Sr. Jose? Safra- o “brasileiro” considerado um dos maiores i?cones das financ?as nacionais e internacional
Sr. Jose? Safra- o “brasileiro” considerado um dos maiores i?cones das financ?as nacionais e internacional
Sr. Jose? Safra- o “brasileiro” considerado um dos maiores i?cones das financ?as nacionais e internacional

Carlos Alberto Teixeira de Oliveira*

Mercado Comum Publicação Nacional de Economia, Finanças e Negócios
Mercado Comum Publicação Nacional de Economia, Finanças e Negócios

Sr. José Safra: o “brasileiro” considerado um dos maiores ícones das finanças nacionais e internacional.

Está completando seis meses que o Brasil perdeu, no dia 10 de dezembro do ano passado, um dos maiores ícones das finanças nacionais e um dos mais expressivos nomes do setor bancário mundial – considerado pela revista Forbes detentor da maior fortuna pessoal do país, então estimada em US$ 23,2 bilhões (R$ 122,9 bilhões) e considerada a 63ª maior do mundo.  

“É com imenso pesar que comunicamos o falecimento, nesta data, do Sr. Joseph Safra, aos 82 anos, de causas naturais. Seu José, como era chamado pelos mais próximos, nasceu em 1938 no Líbano e imigrou para o Brasil na década de 60, para dar continuidade aos negócios de seu pai, construindo os sólidos alicerces do Grupo Safra, mais conhecido no Brasil como Banco Safra”, dizia a  nota oficial divulgada pelo banco, quando do falecimento de Joseph Safra.

A nota acrescentava: “Em 1969, casou-se com Vicky Sarfaty, com quem teve 4 filhos e 14 netos. Foi um grande banqueiro, um verdadeiro empreendedor que construiu o Grupo Safra no mundo, obtendo sucesso por sua seriedade e visão de negócios. Foi um grande líder e muito respeitado dentro e fora da organização. Viveu uma vida exemplar, simples e reservada, sem ostentação, longe da exposição geral. Sempre dizia ter muito orgulho da cidadania brasileira e de torcer pelo Corinthians”.

Conhecido como patriarca da mais tradicional família de banqueiros do Brasil, a nota da instituição financeira sobre Joseph Safra concluiu: “Homem afável e perspicaz, dedicou sua vida à família, aos amigos, aos negócios e causas sociais. Foi um grande banqueiro, um verdadeiro empreendedor que construiu o Grupo Safra no mundo, obtendo sucesso por sua seriedade e visão de negócios. Foi um grande líder e muito respeitado dentro e fora da organização.”

Banqueiro e empresa?rio, Joseph Yacoub Safra
Banqueiro e empresa?rio, Joseph Yacoub Safra

Banqueiro e empresário, Joseph Yacoub Safra, falecido as 82 anos, nascido em Beirute e filho de Jacob Safra, veio para o Brasil em 1962, tendo adotado a nacionalidade brasileira, alguns anos após e sobre a qual, sempre exibiu e demonstrou bastante orgulho e apreço. Ao lado do irmão Moise Safra, falecido em 2014, Joseph liderou um dos principais grupos financeiros do Brasil – o Grupo Safra, com presença em 25 países.

Nos anos seguintes à crise global, com a discrição que lhe era peculiar, Joseph surpreenderia o mercado com o anúncio de grandes negócios. Em 2012, comprou o banco suíço Sarasin, dobrando o volume de recursos sob sua administração.  Dois anos depois, junto com o empresário brasileiro José Luís Cutrale, entrou na disputa (e ganhou) a disputa por uma das maiores produtoras de bananas do mundo, a americana Chiquita Brands International, adquirida por US$ 1,3 bilhão.

O conglomerado da família Safra inclui, além de bancos na Suíça, no Brasil e em Nova York, mais de 200 imóveis ao redor do mundo, entre eles o famoso Gherkin Building em Londres”. E continua sendo uma das instituições mais respeitadas em todo o mudo.

Atualmente, a área internacional está sob o comando de Jacob, o filho mais velho de Joseph. No Brasil, David e Alberto dividiram a gestão do banco por seis anos até o fim de 2019. Por busca de outras estratégias e novas oportunidades, Alberto deixou a instituição e abriu a gestora de recursos ASA Investments.

