As campanhas de propaganda de novas receitas de marcas populares de cervejas vêm, cada vez mais, destacando expressões novas para o grande público como “puro malte” e hops (lúpulos, em inglês) como atributos diferenciais de qualidade. Mas, o que isso significa, exatamente?
 
Em primeiro lugar, que as grandes cervejarias pretendem agregar à sua imagem corporativa e aos seus produtos mais populares um conceito de pureza até então presente nas cervejas artesanais, nas importadas e nas premium top de linha, que satisfazem a consumidores mais exigentes. O objetivo é surfar nessa nova onda, que veio para ficar.
 
Note-se que o mercado brasileiro de cervejas artesanais, ao qual os novos lançamentos da grande indústria pretendem incomodar, aumentou 23% em 2018 e a tendência é crescer ainda mais, como na beer revolution dos EUA. Há cinco anos, as artesanais daqui tinham menos de 1% de mercado nacional e hoje já são 3%, com previsão de chegar a 6% em cinco anos. Isso é muita coisa, considerando que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, com mais de 13 bilhões de litros anuais.
 
Mas, qual a diferença entre uma cerveja “puro malte” e as hops das demais? Para melhor entendimento, é preciso saber que a legislação brasileira é muito fluida no que diz respeito ao assunto, considerando como cerveja toda bebida que tenha, no mínimo, 55% de malte de cevada em sua composição. Os outros 45% são os chamados “aditivos”, cereais como milho e arroz, principalmente, em geral acrescentados para baratear custos de produção e tornar a cervejas mais ao gosto da maioria dos consumidores daqui.
 
As cervejas “puro malte” são, portanto, aquelas que contêm 100% de malte de cevada, além de água, lúpulo e fermento e têm um sabor mais marcante e intenso. Já as cervejas populares, de pouco sabor e aroma, mais leves, têm o milho e arroz também como fontes de açúcares que servem para que as leveduras atuem e produzam álcool e gás carbônico. 
 
Ao contrário do que a maioria pensa, malte não é um tipo de cereal, mas um grão germinado artificialmente. A técnica de malteação consiste, basicamente, em umedecer cereais a uma temperatura aproximada de 10°C e depois secá-los, torrá-los e/ou defumá-los. A maior parte das cervejarias artesanais utiliza maltes de cevada e/ou trigo de qualidade, obtendo variações no sabor, cor, aroma e textura, dependendo do estilo a ser fabricado e da criatividade do mestre cervejeiro. Já as cervejas industriais utilizam processos mais simples e padronizados.
 
Muita gente ainda resiste às cervejas de maior qualidade e procuram apenas se refrescar com aquela “loira estupidamente gelada”. A preferência, então, é para as cervejas que levam milho ou arroz e consideradas perfeitas para o calor do nosso país porque não pesam tanto e, por isso, permitem ser consumidas em maior quantidade. 
 
No entanto, consumidores com maiores exigências e não dispostos a gastar muito foram identificados pelas pesquisas das cervejarias de grande porte. As cervejas populares puro malte e hops, lançadas mais recentemente, vieram para tentar atendê-los, oferecendo sabor e aroma mais notáveis de maltes e lúpulos. São bebidas também refrescantes, sem ser encorpadas, com notas cítricas e amargor mais pronunciado.
Existe mercado para todo tipo de cerveja, felizmente. Desde as de massa, fabricadas a partir de receitas básicas, até as mais elaboradas, que usam maltes especiais e também trigo, aveia, centeio, mel, açúcar, frutas, mandioca e lúpulos nobres, proporcionando diferenciais de qualidade que ingredientes comuns não oferecem. 
 
Portanto, sendo ou não puro malte, tendo ou não lúpulos em maior quantidade e diversidade, o importante é que o consumidor tenha o que espera de uma cerveja, seja uma bebida leve e de pouca complexidade ou uma cerveja encorpada, de sabor e aroma mais acentuados. E que o mercado ofereça cada vez mais opções para todos os gostos. No meu caso, ainda prefiro as excelentes cervejas que os nossos produtores artesanais têm produzido.
 
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