“Não podemos, não devemos e não queremos continuar nação de importância secundária, vivendo na dependência da exportação de produtos primários.
Tornando o tema do desenvolvimento o principal de todos os meus pronunciamentos, creio interpretar com exatidão um estado de ânimo do povo brasileiro, ansioso por encontrar o justo caminho de seu destino.
Em relação ao Brasil, às suas possibilidades, à sua grandeza territorial, forçoso é concluir que as metas do meu governo não passam de um começo, de um marco apenas, de uma arrancada básica.
Não falo como um visionário — embora não me repugne ser considerado um visionário — mas como brasileiro e realista, como alguém que sabe o que afirma.
Falo como um homem que tomou contato com esta imensa nação, que a percorreu em todas as suas direções, que auscultou a opinião pública das capitais e dos lugares mais humildes, esquecidos e modestos; que palmilhou sítios ínvios e recolheu um anseio profundo, por vezes rudemente manifestado, quase direi informulado, em favor de um Brasil livre dos obstáculos que impedem a sua marcha para o futuro.
Se não me tenho recusado a propagar a ideia do desenvolvimento e a emprestar-lhe toda a autoridade do meu cargo, é porque me sinto intérprete autorizado dessa aspiração permanente, é porque toquei nessa poderosa matéria-prima que é o Brasil, não o Brasil das grandes cidades, já configurado, mas o Brasil ainda irridento, ainda preso a um injusto cativeiro de pobreza.
Reputo mais importante do que qualquer outra medida de caráter prático esta, a de elucidar a opinião pública sobre a necessidade de dinamizarmos o país, de insuflarmos na alma brasileira a ambição da grandeza.
Insisto em que não temos o direito de ceder ao ócio; que é uma verdadeira inconsciência perdermos um tempo precioso em lutas sem sentido, quando se encontram em situação de atraso e de miséria zonas extensas do nosso território.
Para que logremos continuar com êxito a batalha do desenvolvimento, torna-se imprescindível desejar a colaboração estrangeira e incrementar o intercâmbio com o exterior.
Nosso primeiro dever, no entanto, consiste em nos pormos, nós próprios, a lutar pelos nossos interesses, confiando a nós mesmos as tarefas que reputamos essenciais e redentoras de nossa economia. O destino do país depende — sem falarmos dos desígnios da Providência — da soma de dedicação e trabalho dos habitantes desta terra imensa e rica em possibilidades.
Se quisermos ver reduzida a distância, infelizmente excessiva, que nos separa dos países desenvolvidos, não só teremos de madrugar no trabalho, mas ainda de empregar, com justo e compensador rendimento, as energias, tanta vez dispersas e esbanjadas a esmo.
Contamos com reservas de inteligência e capacidade de trabalho para uma empreitada como esta de acelerar o ritmo do nosso crescimento; manda, porém, a justiça reconhecermos as dificuldades do homem brasileiro do interior para que o seu trabalho tenha o rendimento requerido.
Não seria demais evocar a solidão em que viveram, até hoje, milhões de patrícios nossos, sem vias de comunicação, sem recursos técnicos, sem saúde, sem instrução e até sem alimentação suficiente. Se alinhássemos os índices de mortalidade precoce, se vos apresentássemos o balanço de tanta pobreza acumulada, só vos restaria admirar o valor, o patriotismo, a coragem com que, enfrentando condições contrárias, se afirmou a civilização brasileira.
Para vender, precisamos de produzir o que seja vendável, e nas melhores condições. Importa, para consolidar nossa base econômica, diversificar nossa produção, encontrar a via de acesso a um regime de mais ampla produtividade.
Essa tarefa, urgente, requer leal, profundo e efetivo entendimento entre o governo e as classes econômicas. Bem sabeis, vós todos, homens responsáveis que sois, vitoriosos na iniciativa privada, patriotas e idealistas, fautores do progresso nacional, bem sabeis que vivemos uma hora decisiva e que os caminhos do desenvolvimento se confundem com as estradas da segurança e da sobrevivência do país.
Se mantivermos apenas o presente ritmo de desenvolvimento, pouca esperança haverá de nos igualarmos um dia aos países altamente industrializados; e se nem esse ritmo insuficiente pudermos manter, nossa situação se tornará verdadeiramente inquietadora.
Eis por que governo e iniciativa privada devem convergir para o objetivo supremo do desenvolvimento, sob o prisma da segurança da nação brasileira”.
*Trecho do discurso do presidente Juscelino Kubitschek sobre política de desenvolvimento proferido em São Paulo, no dia 14 de agosto de 1959, durante Conferência, no Rotary Clube da Cidade.
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