O sr. José Safra, como era chamado carinhosamente por seus funcionários, sempre foi um apaixonado pelo Brasil. Essa paixão ele exercia com muito maior orgulho do que em relação ao seu time favorito – e do qual também era um torcedor de primeira categoria, o Corinthians de São Paulo.

HISTÓRIA

Joseph Safra era um dos oito filhos de Jacob Safra. Nasceu no Líbano em 1938 e chegou ao Brasil em 1962. Poliglota, falava seis línguas, além do português: inglês, francês, espanhol, italiano, árabe e hebraico. Era impressionante a sua desenvoltura ao falar todos esses idiomas e, muitas vezes, o fazia de forma simultânea e desembaraçada, ainda mais quando houvesse presentes interlocutores dessas nacionalidades.  Mas nunca soube se ele sabia escrever em todos esses idiomas – como em árabe, o que também seria exigir demais.

Apesar da desconfiança inicial, a estabilidade e o conservadorismo do Banco Safra – oficialmente fundado em 1967 no Brasil com o nome de Banco de Santos – atraiu parte da riqueza paulistana e ganhou a fama de ser o “banco dos banqueiros.”

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, “a cultura que Joseph impôs nos negócios da família imprimiu na marca Safra uma imagem de solidez e de que o banco é blindado a crises.

O lema do Banco Safra é uma frase de Jacob:

“Se escolher navegar os mares do sistema bancário, construa seu banco como construiria seu barco: sólido para enfrentar, com segurança, qualquer tempestade”.

Para Joseph, a manutenção da reputação e da solidez do Safra era a alma de seu negócio.

Com o sucesso de suas operações, os Safra passaram a comprar outras instituições financeiras. Em 1972, com a aquisição do Banco das Indústrias, o nome Banco Safra configurou-se a ser oficialmente utilizado.

A família Safra – do patriarca Jacob Safra, porém, não chegou de uma vez só ao Brasil. Alguns filhos ficaram na Europa, para estudar. Em 1962, Edmond, que tinha chegado ao Brasil com o pai, montou o Trade Development Bank, em Genebra. Alguns afirmam que eles já possuíam no Líbano, anteriormente uma instituição financeira que teria sido confiscada pelo governo libanês com todos os depósitos e aplicações existentes no banco à época. Jacob, alguns anos mais à frente, honrou do próprio bolso e reembolsou todos aqueles que foram prejudicados por esta decisão governamental. Entre várias outras atitudes anteriores similares, reside aí um dos quesitos da confiança e da respeitabilidade da instituição: Tradição Secular de Segurança!

Joseph Safra
Joseph Safra

Enquanto fazia negócios mundo afora, Joseph Safra também se dedicou à filantropia. Foi um dos maiores doadores dos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês, em São Paulo. À Pinacoteca, ele doou esculturas de Rodin e ao Museu de Israel, em Jerusalém, o manuscrito original da Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Durante a pandemia da covid-19, o banco doou cerca de R$ 40 milhões para hospitais e Santas Casas.” 

Joseph Safra é da quarta geração de uma tradicional família de banqueiros, com origem na Síria, que começou financiando o comércio entre as cidades de Aleppo, Constantinopla e Alexandria. Jacob, pai de Joseph, mudou-se para o Líbano depois da Primeira Guerra Mundial e abriu o Jacob Maison de Banque em Beirute. Foi lá que Joseph nasceu, em 1938.

A vinda para o Brasil, na década de 1950, tem relação com a perseguição aos judeus no Oriente Médio, após a criação do Estado de Israel. Joseph contou certa vez que seu pai migrou com a família buscando um refúgio, porque acreditava que a terceira guerra não demoraria a começar.

Antes de se juntar aos pais e irmãos em São Paulo, Joseph Safra concluiu os estudos na Inglaterra e chegou a trabalhar no Bank of America, nos EUA. Edmond, o mais velho dos nove irmãos, assumiu os negócios da família no exterior, enquanto Moise e Joseph ajudavam Jacob no Brasil.

