Aguinaldo Diniz Filho tomou posse como novo presidente da ACMinas no dia 25 de fevereiro. Ele informou que as diretrizes da nova gestão serão traçadas em conjunto pela diretoria executiva, diretoria plena, diretores eméritos e conselhos empresariais. As ações serão nas áreas de educação, inovação, tecnologia, comércio exterior e internacionalização, entre outras. “Com esse grupo eu pretendo levantar os caminhos para que a gente possa perseguir resultados no princípio de trabalhar na defesa dos interesses da classe empresarial de forma transparente e ética, observando os interesses da sociedade, para que a gente possa ser mais útil”, diz.

Diniz Filho ressaltou a importância do trabalho de seu antecessor, Lindolfo Paoliello, que esteve à frente da presidência da ACMinas por dois mandatos. “Eu me sinto muito honrado de ter sido convidado pelo presidente Lindolfo Coelho Paoliello para sucedê-lo. Para mim é uma responsabilidade imensa sucedê-lo, pois durante quatro anos ele fez uma gestão profícua para a representatividade institucional e criou valores para a entidade, para os associados”, disse. Com 118 anos, a ACMinas é uma das entidades mais antigas do País e atualmente conta com 1.570 associados.

Natural de Curvelo e bacharel em direito, Aguinaldo Diniz Filho foi presidente da Cedro Têxtil e, na sequência, de seu Conselho de Administração. Também presidiu a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e foi vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). “Somos um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, falando a mesma língua, de grande futuro. E a ACMinas quer participar desse futuro. Quer não, vai participar”, finaliza o presidente da ACMinas, que concedeu entrevista exclusiva a MercadoComum. 

 
O senhor possui grande experiência no comando de empresas privadas, como a Cedro, e entidades empresariais, como o Sinditêxtil e a ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil. Agora, assume a ACMinas, uma das mais importantes e tradicionais entidades empresariais mineiras. Como vê este novo desafio?
 
Trago, realmente, uma experiência de muitos anos em entidades empresariais vinculadas ao setor industrial, mas, também, nos segmentos em que atua a ACMinas, instituição da qual participei desde 1985, quase ininterruptamente, como vice-presidente. Tenho portanto familiaridade com o seu funcionamento, com os serviços que presta aos associados e com as demandas do comércio, serviços e mesmo da indústria, uma vez que, sendo eclética, a ACMinas tem associados em todos os segmentos econômicos. Pretendo, com a colaboração de toda a nossa Diretoria, identificar as novas demandas dos associados diante de um cenário institucional, econômico e tecnológico que passa por significativas mudanças.
 

Qual a sua expectativa para o ambiente econômico no estado de Minas Gerais e no País com os novos governos que assumiram no início de janeiro? Há possibilidade de reversão da baixa atividade ocorrida no ano passado?
   
O grau de atividade econômica do Estado não é, na verdade, o maior problema, até porque seu PIB registrou aumentos, ainda que bem modestos, no ano passado. O que realmente traz grandes preocupações é o enorme déficit fiscal, próximo de 12 bilhões de reais, podendo chegar a 30 bilhões, cuja reversão, acredito, constitui a espinha dorsal das ações da gestão pública. Este é o principal desafio do Governador Romeu Zema e de seus auxiliares, que precisarão reduzir substancialmente as despesas, especialmente aquelas relacionadas ao funcionamento da máquina pública, que constituem boa parte do déficit. Não é, certamente, algo a se realizar em curto prazo, até porque há medidas em estudo que dependem de aprovação legislativa. Vejo como papel da ACMinas, neste contexto, apoiar e estar junto de nosso Governo Estadual neste esforço.
 
No plano nacional, não é diferente. O déficit público é superior a 250 bilhões de reais e, a despeito de um discreto crescimento da atividade econômica nos últimos dois anos, ainda há um índice negativo no resultado acumulado do PIB, entre 2015 e 2018,  de quase 7 por cento. A reversão desses indicadores, efetivamente, dependerá, além de outras providências administrativas, da aprovação da reforma da Previdência Social, responsável por um déficit que, somente em 2018, ultrapassou os 190 bilhões de reais. A sociedade precisa estar unida, pensando em futuro próximo, e apoiar todas as reformas, até com algum sacrifício, especialmente a previdenciária. Somos da opinião de que esta reforma é absolutamente necessária, que corte privilégios e seja fundamentalmente endereçada às gerações futuras.
 
