ENTREVISTA MARCELO SILVA – PRESIDENTE DA CDL-BH

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) empossou no dia 11 de março o novo presidente Marcelo de Sousa e Silva.  Formado em Administração e Ciências Contábeis, com 30 anos de experiência, Marcelo deu seus primeiros passos na entidade quando foi convidado a integrar a CDL JOVEM. "Na época, eu tinha uma loja de aviamentos, e um amigo meu me convidou para conhecer e participar do grupo da CDL”, relembra. Em 1998, foi convidado pelo Presidente Eduardo Noronha para ser um dos vice-presidentes da CDL-BH. Passou pelas gestões de Manoel Bernardes, Roberto Alfeu e Bruno Falci, sempre como vice-presidente. De lá pra cá, muitas coisas aconteceram na CDL-BH, conta Marcelo. Nesta entrevista a MercadoComum, ele apresenta os desafios da entidade para a gestão, que vai até 2021, e se mostra otimista com os rumos do comércio e serviços da Capital. 


MERCADOCOMUM – Sabemos que Minas Gerais está quebrado, passando por grandes dificuldades de caixa, o que impacta na economia de forma geral. Como é que você vê esse desafio de assumir a principal entidade do setor lojista de Belo Horizonte e sabendo que estamos passando por essa grave crise que afeta o consumo? 

MARCELO DE SOUSA E SILVA – O Brasil todo está passando por uma grande mudança, essa grave crise que nós enfrentamos nesses 4 anos trouxe muita gente do emprego formal ao emprego informal, mas também trouxe muita gente para o empreendedorismo. Então eu acho que, com essas mudanças, a tecnologia e a inovação são muito importantes, não só em ferramentas, mas em gestão e de atendimento aos clientes. Hoje, o consumidor está mais exigente, ele pesquisa no mundo todo, quer um produto de qualidade e preço acessível, além de forma de pagamento diferenciada.  

Hoje o cliente está muito mais bem informado, então a relação se inverteu. A Nike, por exemplo, tem uma loja em que a pessoa entra e faz o tênis do jeito que ela quiser. A tendência é o Brasil crescer nesse ciclo virtuoso e que traz grandes oportunidades. Desde que todos os empresários entendam que é necessário fazer uma loja bem feita, possuir canais de atendimento, redes sociais, website e lojas físicas. O que é o consumo hoje? O consumo hoje é a melhor experiência de compra que você tem que proporcionar para quem está na sua loja.  

Nós estamos vendo essa retomada da economia devagar, o final de 2017 a gente começou sair da crise.  O ex-presidente Temer em sua gestão fez algumas importantes como manter a inflação segura, fez o formato de reforma trabalhista que é importante para dar mais segurança para as empresas. Você tinha um custo muito elevado com direitos trabalhistas. Então a reforma trabalhista foi muito importante. E aí em 2018 tivemos a greve dos caminhoneiros, logo depois Copa do Mundo, Eleições…tudo ficou meio morno. Depois com a expectativa grande dos eleitores brasileiros, a economia começou a se movimentar novamente, alguns investimentos começaram a chegar e finalmente começou a melhorar. 

Como foi o desempenho do setor no ano passado?

De acordo com o nosso levantamento de desempenho do comércio, Belo Horizonte fechou em 2,5% de volume de vendas em 2018. Apesar de todos os problemas da crise e gestão financeira do Estado e do Governo de Minas, principalmente tendo repercutido muito mal para nós a questão do não pagamento em dia do funcionário público. Isso impacta muito em Belo Horizonte e na região metropolitana principalmente. Mesmo assim os números foram positivos. 


A que você atribui essa positividade apesar de todos esses percalços?

Na crise, todo o setor procurou trazer produtos bons, produtos de qualidade e preço acessível, modificar forma de pagamento, etc. Além disso, os juros baixos e a inflação segura deram um fôlego nas pessoas. Isso já era sinalizado nos estudos econômicos, e os empregos foram surgindo.

Em Belo Horizonte, a expectativa era de chegar em 4,0% e 4,5% de crescimento. Só que houve esse impacto do funcionalismo público. Outro fator muito importante foi a discussão do Plano Diretor de Belo Horizonte. As empresas da construção civil, que são fundamentais no giro desse dinheiro, no giro econômico de Belo Horizonte, se retraíram. 

Em Belo Horizonte, 72% do PIB é de comércio e serviços, e a construção civil é importante, além do movimento que ela gera em termos de empregabilidade e consequentemente mais emprego e renda. 

 

Apesar desse cenário, o proprietário, o lojista, comerciante e o empreendedor são corajosos. E ai você vê a migração desse forma de emprego que não está no mercado para as novas empresas pequenas, mas que geram renda e receita. 

Então esse crescente está continuando nesse primeiro trimestre agora; o PIB de Minas cresceu 1,2%, mas nos setores do comércio e serviços o crescimento foi de 2,4%. Nós sabemos que 85% das empresas de Belo Horizonte são de comércio e serviços – e 60% em Minas. Então nós acreditamos que o governo novo e sua equipe competente vão conseguir sair da crise, pois estão tendo os ajustes necessários. Estamos vendo o Governador se aproximar mais da Assembleia, o judiciário participante dessa conversa. Então os poderes estão se alinhando pensando no positivo aqui para Minas Gerais. 

 

O que está impactando mais no setor de comércio e serviços para dificultar o crescimento? E o que o governo de Minas Gerais pode fazer na questão tributária?