Em 1966, o irmão de Joseph – Edmond formou o Republic, National Bank nos Estados Unidos. Quem cortou a fita na inauguração do banco, em Nova York, foi o senador Robert Kennedy. O banco acabou sendo vendido para o HSBC, por US$ 3,3 bilhões – e isso em valores correntes de 1999. Valor considerado um dos maiores negócios já realizados entre bancos da história. O Republic desfrutava de uma enorme reputação e ficou conhecido, internacionalmente, por exemplo, por ser um banco que divulgava e realizava as cotações do ouro e isso era ponto incontroverso, tamanha a credibilidade da instituição. Lamentavelmente, Edmond morreu aos 67 anos de idade em um incêndio criminoso que consumiu seu apartamento em Mônaco, em 1999.

Tive a oportunidade de manter alguns contatos com o Sr. Edmond e me admirava a sua diplomacia. A minha percepção à época é que ele poderia e deveria receber o título de “Embaixador Mundial”, se por acaso houvesse esse tipo de premiação. Era, verdadeiramente, um autêntico “gentleman” e nos fazia imaginar que poderia pertencer ou houvesse nascido junto à Corte Inglesa, tamanha a sua desenvoltura pública e principalmente, no trato cordial com as pessoas. Edmond mostrou-se o banqueiro que mais se relacionou com o mundo empresarial e governantes, independentes de suas respectivas ideologias, fossem judeus, árabes, cristãos ou muçulmanos. Era notório, de todos recebia respeito, consideração e admirações especiais.

Uma das mais notáveis oportunidades que estive com ele ocorreu durante um almoço, reservado aos altos executivos das organizações Safra em New York – e da qual eu fazia parte, na sede do Republic National na quinta avenida, entre as ruas 42 e 43. Participou como convidado especial ninguém nada menos do que Milton Friedman, pouco tempo após a divulgação de sua famosa frase: There’s no free lunch! O México havia, poucas semanas antes, desafiado o mundo financeiro com a sua memorável moratória, que levou e arrastou praticamente, todos os demais países latino-americanos, juntos à bancarrota e à crise da dívida externa. 

Friedman, à época, recordo-me que sentenciou: a ousadia desta moratória vai condenar economicamente e ao atraso, principalmente o Brasil, além de vários países latino-americanos, por no mínimo 25 anos daqui pra frente. E foi o que aconteceu! Naquela oportunidade, Edmond orientou instruções precisas para desovar toda a carteira de títulos de países latino-americanos e, inclusive do Brasil, quando o deságio ainda era de apenas 10%.  Pouco tempo depois, as perdas chegaram a alcançar, em alguns casos, mais de 2/3 do valor nominal daqueles títulos.

Safra National Bank of New York
Safra National Bank of New York

Cabe destacar que Joseph Safra seguia os passos do irmão mais velho e montou, também, vários bancos não concorrentes, mas complementares aos de Edmond. O mercado financeiro internacional sempre rotulou as investiduras dos irmãos como “sacudida de farinha do mesmo saco”. Além do Banco Safra em Nova Iorque e que tive oportunidade de conduzir mais á frente, foram criadas por Joseph outras cinco instituições financeiras no exterior, localizadas em Israel, Uruguai, Ilhas Cayman, Luxemburgo e Bahamas. E são todas, atualmente, muito bem sucedidas. Aquela agência bancária brasileira da 42nd Street, que posteriormente veio a se transformar no Safra National Bank of New York, localizado em imponente prédio na 5th Avenue, desfruta hoje de um patrimônio líquido, em torno de US$ 1 bilhão.

O Banco Safra, em Nova Iorque, surgiu da compra de três agências bancárias pertencentes anteriormente ao Bankers Trust. Com isso, adquiriu o direito de usufruir do mecanismo de proteção aos depositantes, à época de até US$ 100 mil, garantidos pelo FDIC – Federal Deposit Insurance Corp. –  constituindo-se no único banco brasileiro ali instalado a contar com esta segurança, o que lhe permitiu excepcional desempenho, principalmente quando da crise do endividamento externo. Em termos legais, era uma sucursal do banco estabelecido no Brasil e, quando eu o assumi como CEO, fizemos a sua transformação integral, em banco norte-americano.

