele manifestara que ali estávamos seguros, que nada aconteceria, pois a bandeira de Dom Inácio de Loyola estava desfraldada no teto do ônibus (Dom Inácio de Loyola é uma das entidades incorporadas por João de Deus).  Considerei a simbologia muito bonita. Nós éramos peregrinos, protegidos. Helinho olhava ocasionalmente para mim… Minhas lágrimas continuavam lentas, mas inexplicavelmente alegres.


A viagem seguia tranquila, num silêncio total. A escuridão dominava o exterior, sendo diluída apenas quando um veículo em sentido contrário passava com os faróis ligados. Observei que o nosso motorista, nesses casos, abaixava os faróis do nosso ônibus. Uma maneira delicada de demonstrar a harmonia da nossa peregrinação. Exatamente no horário marcado por Helinho, cerca de uma hora e meia depois, paramos num restaurante de beira de estrada. Vendo que nosso coordenador estava um pouco afastado, aproximei-me e disse-lhe:


– Helinho, há tempos queria vir dos Estados Unidos para estar com o João de Deus. No entanto, várias coisas estavam impedindo-me. Já estava até considerando que não viria mais; porém aqui estou.
– Vou arranjar uma maneira de você estar com a entidade… – respondeu-me calidamente.
A “entidade” mencionada por ele referia-se à incorporação espiritual a ser feita no João de Deus.
Após passar os minutos prescritos de descanso, embarcamos novamente. Como sempre, o coordenador nos deu novas explicações, rezamos o Pai Nosso, a Ave Maria e seguimos viagem. O silêncio imperava. Consegui dormir umas duas horas, mas não me sentia cansado nem ansioso por chegar. Meus pensamentos voavam, sem concentração em nada… Tinha certeza absoluta que iríamos chegar bem. Fizemos mais duas paradas, todas dentro dos horários previstos.


Às 6h10 da manhã do dia 10 de julho chegamos em Abadiânia. Telma e eu desembarcamos rente à Pousada do Gaúcho, e um quarto foi proporcionado a nós, por R$ 50,00 a diária. Júlio não ficou conosco. Eu quis tomar um banho rápido. Depois, deitei-me, apenas com o intuito de descansar um pouco. Depois de colocarmos roupa e sapatos brancos, tomamos um suculento café da manhã e nos dirigimos, às 8h10 da manhã, para a Casa Dom Inácio de Loyola, “a casa”, como é normalmente chamada. Ela é conhecida como um hospital espiritual, que dá assistência física e espiritual aos enfermos.


A casa fica no final de uma rua estreita, cercada por lojas que vendem os mais variados produtos, todos voltados para a obra espiritual de João de Deus. Roupas brancas, cristais diversos, livros em várias línguas, artigos esotéricos, tudo isso compõe o interior desses estabelecimentos. O sol já despontara e seus raios incidiam diretamente sobre nós, dificultando um pouco a visão.  Era inverno, mas não fazia frio. Ao final da rua, à esquerda, deparamos com a Casa Dom Inácio de Loyola, toda branca, bem como seus anexos. Júlio já esperava por nós. Uma grande quantidade de pessoas encaminhava-se para um salão enorme, quase na extremidade da casa. Para lá fomos. Antes, no entanto, tivemos de adquirir fichas identificativas das vezes que tínhamos ido até à casa. No meu caso, obtive uma ficha azul, revelando que havia estado lá mais de uma vez. Segundo os critérios, já fora representado anteriormente pelo Helinho e pelo Júlio, mediante uma foto que havia a eles enviado. Mas, de fato, fisicamente era a primeira vez.


Tudo ali estava muito bem organizado, limpo e de uma cadência uniforme. Não há sobressaltos para nada.


