Fernando Soares Rodrigues*

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Os juros básicos da economia, a taxa Selic, no menor patamar histórico de 2% ao ano, e a previsão de inflação ao término de 2020 abaixo deste percentual determinam o comportamento dos investidores.

Para o investidor estrangeiro acabou a grande atratividade histórica da renda fixa no Brasil, na medida que o juro real (taxa Selic menos a inflação projetada para os próximos doze meses) encontra-se negativo na faixa de menos 0,7%.

Muitos não se contentam em obter apenas a recomposição parcial da inflação para suas aplicações financeiras. E buscam as tradicionais opções de risco e reserva de valor como ações, dólar, ouro, fundos multimercados, moedas virtuais, imóveis e qualquer outro tipo de bens que ofereçam perspectiva ou a ilusão de rentabilidade real expressiva.

No cenário financeiro de agosto de 2020 ofereciam rentabilidade real negativa desde as cadernetas de poupança e fundos de investimentos DI, os que acompanham a alta dos juros básicos, até os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) que pagavam até 100% das taxas dos Certificados de Depósitos Interfinanceiros (CDIs) que por sua vez acompanhavam de perto a taxa Selic.

Fundos e poupança

Os títulos públicos remunerados pela Selic, que são os “queridinhos” dos analistas e da maioria dos jornalistas de economia, também não escapavam da baixa rentabilidade já que também estão sujeitos às pesadas alíquotas do Imposto de Renda.

Nos fundos DI, as perspectivas não são das melhores. Além do IR tradicional que incide sobre a rentabilidade deles através do sistema de “come cotas” de seis em seis meses, os bancos também não ajudam quando cobram taxas anuais de administração superiores a 0,5%.

Não há pressa para se transferir o dinheiro da conta corrente para a poupança que oferece rentabilidade anual próxima de 1,4% ao ano correspondente a 70% da taxa Selic. Em alguns bancos, por conveniência deles, os recursos ficam depositados na poupança e são transferidos para cobrir os saques na conta corrente. A poupança “velha”, anterior a 2012 continuam oferecendo os 0,5% de rentabilidade ao mês ou 6,17% ao ano, e quem ainda as tem deve manter os recursos aplicados.

Imóveis

Os imóveis residenciais que chegam a oferecer rentabilidade superior a 0,5% ao mês nos alugueis tornam-se mais atrativos e contribuem para estimular a aplicação de recursos no setor. Em compensação, os alugueis comerciais tem seus preços reduzidos com o fechamento de lojas e de empresas de serviços que ocupavam grandes espaços em edifícios comerciais. A crise da pandemia estimula o chamado “home office” ou obrigam empresas de serviços a fecharem.

Apesar dos corretores de imóveis passarem através da “grande mídia”, perspectivas excessivamente otimistas para o setor, não se pode esquecer que o desemprego formal aproxima-se dos 15% e pode chegar até a 20%, dependendo da extensão da pandemia, conforme estimam especialistas do setor. A rentabilidade dos alugueis e imóveis residenciais é contida pelo desemprego formal, o desemprego em geral, desalento (quem não procura mais trabalho) e pela fragilidade das contratações com carteira assinada.

Dólar e ouro

Com a instabilidade gerada pelos desmentidos sobre a saída do ministro Paulo Guedes, da Fazenda, principal avalista da política econômica liberal e da contenção de gastos na economia, o dólar fixou pressionado em agosto de 2020 e aproximou-se dos R$ 6,00 no câmbio turismo considerando-se as taxas cobradas pelas casas de câmbio. A moeda norte-americana tem seu potencial de alta associado as políticas econômica e partidária e a fatores externos.

Investir na moeda norte americana em espécie (papel moeda e em cartões de débitos pré-pagos) é sempre uma opção a ser considerada, bem como a aplicação de recursos mais vultosos através dos fundos cambiais. O dólar costuma subir e às vezes recua, mas não volta ao preço inicial da compra. Essa é das poucas certezas mais encontradas sobre a política cambial. E mesmo assim, não é possível confiar muito nela. As oscilações para cima e para baixa do dólar são sempre possíveis de acordo com o comportamento da economia.

Dólar em alta ajuda a impulsionar ainda mais a cotação do grama do ouro que atingiu a faixa de R$ 350,00 em agosto no Brasil, após o metal alcançar os US$ 2 mil a onça-troy (31,1 gramas) na bolsa de mercadorias de Nova York. A valorização do metal superior a 50% no primeiro semestre estimulou a sua maior extração por garimpeiros e mineradoras em todo o mundo. A procura cresceu e continua em alta por pequenos e grandes investidores principalmente na Ásia com destaque para Índia e China.

No Brasil, pode-se investir em ouro através da compra de barrinhas de 250 gramas ou através de aplicações custodiadas na B3 (bolsa de valores e mercadorias de SP). As barrinhas ficam sujeitas ao roubo e ao pagamento de vistoria a cada venda. O ideal é a compra dos certificados de ouro na B3 ou nos fundos lastreados no preço do metal.

Nada impede que o ouro suba mais dependendo do dólar que lhe serve de parâmetro de valorização juntamente com o preço do metal em Nova York.

Ações na crise

Dependendo do ritmo de recuperação da economia e da rentabilidade das companhias, as ações são ativos a serem consideradas pelos investidores que se sujeitam ao risco e que dispõe de recursos livres de destinação imediata para aplicação. É cada vez maior o número de investidores na B3. O total alcançou 29 milhões em agosto. Eles são estimulados certamente pelo juro básico da economia.

O Ibovespa, o índice das ações mais negociadas na B3, chegou acumular perda de 36,8% em marco passado quando recuou para cerca de 63 mil pontos. Depois fechou julho com queda de 11%, e em agosto continuou em recuperação acima dos 100 mil pontos.

Fatores econômicos também estimulam as aplicações em ações. Pelo boletim Focus do Banco Central (BC), a situação da economia ficou menos pior em agosto já que a previsão de recuo anual do Produto Interno Bruto (PIB) rondava os 5,5% negativos. O dólar fecharia o ano no patamar de R$ 5,20, a Selic nos atuais 2% ao ano, o superávit comercial na faixa de US$ 55 bilhões, e estava previsto a entrada de US$ 55 bilhões em investimentos estrangeiros diretos.

Na bolsa brasileira pesavam contra os fracos resultados apresentados pelas principais companhias no segundo trimestre deste ano, e inclusive bancos, devido à retração de negócios provocada pela pandemia. Os investidores estrangeiros retiraram R$ 82 bilhões no acumulado do ano até 19 de agosto, e mesmo assim, o total referente a este item encontrava-se positivo em R$ 2,9 bilhões.

Para se aplicar em ações é sempre aconselhável acompanhar o mercado diariamente, e com ajuda de analistas detectar-se as ações que oferecem maior potencial de alta.

*Jornalista especializado em economia e finanças

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