Eu tive o privilégio de conviver com “Seu José” durante os quase sete anos em que trabalhei no Grupo Safra, e uma parte  deles como principal executivo – (Executive Vice-Presidente/CEO) do Safra National Bank of New York, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, durante os anos 1980, sendo um de seus integrantes da equipe inicial encarregada da montagem do banco naquele país. Inicialmente, eu iria para Londres, como objetivo de montar uma agência bancária, mas a guerra das Malvinas entre Inglaterra e Argentina frustrou e impediu os planos de se concretizarem.

Joseph não chegou ao Brasil junto com o pai. Antes, estudou na Inglaterra e recebeu o diploma equivalente ao segundo grau no Brasil. Ele ainda passou pelos Estados Unidos, onde trabalhou no Bank of America, e pela Argentina. Joseph não cursou faculdade, costumava dizer que era “fascinado” por bancos desde menino e aprendeu o ofício vendo o pai trabalhar. Mas reconhecia a importância das faculdades e das universidades para o desenvolvimento da ciência, da ampliação do conhecimento e da tecnologia. Foi um dos maiores colaboradores, contribuindo com recursos financeiros expressivos a várias instituições, principalmente, em Israel. Eu já era professor, em Minas Gerais, em algumas faculdades antes de ser transferido para New York quando, ainda atuava como chefe do departamento de câmbio do Banco Safra em Belo Horizonte. Joseph perguntou-me se teria interesse em colaborar com uma instituição de ensino superior na cidade. Acenei positivamente e a contribuição veio a ocorrer, alguns meses após.

Joseph Safra não era apenas um banqueiro. Era uma pessoa afável, carinhosa e um visionário. Detestava puxa-sacos e bajuladores. Era, efetivamente, um ser global e não ligava muito nem respeitava os fusos-horários em suas viagens internacionais.

Considerado um dos brasileiros mais ricos do mundo, gostava de colecionar livros raros, obras de arte, adorava arquitetura e ainda era fanático por futebol, a ponto de viajar ao exterior só para assistir um jogo da seleção brasileira. Durante a Copa do Mundo de 2014 presenciou vários jogos da Seleção Brasileira e, alguns deles, fora de São Paulo. Veio, inclusive, a Belo Horizonte, prestigiar a Seleção brasileira, acompanhado do presidente internacional do Grupo Casino, de Paris. Torcia apaixonadamente para o Corinthians. Mas, era completamente avesso à imprensa, não gostava de ser fotografado e, raramente dava entrevistas. Algumas das poucas entrevistas que concedeu – comenta-se que havia se arrependido de tê-las concedido, porque não conseguiram reproduzir o que ele, efetivamente, expunha e desejava comunicar.

Da sede e primeira agência do Banco Safra em New York localizada  na 1114 Avenue of the Americas, próxima da 5th Avenue e na 42 Street –  até o projeto final efetivo na 5th Avenue Joseph foi, praticamente, o arquiteto, o decorador, o planejador e idealizador de tudo, desde planos arquitetônicos, à decoração e escolha do mobiliário, com impressionante bom gosto. Mantendo o estilo conservador e aristocrático! E ele fazia isso com um prazer incrível, discutindo pessoalmente todos os pormenores com os arquitetos e decoradores.

Conheci, nos meus tempos de funcionário do Safra, algumas “máximas” do padrão operacional/regras da instituição em relação à concessão de empréstimos bancários: –  não emprestar para religiosos, porque além de eles não pagarem o empréstimo concedido poderiam, ainda,  excomungar e falar mal nos púlpitos religiosos contra quem lhes emprestava; – não emprestar para policiais, porque além de eles não pagarem a dívida, poderiam tentar prender os emprestadores e mandá-los para a cadeia por considera-los exploradores; – evitar emprestar para jornalistas, porque além de eles não pagarem os empréstimos, poderiam ainda falar e escrever mal sobre os emprestadores todos os dias e em todas as oportunidades em seus veículos de comunicação. Evidentemente que, em todas as regras, poderiam ocorrer exceções.

Histórias contadas por quem trabalhou ao lado de “seu José” também mostram um dono de banco atento, mas muitas vezes rigoroso. Conhecia, com minucias de detalhes, as principais engrenagens de funcionamento da organização e, para isso contava, com uma assessoria de planejamento e controle que, permanentemente, avaliava os resultados e os rumos que deveriam ser seguidos – e o cobrava prontamente e com veemência. Sempre possuía estratégias de atuação muito bem definidas e uma avaliação de riscos de mercado e de tomadores de recursos – bastante sofisticados e eficazes.

