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Por: Cláudio Gontijo

 

Embora Delfin Neto esteja com razão, ao afirmar que a voz do povo não é a voz de Deus, não foi a fundo, como de costume, na análise do problema, ao dizer que, na raiz das manifestações de rua dos novos “cara pintadas” está a discrepância entre as prioridades do governo e as da sociedade. Infelizmente, o problema brasileiro é muito maior e radica no modelo de desenvolvimento econômico anunciado por Collor de Mello, definitivamente implantado por Fernando Henrique Cardoso e mantido pelo governo petista de Lula da Silva. Não adianta, pois, mudar as prioridades governamentais, pois, a não ser que volte o nacional desenvolvimentismo – o que supõe novo pacto político –, a insatisfação da até há pouco “maioria silenciosa” vai continuar a crescer, anunciado novas turbulências no futuro. Para quem não se recorde, a implantação do modelo “neoliberal” significou a drástica redução das tarifas aduaneiras e eliminação dos controles das importações, privatização das estatais, liberalização dos diversos mercados, inclusive do financeiro, e diminuição do papel do estado na economia, além do aumento da carga tributária, de forma a reduzir, senão eliminar, o déficit público. Segundo os seus defensores, essas medidas conduziriam o País para uma trajetória de crescimento equilibrado sem maiores pressões inflacionárias e redução das desigualdades sociais.

A realidade, contudo, tem sido bem diversa do preconizado pelos epígonos. Para começar, assistiu-se a forte desaceleração da taxa de crescimento do PIB, que, em lugar de manter seu ritmo observado durante o período de vigência do nacional desenvolvimentismo – superior a 6,5% ao ano – caiu para somente 3,0% no período 1995 – 2012. Pior ainda, o Brasil nem conseguiu manter o ritmo da economia mundial, que também recuou de 4,5% para menos de 3,7% respectivamente. Como consequência, a participação do Brasil no PIB mundial (Figura 1) caiu de mais de 3,8% em 1985 para menos de 2,9% em 2012.

 

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De mais a mais assistiu-se a expressivo processo de desindustrialização do Brasil, com a participação da indústria no valor adicionado, que chegara próximo a 50% em meados da década de 1980, caindo aceleradamente desde então. Na verdade, conforme registra a Figura 2, somente a indústria extrativa aumentou a sua participação no PIB brasileiro no período recente, como consequência do boom de exportações de minério de ferro para a China. Em grande parte, este processo de desindustrialização foi condicionado pela abertura comercial e pela própria redução do dinamismo da economia brasileira, para não falar na obtusa valorização da moeda nacional perante o dólar, ocorrida não somente durante o primeiro mandado do presidente Fernando Henrique Cardoso, mas também durante os dois mandatos de Lula da Silva. Aliás, a indústria brasileira tem perdido competitividade tanto ao nível do mercado interno quando do internacional, conforme comprova a queda da participação dos produtos manufaturados na pauta de exportações do País, que, tendo atingido 60% em 1993, recuou para apenas 37% no ano passado (Figura 3).

 

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Mas o pior é que, conforme registram os jornais e discutido na coluna de junho do MercadoComum, o Brasil ingressou, nos últimos meses, num novo cenário de crescentes e insustentáveis déficits em conta corrente, situação que tem não apenas contribuído para solapar a confiança nos investidores internacionais no País, mas que deverá conduzir-nos a nova crise externa, para não falar nas pressões inflacionárias que cria, via elevação do dólar.

 

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Em síntese, o Brasil atravessa um momento difícil de sua trajetória econômica, marcado por estagnação econômica, desindustrialização e, agora, crise externa, resultante do esgotamento do ciclo de expansão da economia internacional resultante da bolha especulativa do subprime. Terá, portanto, que corrigir rumos, num contexto de povo profundamente descontente não apenas com os gastos do governo, mas com os próprios destinos do País.

 

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