Nesta semana, o mercado mundial confirmou o que já desconfiava por semanas: a mudança de tom das atas do Fed, Banco Central americano. Neste contexto, o Banco Central se posicionou de forma mais clara e manifestou que não vê motivos para novos aumentos de juros em 2019. Em 2018, foram 4 aumentos, e esta mudança de posicionamento, caso se consolide, encerrará um ciclo de aumentos sucessivos dos últimos três anos. O Fed está enxergando uma desaceleração no crescimento econômico, uma menor pressão inflacionária e a economia bastante saudável, com expectativa de crescimento neste ano de cerca de 2%. O mercado de emprego está muito forte, e a economia vem gerando novas vagas. Este tom “dovish”, termo no inglês usado para determinar um tom mais positivo, menos preocupado, traz reflexos tanto para os Estados Unidos bem como o resto do mundo e Brasil.

Quais as principais consequências para os Estados Unidos?
No mercado financeiro, esta notícia, juntamente com uma possível redução das tensões entre os EUA e a China, vem ajudando as ações no mercado americano a recuperarem suas altas após a forte queda em dezembro de 2018. Os investidores temiam que o Fed continuasse aumentando as taxas e, devido a uma economia em desaceleração, talvez mergulhasse a nação em uma recessão. Mas desde a baixa de dezembro do ano passado, o S & P 500 avançou mais do que 15%.

Na economia real, uma estabilização na taxa de juros traz consequências positivas para as empresas, pois o custo de empréstimos se manterá estável e não irá desestimular os empresários com juros maiores. O mesmo reflexo acontece com os consumidores que, ao ver a taxa de juros em níveis estáveis, mantêm o apetite para o consumo. As taxas de inadimplência do mercado, por sua vez, tendem a se manter no mesmo patamar, criando um efeito positivo em toda a economia.

A taxa de referência, Fed Fund Rate ou taxa básica, pode afetar os consumidores, aumentando os custos dos empréstimos. Isso inclui itens como taxas de empréstimo de automóveis e hipoteca fixas de 30 anos; mesmo uma taxa ligeiramente menor para ambos pode significar milhares de dólares em economia para os consumidores.
Na questão da moeda, a tendência é que o dólar perca atratividade perante o pacote de moedas das economias desenvolvidas e também dos mercados emergentes. A paridade dólar versus euro está atingindo as mínimas.

O risco maior de tudo isto é que o Fed esteja interpretando todo o cenário de forma equivocada e/ou esteja sob pressão do presidente Trump, principalmente na questão de inflação. Já aconteceu antes, tal como em 2000, onde as atas mostraram que os formuladores de políticas do Fed minimizaram indícios de problemas entre as empresas pontocom e acabaram tendo que fazer um corte de emergência de 0,5 ponto percentual quando o setor de tecnologia implodiu. A mesma interpretação equivocada ocorreu em meados de 2007, em meio a sinais de que o mercado hipotecário de alto risco estava se desintegrando. Alguns críticos inclusive comentam que o Fed está "continuando a lamentável tradição" estabelecida por seus antecessores de "destacado distanciamento da economia real".

Mas independente das críticas e riscos, essa decisão foi aplaudida por investidores em Wall Street e no resto do mundo. Significa expectativa de reflexos positivos e empurra para pelo menos 2020 que a economia mundial encare uma desaceleração forte dos Estados Unidos, com consequências imprevisíveis.

E o Brasil?

Essa notícia é um impulso positivo para a economia brasileira. Primeiramente, caso a reforma da previdência seja aprovada e gere economia de gastos, conforme a expectativa, abre uma possibilidade grande de buscar uma taxa Selic a patamares inferiores. Alguns economistas inclusive já projetam algo abaixo de 6% ao ano. Com a taxa básica nos Estados Unidos estável e sem expectativa de novos incrementos, cria estímulo ao Bacen de redução da Selic e evita o risco de estar reduzindo a taxa em um momento de subida de juros nos Estados Unidos, reduzindo o spread entre as economias e trazendo perda de atratividade. Ao mesmo nível de taxa Estados Unidos e Brasil, estimularia o investidor estrangeiro a não vir para o Brasil e ainda criaria uma forte demanda do investidor brasileiro em investir em ativos fora do Brasil.
Um segundo aspecto, logicamente caso o Brasil faça seu dever de casa e aprove a previdência, é que os investidores internacionais perdem estímulo de manter os seus recursos nos Estados Unidos, que já paga uma taxa baixa e não tem expectativas de incrementos. Neste contexto, com um programa de privatizações à frente, estímulo de recursos externos e possibilidade de fluxo de recursos são muito bem-vindos.
Concluindo, a decisão do Fed é muito importante neste momento do Brasil e pode vir a impactar positivamente na nossa economia, com reflexos em fluxo de recursos, câmbio, e mercado financeiro em geral.

Sobre a Belvedere Investimentos

A Belvedere Investimentos é parte do Grupo Belvedere, criada em 2014 como uma partnership de sócios oriundos do mercado financeiro e de capitais. O grupo tem sede nos Estados Unidos, e operações em Portugal e Brasil, e possui participações no setor financeiro atuando como em setores tais como wealth management, corporate & investment banking, corretora de valores e gestora de patrimônio (asset management).
No Brasil, a Belvedere Investimentos é uma gestora de recursos que possui escritórios em cinco capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória e Recife. Com o objetivo de administrar investimentos de seus clientes no mercado financeiro no Brasil ou no exterior, é voltada a quem busca gestão customizada de investimentos líquidos e ilíquidos, passivo ou ativo. Atualmente, administra cerca de R$ 4 bilhões de seus clientes. Sua operação no território brasileiro representa cerca de 40% das receitas da operação do Grupo. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), a Belvedere é uma das gestoras de recursos que mais cresce no país.

* Sócio do grupo Belvedere Capital e CEO da Belvedere Capital Advisors
 
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