“As receitas cobradas por serviços servem para cobrir a folha de pagamento dos funcionários”. “Despesa tem de cortar todo dia, ao máximo e todo mês, caso contrário vai crescendo, tomando conta e aí….”

Na estrutura estratégica do Banco Safra, sempre prevaleceram três áreas consideradas absolutamente estratégicas para aferição dos resultados. Acompanhadas pela APC-Assessoria de Planejamento e Controle tinha como requisitos básicos sempre apurar, de forma mais eficaz e analisar: a) o resultado contábil; b) o resultado operacional; c) o resultado tributário. Ideias do Sr. José e que ele não abria mão, de forma alguma. Todos os gastos tinham importância, independentemente do valor.

O Safra sempre foi considerado o típico banco de dono. Durante mais de 50 anos, foi liderado por Joseph diretamente e com pulso firme. Sr. José desde 2013, estava afastado do dia a dia, mas sua importância na condução da instituição era clara. Até pouco mais de um ano antes de seu afastamento, ainda comparecia ocasionalmente na sede, na Avenida Paulista, apesar de já estar fragilizado pelo mal de Parkinson. Desde que saiu da linha de frente, dividia seu tempo entre as cidades de Genebra e São Paulo.

Fonte- Jornal Estado de Minas – marc?o de 1982
Fonte- Jornal Estado de Minas – marc?o de 1982

Segundo algumas pessoas que conheceram o banqueiro pessoalmente concordam em afirmar, como eu, que Joseph era bem-humorado, educado, cordial e tímido. Influente, o banqueiro recebeu telefonema de Luiz Inácio Lula da Silva logo após sua posse. Lula pedia três sugestões de nomes para a presidência do Banco Central. Os outros banqueiros consultados foram Lázaro Brandão, do Bradesco, e Olavo Setúbal, do Itaú.

Sr José vestia e sempre era a sua marca registrada usar ternos muito bem cortados, escuros e, preferencialmente, da cor azul, combinando com gravatas, geralmente, também azuis ou escuras. Não gostava da cor vermelha. As camisas eram quase sempre brancas, impecáveis e de colarinho engomado, sempre acompanhadas de abotoaduras. Os sapatos, quase sempre italianos, eram absolutamente impecáveis, como se saídos da fábrica.

Era também um brincalhão. Por várias vezes, quando caminhávamos pelas ruas de New York quando ele ia lá e, juntos seguíamos rumo a algum compromisso, às vezes me provocava: “este é um país muito rico e muitas pessoas dão pouco valor a praticamente tudo”. Vou lhe dar um exemplo. Geralmente, nos telefones públicos por onde passávamos, ele apertava a tecla que acionava o fone e, simultaneamente, quase sempre caía uma moeda de 25 centavos, desleixadamente esquecida por algum apressado.

Um fato carinhoso que sempre acontecia comigo: todas as vezes que falávamos ao telefone, ele em qualquer lugar do mundo e eu em Nova Iorque ou que nos encontrávamos, sempre as primeiras perguntas dele eram, invariavelmente: “como está sua família, a sua esposa, filhos e mãe? Como está a sua saúde?”

O Sr. Joseph, por minha recomendação e aceitando uma sugestão do meu conterrâneo e amigo ministro José Aparecido de Oliveira, contribuiu de forma pessoal decisiva para a campanha final que culminou com a eleição de Tancredo Neves para a presidência da República.

Viajamos algumas vezes juntos para o exterior, acompanhados das esposas, como durante a realização da Reunião Anual do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, ocorrida na segunda semana de março de 1985 e que aconteceu, coincidentemente, com a data da frustrada posse do presidente Tancredo Neves. Segundo o que ele me relatou em telefonema naquele dia, é que havia a suspeita de a posse não ocorrer por suspeita de atentado ou golpe. Algumas horas mais tarde, no entanto, foi revelada, oficialmente, que a causa do impedimento de Tancredo era por doença mesmo, uma diverticulite aguda, mas que o vice José Sarney havia assumido, sem maiores problemas.