O salão estava tomado por pessoas vestidas de branco. Muitas delas sentadas, outras em pé. O silêncio era quebrado apenas pelos locutores que se apresentavam numa espécie de tablado, situado bem ao fundo. Os movimentos das pessoas dentro do salão eram delicados, respeitando aquele ambiente sagrado. Júlio e eu fomos para a lateral direita, onde não havia tanta gente, enquanto Telma permaneceu logo na entrada. Os locutores faziam orações, cantavam e comentavam sobre a importância da ajuda oferecida por João de Deus, e davam instruções gerais. Falavam em português, inglês, alemão e espanhol. Tudo era natural, sem fanatismos. Percebia-se muita harmonia em todo o entorno.


No lado superior esquerdo da parede havia um grande telão com cenas de cirurgias, que são classificadas em visíveis e invisíveis. As primeiras consistem em incisões, às vezes com indício de sangue. Nas segundas, como o próprio nome indica, não há sinais de sangue. Num dado momento, aparece João de Deus saindo de um salão (por onde eu passaria mais tarde). João de Deus, cujo nome correto é João Teixeira de Faria, nasceu em 24 de julho de 1942. É analfabeto, foi garimpeiro e nasceu no estado de Goiás. Sereno, de cabeça baixa, conversa com alguns dos médiums que estavam ao seu lado. Nota-se um grande respeito ou mesmo veneração por ele. Pelos meus cálculos, eu estaria a cerca de 50 metros dele, tendo uma boa visão de tudo o que acontecia. Ele então se dirige às pessoas ou pacientes que estavam mais próximos e passa a dar certas ordens:


– Você, pode entrar!
– Você, de blusa marron, não precisa ter intervenção hoje! (“intervenção” vem a ser a cirurgia espiritual)
– Você, volte mais tarde (normalmente o paciente deve voltar às 2h da tarde)
– Você, fique aqui!
Fica claro que há uma entidade espiritual falando pela boca e gestos dele. Somos informados depois que a entidade é Dom Inácio de Loyola (1491-1556).

Dom Inácio de Loyola nasceu no País Basco, Espanha. Foi fundador da Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como jesuítas. É a maior ordem religiosa católica do mundo. Ele é autor dos Exercícios espirituais, que são, segundo ele mesmo, “qualquer modo de examinar a consciência, meditar, contemplar, orar vocal ou mentalmente e outras atividades espirituais”. João de Deus atende alguns pacientes em cadeiras de rodas e continua a dar ordens aos seus colaboradores que se encontram ao seu lado. Então, vira-se para uma senhora que está atrás dele. Um assistente se aproxima com uma bandeja de prata e João de Deus pega, com a mão direita, um tipo de estilete da mesma cor da bandeja. A senhora abre a boca e ele enfia o estilete, vagarosamente, no interior da sua boca. Quando o estilete está todo enfiado, ele faz uns movimentos bruscos e rápidos sobre o nariz da mulher, mas sem tocá-lo. A senhora continua impávida, como se nada estivesse acontecendo. Então, lentamente, ele começa a retirar o estilete da boca dela.


Já completamente fora da boca, vejo um tipo de esponja de uns 5 cm de tamanho e espessura, preso ao final do estilete! Não há sangue e nenhum fluido escapa do estilete. Um assistente se aproxima de João de Deus, e ele, vagarosamente, coloca na bandeja o estilete e esse material orgânico. Um outro assistente se aproxima com uma toalha branca, e João de Deus limpa suas mãos. Não há sangue. Não me contive e exprimo um “Nossa!” e coloco a mão na boca. Um rapaz se aproxima com uma cadeira de rodas, a senhora se assenta ainda de olhos fechados, como se nada tivesse acontecido, e o rapaz empurra a cadeira para fora do tablado.


Logo a seguir, os locutores chamam mais alguns pacientes e vejo que Helinho, já com um jaleco médico, sobe ao tablado e fica perto de João de Deus. Dentro de alguns minutos, um locutor pede que todos “aqueles que vieram com o Helinho de Belo Horizonte, portadores de fichas azuis, que se aproximem”. Júlio me diz: “somos nós, vamos”. Pedimos licença em voz baixa às pessoas e encaminhamo-nos para o centro do salão. À minha frente está o meu primo e outras pessoas, e pressinto que existem mais pessoas atrás de mim. Tudo continua a ser muito bem organizado, com as médiuns recolhendo as fichas.
 

