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Paulo Queiroga

Assistimos a um fenômeno, no mínimo curioso, que ocorreu em Barcelona, Madri e Palma de Maiorca, na Espanha. O setor de turismo, principal fonte de recursos do país, convive com o aumento da rejeição aos turistas por parte das populações locais. Recentemente, a imprensa internacional deu larga cobertura aos manifestos dos moradores e os movimentos tem deixado em alerta os responsáveis pelo setor. Os nativos, que há muito já se incomodavam com a alta densidade de visitantes todos os dias, hoje, se sentindo ameaçados, partem para ofensas diretas contra os que eles consideram uma horda de invasores.

Em Palmas, cerca de 300 moradores do movi-mento La Ciutat Per a Qui l’Habita (“a cidade para quem vive nela”), saíram às ruas fantasiados de turistas e arrastando malas, como fazem os milhares de visitantes que ali desembarcam em cruzeiros todos os dias. Em Barcelona, são as pichações cada vez mais agressivas, no bairro de Grácia, na região onde ficao Parque Guell. “All tourists are bastardes” (todos os turistas são bastardos) é um desses anúncios da rejeição.

Na capital Madri, o carnaval terminou no bairro de Lavapiés com o enterro simbólico de uma morado-ra, para alertar para a expulsão forçada dos habitantes de cidade pela pressão dos turistas. Apesar de todos sabermos que, em geral, os espanhóis residentes em grandes destinos turísticos não sejam lá essa excelência em simpatia com o visitante, o incômodo que o turismo de massa gera para os locais não é novidade, nem se restringe à Espanha. 

A turismofobia ocorre do mesmo jeito em Veneza, Berlim, Paris, Toronto, New Orleans e nos países do Sudeste Asiático. Até o nosso micro destino turístico, Ouro Preto, já se ressente do turismo de massa. A reação da população é justa e natural, se considerarmos que estão em sua pró-pria cidade desde gerações e hoje sofrem com a perda da tranquilidade e do poder de compra, pela pressão do turismo no aumento dos preços de bens e serviços. 

Muitos moradores, como nos arredores da Catedral da Sagrada Família, em Barcelona, se queixam de não mais poderem sair de casa. A situação vivida por essas comunidades, nas formas em que se manifestaram, associada à repercussão internacional, prevê, sem dúvida, consequências negativas para todos os lados. Mas, a Espanha recebe mais de 75 milhões de turistas por ano, bate recordes a cada temporada e tem no turismo uma das principais fontes de receita. Como, en-tão, se pode conviver com esses números gigantescos batendo de frente com a população local, que deles se beneficia

O turismo mal conduzido, de fato, é um preocupante fator de degradação de bens culturais e materiais. A incoerência deste fenômeno é que o turismo de massa tende a destruir exatamente aquilo que lhe atraiu. O que está ocorrendo nestes destinos mega movimentados é uma fadiga de produção. Alguns chegaram a limites insuportáveis para a população.

Em destinos com esse número de visitantes, chega-se a um ponto em que é preciso adequar o planejamento da cidade para uma convivência possível entre o turista, a população local, também considerada como patrimônio, e o atrativo turístico, que precisa ser preservado para continuar sendo atrativo.

Mas, a rejeição da população, mesmo legítima, tem um erro no foco. Quem deveria ser alvo das mani-festações são os órgãos e autoridades locais e nacionais responsáveis por gerir esse sistema. E não o turista em si, esse apenas a ponta da cadeia produtiva, con-sumidor de bens culturais que lhe são oferecidos pela própria indústria turística e que produz a riqueza local.

Esta é a velha tensão, que sempre acaba mal, da miopia que existe em grande parte dos órgãos de representação, por não colocarem um contra peso entre o lucro imediato e sem barreiras e a destruição dessas mesmas fontes de lucros. É como matar a galinha dos ovos de ouro.

 

 

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