 
Como o senhor avalia o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho? Quais as possíveis consequências esperadas para a economia mineira e brasileira com a tragédia?
 
Foi – e isto agora já se verifica – uma “tragédia anunciada”, pois os laudos, emitidos por técnicos da própria Companhia, e também por auditorias independentes, não retratavam a real condição da barragem. É um grave equívoco, porém, que se atribua à Vale, à Companhia, como vem se fazendo, a responsabilidade pelo desastre de Brumadinho. E por um motivo simples: a Vale (aliás, como qualquer empresa) é simplesmente um empreendimento, um ente jurídico que não toma decisões nem atitudes e muito menos manifesta vontades ou intenções. Quem o faz são aqueles que a dirigem. Responsabilidades existem, é claro, e é justo que a sociedade as cobre com rigor. O que não é justo é que a companhia seja sacrificada e tenha sua imagem desgastada junto à opinião pública quando os responsáveis pela tragédia são aqueles que a dirigem e que tomam as decisões. E que, simplesmente, deveriam ser afastados da empresa (o que, aliás, é uma possibilidade que já se cogita) e processados criminalmente após o devido processo legal e com a urgência que se faz absolutamente necessária. No dia 2 de fevereiro estive em Brumadinho em contato com a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil, quando verificamos in-loco a dramaticidade da situação. No mesmo dia, estavam ali o Governador Romeu Zema com seus auxiliares diretos apoiando e acompanhando o resgate que, hoje, continua sendo feito na área. Registro o meu mais profundo reconhecimento a estes verdadeiros heróis pelo trabalho que ali se realiza, assim como o mais profundo sentimento da ACMinas pelas vidas tragicamente ceifadas. Com orgulho, como mineiro, devo manifestar meus cumprimentos a todos aqueles que participam desta heroica missão. Mas há uma preocupação que persiste: o trabalho que ainda se deve fazer pelas pessoas, pela sociedade e pela economia local visando ao seu futuro. Tragédias como esta requerem mudanças profundas em nosso País. E é diante disso que, como cidadão, convoco o Poder Legislativo a fazê-las.
 

Quais são as ações que o senhor espera implantar para o desenvolvimento dos setores empresariais representados pela ACMinas? Há alguma novidade em curso neste sentido para apoiar o crescimento das empresas e trazer benefícios em inovação, capacitação e tecnologia?
 
Certamente, como mencionei em resposta anterior. Estamos, juntamente com toda a nossa Diretoria, analisando mudanças de cenários, especialmente na economia, que demandarão da ACMinas novas iniciativas. É um processo que, por estar ainda muito recente o início da atual gestão e por não estarem ainda nítidas as demandas empresariais diante de novos governos, tanto Federal quanto Estadual, exigirá análises mais aprofundadas. Posso assegurar, no entanto, que a ACMinas está atenta e presente a essas mudanças.
 

O mercado financeiro anteviu que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) findará 2019 com variação positiva de 4,01%, isto é, 0,49 ponto percentual abaixo da meta governamental edificada para o período (4,5%). Como o sr avalia esta projeção? De que forma poderá favorecer o ambiente econômico?
 
Acredito ser ainda muito cedo para se fazer este tipo de análise, uma vez que os fatores que condicionam os resultados estão na maioria indefinidos, baseando-se em hipóteses quanto a projetadas mudanças na política econômica. Só teremos elementos para fazê-lo quando as reformas pretendidas já estiverem em curso. Cabe ao Poder Legislativo, tanto Federal quanto Estadual realizar um trabalho urgente e profundo visando a atender às necessidades de mudanças em nosso País, reformas estas que, tenho certeza absoluta, alavancarão a nossa economia.
 
 
 
 
 
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