Apesar do título deste artigo, a rigor não existe cerveja tipo “champagne”, pois essa denominação é exclusiva das bebidas frisantes à base das uvas produzidas na região francesa do mesmo nome. Mas, existem, sim – e ótimas -, cervejas produzidas pelo método champenoise, o mesmo do champagne, aprimorado pelo abade Dom Pérignon no século XVII e por Nicole Ponsardin, a célebre viúva Cliquot, no início do século XIX.

São as chamadas bières brut e fazem parte de um segmento de luxo do mercado de cervejas especiais, não só pela exclusiva forma e longo tempo de produção, como pelo alto preço. Em geral, as cervejas, especialmente as da escola belga, guardam muita semelhança com o champagne, sobretudo pela refermentação na própria garrafa, uso de invólucros reforçados e rolhas protegidas por uma “gaiola metálica”, para resistir à alta pressão do gás carbônico.

A primeira representante desse estilo cervejeiro, a belga Deus, foi situada mercadologicamente como uma “champagne das cervejas” no seu lançamento, em 2002, para ser servida na tradicional taça dos espumantes (flute). No Brasil, as pioneiras foram a Eisenbahn Lust e a Wäls Brut, com base em receitas belgas. O estilo vem evoluindo e, atualmente, existem várias versões de India Pale Ale (estilo inglês) fabricadas também pelo método champenoise por cervejarias como as mineiras Küd e Falke e a paulista Bodebrown,

As cervejas brut têm paladar mais seco e corpo mais leve, pois a cevada é malteada levemente para obter uma cor clara. Pouco lúpulo é usado. A fermentação primária é feita em tanques fechados e, depois, a cerveja recebe uma dosagem de açúcar e leveduras de espumante para a fermentação secundária, feita nas próprias garrafas, em caves com temperatura controlada. A maturação dura cerca de um ano, com uso dos mesmos processos de fabricação do champagne.

O estilo de base fornece a maior parte das características sensoriais das bières brut. As derivadas de estilos belgas são cervejas claras ou levemente douradas, leves, delicadas. Mas são muito complexas e aromáticas, refrescantes, com alta acidez e uma agradável picância do álcool. Predominam os lúpulos de aroma de variedades nobres, percebidos sutilmente. O corpo é relativamente leve, bastante seco e lembra as Belgian Golden Strong Ales. O amargor é de baixo a médio, por volta dos 35 IBU e o teor alcoólico entre 11 e 12%

Já as IPA Brut também têm uma efervescência marcante, espuma abundante, sem deixar de lado a natureza do estilo (inglês ou americano), com amargor médio em torno de 40 e teor alcoólico de 6,5%. A cor puxa para um dourado mais forte e também são bebidas leves, secas e refrescantes. No aroma, podem ser percebidos toques de frutas cítricas tropicais e, no sabor, um maltado suave e frutado.

   

* Por Wilson Renato Pereira – Jornalista dedicado às cervejas de qualidade, Psicanalista

 

 

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