Chega a minha vez e entrego a ficha azul. A médium sinaliza que devo encaminhar-me para um salão. Caminho em passos lentos. Ao chegar na dobra direita do tablado, vejo que Helinho cochicha algo no ouvido de João de Deus e ambos se dirigem pausadamente em minha direção. João de Deus se adianta a Helinho e estende a mão a mim, sem dizer nada. Automaticamente, estendo minha mão direita, cumprimentando-o e digo: “Queria muito te conhecer, João de Deus…”. Ele não me responde. Vejo que tem olhos verdes ou azuis, não distingui muito bem. Ele se volta, e retorna para o meio do tablado. Entro em um salão, onde uma médium me entrega um papelzinho branco, com sinais ininteligíveis. Seria a receita dada a mim por João de Deus. A emoção uma vez mais se apossa de mim. As lágrimas fluem. As médiuns indicam para que eu me sente numa fileira de bancos, como de igrejas, no penúltimo banco. Ao percorrer o salão, vejo que tanto do lado esquerdo como do lado direito existem cerca de quinze ou mais médiuns de cada lado, sentados em cadeiras de espaldar alto, em intensa meditação. Todos de branco, nas mais variadas posições. Sinto que efetivamente estou adentrando a um outro plano que não é o do nosso planeta. Ouço uma música de Beethoven tocar ao fundo. Sento-me no lugar determinado por uma médium que está ao meu lado. Ela orienta fechar os olhos e colocar a mão direita sobre o local do corpo que necessita ser curado. Coloco minha mão direita sobre os pulmões. As lágrimas continuam a correr sobre minha face… Tão logo sentei-me, ouço a música ‘Air on the G String’ de Beethoven, a qual tocava no Templo da Ordem Rosacruz-Amorc, em Miami, quando eu exercia as funções de capelão. Aí, não tive dúvidas de que além das entidades celestiais e falanges presentes, os meus guias e protetores da Ordem também estavam comigo…


Enquanto as lágrimas insistiam em escorrer, eu agradeço, e agradeço muito… João de Deus entra no salão, e dá algumas ordens a seus assistentes, inclusive a Helinho e à medium que estava ao meu lado. No caso dela, ele veio até a ela, pegou-a pela mão direita e a levou ao início dos bancos e, pedindo que rodopiasse, ela retornou ao meu lado. Todo o tempo que permaneceu ao meu lado, ela rezou em voz alta o Pai Nosso e a Ave Maria. Somos, então, orientados a sair. Em fila indiana, em total silêncio, dirigimo-nos ao jardim da casa. Aproximamo-nos frente a uma médium, que explica termos tido uma intervenção espiritual ou cirurgia espiritual. Até então eu não o sabia.


Quase ao final do jardim, a médium encarregada de nos acolher e instruir, dizia que por termos tido uma intervenção espiritual, teríamos de passar por um tratamento, bem como seria necessário tomarmos alguns cuidados. O tratamento consistiria na compra de medicamentos e de uma água fluidificada (reenergizada) que deveria ser adquirida na farmácia da casa. Os medicamentos são pílulas para ser tomadas com a água. E que nessa água, quando estivesse acabando, poderia ser colocada outra natural, para dar continuidade à original. Os tratamentos prescritos foram:
. Durante vinte e quatro horas: repouso, não andar debaixo de sol, não pegar peso com mais de 5 quilos,
. Não tomar bebida alcoólica durante a ingestão dos remédios, não comer ovos caipira, não comer pimenta,  
. Manter abstinência sexual por quarenta dias,
.  Retornar entre sessenta e noventa dias,


Caberia, ainda, observar o seguinte:
. Como estava prevista a queda dos pontos em uma semana, recomendava-se um dia antes de deixar um vaso de água junto à cama e deitar-se de branco e dormir cedo,
. No dia seguinte pela manhã beber a água indicada, agradecendo e sentindo a força da cura.


