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A ECONOMIA COM TODAS AS LETRAS E NÚMEROS
de Oliveira – (1956/1961), com o objetivo de tê-las como Nenhuma política econômica será bastante con-
contribuição a uma reflexão sobre a atual situação eco- vincente para mim, ou conveniente para meu país, se
nômica brasileira e os destinos que desejamos trilhar: não considerar a realidade positiva de que é necessário
-“Numa hora de desalento e desânimo, em que alimentar, vestir e amparar novos contingentes humanos
a situação do país nos coloca nas pontas deste dilema: que vêm ampliar nossa superfície demográfica.
progredir ou perecer – orgulho-me de ter desfraldado Aos que, de boa-fé, nos aconselham medidas
em nossa pátria a bandeira do desenvolvimento nacio- de contenção indiscriminadas, peço que recordem as
nal, na mais perfeita vigência do regime democrático”. condições em que se operou o desenvolvimento de
-“Quando lancei, em meu Estado natal, como grandes nações e julguem se lhes foi possível vencer os
fulcro de um programa de governo, o binômio – energia obstáculos com que se defrontavam sem criar riqueza.
e transporte, justifiquei essa decisão lembrando que os Aos que pensam que o Brasil deve parar a fim de
fatos estavam a evidenciar esta verdade: nenhum acele- pôr a casa em ordem, respondo que nosso país deve ar-
rado processo de desenvolvimento econômico se pode rumar a casa produzindo, trabalhando, exigindo de seus
verificar em uma região a que faltem energia e trans- filhos um esforço mais racional e um maior rendimento
portes, ainda que nela ocorram, em abundância, ma- de produção.
térias primas e outros recursos naturais, a par de uma Constituiu sempre uma das preocupações cen-
população ativa e ordeira. A formação de riquezas e sua trais de meu governo coordenar as medidas tendentes
concentração em atividades industriais de alta produti- ao mesmo tempo a salvar a nossa moeda, estabilizar
vidade só se podem efetuar rapidamente, depois que a vida econômica, encorajar o aumento da produção,
um povo consegue construir a infraestrutura de seus jugular o surto inflacionário”.
serviços básicos de energia e transportes”. -“É preciso não esquecer que o problema funda-
-“Devemos, é verdade, arrumar a nossa casa, mental do Brasil e dos demais países insuficientemente
mas incorreremos em desordem maior ainda se entra- desenvolvidos não consiste em apenas elevar o ritmo de
varmos o ritmo da nossa produção. crescimento. O que cumpre é estabelecer uma taxa mí-
Cabe ao governo praticar todos os atos que con- nima de crescimento, a ser observada em determinado
duzem ao equilíbrio orçamentário. Importa combater o período. Assim poderemos atingir um nível de renda per
empreguismo no serviço público e, com isso, reduzir os capita que permita o início de um processo cumulativo
gastos da administração. e autônomo de crescimento, com recursos do próprio
É o que tenho feito, na medida de minhas possibi- país, e diminuir a distância que o separa das grandes
lidades. Só eu mesmo sei o quanto me tem custado con- potências econômicas, em termos de renda per capi-
trariar a expansão de inúmeros fatores negativos da vida ta”. – (Discurso proferido durante solenidade paranin-
brasileira e reagir contra eles, sem provocar atropelos. fando os alunos dos Cursos de Análise Econômica do
O que, porém, (...) pretendo tornar bem claro é que, Conselho Nacional de Economia - Rio de Janeiro, 9 de
na luta contra a inflação, se inclui, como um dos elementos dezembro de 1958).
mais importantes, o aumento da produção nacional. -“Estamos avançados no sentido de nosso de-
Mais de um milhão de consumidores se incor- senvolvimento material, mas somos forçados a reco-
pora todos os anos à nossa população, seja dos que nhecer-nos ainda muito atrasados, principalmente em
aqui nascem, seja dos que adotam o nosso país como relação aos países de alto grau de industrialização. Uma
segunda pátria. Creio na capacidade de trabalho e de análise comparativa de nossa marcha com a das nações
recuperação do Brasil. Creio na indústria de meu país e desenvolvidas resultará em algo de inquietude. Deve-
sei o quanto lhe devemos todos. mos ter a ambição de não nos contentar com o que já
Não haverá nada que me convença da conve- fizemos, e o orgulho de não nos resignarmos a conti-
niência de corrermos o risco de desestimular a produ- nuar em posição secundária. Na verdade, não se trata
ção, quando o crescimento do número de consumido- sequer de ambição ou orgulho. Creio que já existe, na
res é contínuo e intenso. consciência coletiva brasileira, a noção de que o nosso
6 Abril a Maio de 2017