O comércio sofre muito com os benefícios que a indústria tem de venda direta, então hoje grandes empresas compram direto das fábricas, porque elas têm vantagem tributária, e o comércio sofre muito com isso. Minas Gerais instituiu em 2017 um diferencial de alíquota para microempresa. Além de não ser devido esse imposto, estamos pagando antecipado.

A CDL-BH já se mobilizou, já mostramos isso para o Governador e estamos estudando possibilidades de ação jurídica que nós acreditamos que é constitucional. É, além disso a burocracia e a simplificação tributária são fatores que temos que combater, buscar a desburocratização. E outra coisa que é importante e que impacta também em todos os setores é a infraestrutura, que precisa receber novos investimentos. Minas Gerais tem uma malha ferroviária e logística muito forte terrestre e precisamos equalizar isso o mais rápido possível. Em Belo Horizonte, precisamos principalmente de um centro de convenções adequado. 

Nós tivemos o Rio perdendo muito eventos por causa de violência, e Belo Horizonte poderia ter aproveitado. E não tem um centro de convenções adequado. Mas para isso precisamos que a Prefeitura entenda que esses investimentos são importantes para atrair negócios para Belo Horizonte, que esta é uma vocação da cidade. O que nós não queremos é que o mercado investidor crie um entendimento de que Belo Horizonte é uma cidade complicada. É isso que nós estamos levando ao prefeito, a simplificação, os investimentos chegando, a parceria com o setor privado. Nós temos grandes investidores internos brasileiros e do exterior querendo vim para Minas e Belo Horizonte também, mas sabemos das dificuldades. 

 

Como é que vocês estão estimulando a necessidade de modernização do setor pela inovação e tecnologia, e como as empresas devem se preparar para o futuro?

Nessa nova gestão da CDL-BH, nós temos cinco bandeiras. Três delas não largamos nunca, que são a melhoria da segurança, o desenvolvimento econômico, para que você tenha desenvolvimento social, e a mobilidade. Estes são fatores que você consegue buscar um desenvolvimento favorável para os negócios, então impactam direto. A outra bandeira é o entendimento dessa economia da geração prateada, pois hoje a longevidade é uma realidade no Brasil. 

A questão da reforma previdenciária é fundamental, ela tem que acontecer. A CDL-BH está tentando promover um seminário sobre a reforma previdenciária. Então a gente quer criar esse ambiente favorável e entender esse público do 60+, se estão sendo bem atendidos nas lojas, pois são pessoas que têm hoje uma renda garantida. Precisamos ter espaços para novos negócios para esse público. Além disso, eles podem voltar ao mercado de trabalho? Uma forma diferenciada que a gente acredita, e também buscar políticas para esse público principalmente no foco de cultura, lazer e turismo para que possamos melhorar esse alinhamento ou aproximação. 

O quinto eixo é o da inovação. Belo Horizonte tem várias startups espalhadas por aqui. 
Na CDL-BH existe um andar somente para questões do projeto varejo inteligente, que já vai para sua quarta edição, no formato de aproximação entre os lojistas e as startups para entender qual a melhor forma de fazer isso. Nós queremos startups que façam essa integração e solucionam o problema do nosso associado do setor de comércio e serviços. Nós entendemos que Belo Horizonte tem essa vocação. Estamos junto com a prefeitura e o governo do estado e com outras entidades fazendo projetos de inovação. 

E nós temos um problema, essas empresas de inovação e tecnologia precisam de profissionais qualificados e nós temos falta de mão de obra, a demanda é alta e não temos esses profissionais. 
A CDL-BH realizou o evento Info Varejo, que é um evento focado em tecnologia e inovação. Nós conversamos isso com o vice-governador Paulo Brant e pedimos a ele para assumir junto com as entidades de classe um projeto para que tenhamos profissionais qualificados para que esse mercado e demanda sejam atendidas. Lembrando que Belo Horizonte em relação a São Paulo têm um custo melhor, uma qualidade de vida melhor. Belo Horizonte é uma cidade agradável, o mineiro é um povo acolhedor e as pessoas gostam daqui, então isso é um fator positivo. Belo Horizonte é uma cidade muito bem geograficamente localizada, está a uma hora do Rio De Janeiro, São Paulo e Brasília de avião, então você tem essa referência muito forte. Então, a inovação é um eixo que nós queremos trabalhar muito aqui, e buscando não só inovação em tecnologia, mas inovação de gestão, atendimento e gestão interna. 

 

Quais são as suas metas principais para esse mandato ?

O mandado é de três anos, podendo ser reeleito por mais três. O primeiro passo é a gente dar um salto positivo de 12.000 associados para 20.000 associados. Nós temos em Belo Horizonte cerca de 70 mil empresas de comércio e serviços que podem ser associadas à CDL-BH. Então nós achamos que esse número de 20.000 é um número razoável. Com uma maior representatividade da CDL-BH, também conseguimos atender de maneira adequada. A entidade é bem estruturada para isso, nós temos produtos e um bom relacionamento institucional.

Outra meta é levar para as empresas a questão da inovação, principalmente na utilização das redes sociais para a melhoria do seu negócio. A CDL-BH precisa gerar valor para o seu associado. E a rede social é uma ferramenta de inovação que todos usam. Existem hoje ferramentas tecnológicas para melhorar a produtividade e o objetivo dela é buscar a fidelização desse cliente. Nós queremos mostrar para o associado que é importante esse planejamento, e que tem que fazer isso com calma, porque cerca de 90% dos associados são micro e pequenas empresas. Eles também não tem muito capital para investir e precisam recolher os resultados. 

 

 

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