Há sugestão para não retornamos ao primeiro salão, a fim de não absorvermos as energias de outras pessoas que serão recebidas por João de Deus. Enfatizam, ainda, a necessidade de tomarmos uma sopa tão logo saíssemos do jardim.


Muitas perguntas são feitas a ela que, calmamente, vai explicando-as com muita segurança. Quando noto que a maioria das pessoas são atendidas, dirijo-me a ela e lhe digo que tenho duas perguntas, uma de interesse público e outra particular. Ela me questiona sobre a primeira e digo-lhe que, como vivo no exterior, não tenho como retornar no tempo por ela previsto. Responde-me então que poderei ser representado por um parente consanguíneo ou alguém de minha confiança. No tocante à dúvida particular, ela sugere que eu me sente ao seu lado e que a faça quando todos tiverem saído. Quando a última pessoa saiu, pergunto-lhe se não poderia haver uma flexibilidade no tocante à extensão do prazo para o meu tratamento. Ela me responde peremptoriamente que não e, caso eu insista, eu deveria “conversar com a entidade e com Deus”.  Agradeço, e resolvo conversar com Helinho que, segundo meu primo, é mais flexível e me entenderá melhor. Busco por Helinho e, ao questionar-lhe, responde-me que ele tem poder e autorização das entidades para solucionar casos particulares, e que conversará com as entidades ao redor das duas horas da madrugada do dia 11, quando estivermos de regresso. E acrescenta que posso estar tranquilo que uma solução adequada virá.


Durante o período em que estive aguardando para conversar com a médium no jardim, escutei perguntas diversas que incluíam fatos que chamaram minha atenção. A grande maioria dos consulentes estava ali representando parentes ou amigos necessitados de uma cura. Esses consulentes tinham, então, de apresentar as fotos dos parentes ou amigos. Essas fotos poderiam ser entregues à médium ou, então, colocadas numa área ali perto, ao lado do que a mulher chamava de “triângulo”. Toda quarta-feira, às duas da madrugada, de posse dessas fotos, João de Deus invoca as entidades e pede auxílio em favor dessas pessoas. Um caso particular alertou-me. Um senhor de seus sessenta e poucos anos informou que chegara à casa com um tipo de bengala, e que ao sair da casa não a encontrara. A médium respondeu que ele havia tido uma intervenção espiritual e que sua bengala estava na recepção. Ele então retrucou que iria lá buscá-la. Cambaleando um pouco, distanciou-se e alguns minutos depois estava se apoiando na bengala, andando pelos arredores. Sem querer fazer julgamento precipitado, pareceu-me estranho a sua atitude pelo fato de não querer continuar sem a bengala…


Fui então tomar a sopa recomendada, a qual é oferecida de graça e é feita de macarrão e vegetais. A cozinha é grande, e todos os atendentes são muito corteses. Quando acabo de tomá-la, um voluntário, rapaz simpático, cantarolando um samba, aproxima-se de mim para retirar o prato. Diz-me que a vida é bela, e me dá um abraço caloroso. Mais tarde Helinho me informa que, quando a famosa empresária de TV e bilionária americana Oprah Winfrey esteve com João de Deus, ela doou cerca de 500 mil dólares para a manutenção da sopa. Daí, entrei na fila para adquirir meus remédios e a água fluidificada. Munido da receita indecifrável, como comentei antes, apresentei-a à moça que estava no guichê. De imediato ela entregou-me duas caixas, uma menor contendo 35 cápsulas e outra maior com 175, ao preço total de 60 reais (18 dólares aproximadamente). A recomendação anterior da médium era para que tomasse primeiro a de 35. Leio a bula e constato que é um produto fitoterápico feito à base de passiflora. A passiflora é uma planta, cujo fruto é o maracujá, e o Brasil é o seu maior produtor. Vou a outro guichê e adquiro a garrafinha de água, que saiu ao custo de 2 reais (menos de um dólar).
 