Dois dias após nos encontramos, com as respectivas esposas, em Viena, na Áustria, para a reunião anual do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Lamentavelmente, a bagagem deles sofreu extravio, tendo esse constrangimento sido resolvido apenas dois dias após.

Volto à figura do Sr. José. Ele era uma pessoa afável, formal, elegante, gentil e de gosto refinado. Apreciava as artes e curtia uma boa música, principalmente as clássicas. Naquela época, eu fumava e, por isso, ele tinha a delicadeza de sempre me trazer pacotes de cigarro Minister, todas as vezes que vinha do Brasil, comprados no FreeShop.

Soube que a coleção de obras de arte que o Sr. José acumulou impressiona. Cheguei a participar, em Nova Iorque, de alguns leilões na Christie’s e na Sotheby’s, com o objetivo de arrematar obras de arte que lhe despertavam apetite especial.

Em várias outras oportunidades estivemos juntos em suas raríssimas aparições públicas, como nos eventos do “Homem do Ano” em Nova Iorque ou nas tradicionais e memoráveis recepções oferecidas aos participantes das Reuniões Anuais do Board of Governors do Banco Mundial e FMI, em Washington, Estados Unidos, ocorridas nos salões do  National Galery of Arts, em conjunto com o Republic National Bank.

Encontramo-nos nos últimos anos, em algumas raríssimas ocasiões, em almoços reservados na sede do Banco Safra na avenida Paulista e sempre vinha dele, gentilmente, o convite para voltar a trabalhar como um dos executivos do Grupo Safra, o que muito me honrava.

Desde quando deixei o Banco Safra recebia, sempre ao final de ano, o livro de arte editado pela instituição retratando um museu brasileiro, acompanhado por um cartão de boas festas. No ano passado, por coincidência, o livro encaminhado retratou o Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte, após um pedido pessoal meu, ocorrido alguns anos antes.

Em décadas, foi Joseph conhecido carinhosamente entre os funcionários por “seu José”, que comandou o banco fundado por seu pai. Ele passou, principalmente, durante os últimos anos de sua existência na Suíça, ao lado da mulher Vicky, com quem se casou em 1969 e teve quatro filhos: Jacob, Esther (que chegou a trabalhar durante um ano no banco), Davi e Alberto. Apesar de debilitado pelo mal de Parkinson, ainda se mantinha presente no dia a dia dos negócios, até o final de seus dias.

Perto de completar 70 anos, Joseph começou a colocar em curso seu plano de sucessão, para entregar o comando dos negócios aos filhos. A troca de bastão, no entanto, acabou sendo adiada por causa da crise financeira global de 2009. Mesmo nas grandes crises financeiras, o banco nunca precisou de socorro do governo. Mas, nos bastidores, o banqueiro sempre esteve perto do poder. 

Há relatos que a “mudança” de seu José com Vicky para Geneva, na Suíça, nos últimos anos que antecederam a sua morte pode ter sido provocada por um mix de absoluta decepção com o ritmo e o curso da economia nacional. Ele sempre se declarava um apaixonado pelo Brasil e afirmava, pelo menos para mim, “que este era um país abençoado, onde não tinha deserto, furacão, terremoto nem neve e dispunha incontáveis e inimagináveis riquezas”, mas mesmo assim, ainda o Brasil estava muito distante de  encontrar nem achado o seu destino e futuro.”

Deixo aqui registrado e mais uma vez, o meu profundo pesar e sentimento por esta irreparável perda, bem como as minhas condolências e o abraço fraterno a toda família Safra e, especialmente à sua esposa Vicky e filhos.

Gostaria de finalizar com uma única frase: considero-me um privilegiado de haver convivido pessoalmente com esta grande figura humana chamada Joseph Yacoub Safra. Que o nosso Deus o tenha para a eternidade e que a sua obra seja continuada!

O mundo secreto dos Safra
O mundo secreto dos Safra
Joseph Safra Banco
Joseph Safra Banco
Edmond
Edmond

Carlos Alberto Teixeira de Oliveira foi Executive Vice-Presidente- CEO do Safra National Bank of Ney York, NY – USA – É Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis. Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais.  Ex-Presidente do BDMG e ex-Secretário de Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais; Ex-Presidente do IBEF Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento; Coordenador Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico e Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas. Presidente/Editor Geral de MercadoComum

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