 

Passeio então pelas adjacências da casa, muito verdejante, tudo muito calmo. Vou a uma área coberta, onde várias pessoas estão meditando ou lendo. Ao fundo descortina-se uma visão bonita, com uma elevação montanhosa. Tem-se a impressão de ser uma cena de cartão postal, onde o verde é a cor predominante.


Já com o sol forte, apesar de inverno, retorno com meus parentes à Pousada. Ao meio-dia, a casa fecha.  Descansamos um pouco e depois saímos para almoçar em um restaurante que oferece saladas e comidas quentes variadas. Andamos por entre as lojas, compro alguns presentinhos e retornamos à Pousada. Fiquei conversando com o o proprietário e sua esposa, ele, gaúcho, e ela, carioca. Residem na cidade por terem obtido uma graça da entidade e, como retribuição, decidiram ali permanecer e recebendo os vários visitantes.


Cerca de 5 da tarde do dia 10 de julho já estamos ao lado do ônibus que nos levará de retorno a Belo Horizonte. Ao redor das 6 da tarde reiniciamos a viagem. Helinho, como sempre muito solícito e falante, esclarece muita coisa. Diz-nos que é a primeira vez que Dom Inácio de Loyola havia autorizado que as pessoas que estavam em seu ônibus fossem as primeiras a se apresentarem; e que muitos dos que estavam no veículo tinham tido a respectiva intervenção por essa entidade. É visível o contentamento de Helinho, exprimindo a todo momento esse privilégio. Ainda no início da viagem, somos orientados de que alguns poderiam vir a ter alguns efeitos colaterais devido à intervenção. E isso se faz notar quase de imediato. Uma senhora, com problemas de locomoção, ressalta que está sentindo dores no corpo, e um senhor sentado mais ao fundo entra num processo febril. Uma passageira no assento detrás do nosso, diz que está com uma certa queimação no braço direito. E ela se surpreende porque fora à casa para pedir ajuda a um parente que sofrera traumatismo craniano. Acrescenta que os médicos estavam temerosos de operá-lo devido à sua situação delicada. Helinho explica então que, quando no salão de intervenções, as entidades diagnosticaram um problema no ombro dela e houveram por bem fazer uma intervenção. Aí estava, então, a razão do formigamento e de uma certa dor no seu ombro. Mais tarde, ainda no ônibus, soubemos que os médicos em Belo Horizonte haviam deliberado fazer a cirurgia no cérebro do seu parente… No meu caso, não senti nada de especial. Minha irmã Telma inclusive comentou: “você é o único que não está sentindo nada…”.


O ônibus faz duas paradas antes de chegar ao destino. Na segunda, consulto Helinho como ficará o meu tratamento. Ele confirma que recebeu das entidades a instrução que devo iniciá-lo apenas no dia 01 de agosto, quando já estiver em Miami. Na realidade, cheguei aos Estados Unidos no dia 23 de julho e, no dia 25, iniciei os procedimentos prescritos.


A viagem transcorreu normalmente, serenidade entrecortada apenas pelo roncar do motor do ônibus. Quase uma hora após termos saído de Abadiânia, Brasília se descortinou ao longe. Sua silhueta era como a de um istmo, longitudinal, delgada. Sua iluminação ressalta essa imagem, a qual nos acompanhou por alguns minutos. Não houve flashes de câmeras fotográficas nem nada. Apenas escutou-se murmúrios: “Brasília? Que bonita…”. O sentido espiritual da viagem não permite grandes assomos… Chegamos à capital mineira ao redor das 7 horas da manhã do dia 11 de julho de 2015, dentro do horário previsto. Não há cansaço, não há sono, apenas a certeza de que tudo correu bem e de que estamos sob muitas bênçãos protetoras. As despedidas ocorreram sobriamente. Pairou no ar a certeza de que nos encontraremos num futuro não muito distante, pois os laços recém atados ultrapassam as fronteiras do aqui e agora…
 

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