Selic demora conter inflação
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Selic demora conter inflação

Seu Dinheiro

Fernando Soares Rodrigues*

Selic demora conter inflação

Acompanhar o desenrolar dos principais fatos econômicos nacionais e internacionais é determinante para quem quiser obter ganhos ou perder menos nos mercados de renda fixa e variável.

Na área econômica do governo e no exterior podem ser visualizadas as melhores opções de cada um no mercado de capitais de acordo com as disponibilidades financeiras e o grau de tolerância a riscos. Inflação, juros básicos, indicadores cambiais e balança comercial devem ser acompanhados de perto.

Um dos poucos remédios que o Banco Central (BC) dispõe para conter a alta dos preços é o reajuste da taxa básica de juros que impacta diretamente a remuneração dos ativos de renda fixa, os preços do dólar e das ações e, em seguida, os empréstimos bancários. Esse “medicamento” é tradicionalmente de efeito demorado.

Por isso, o reajuste da Selic que atingiu 12,75% ao ano no início de maio passado certamente ainda vai demorar um pouco para ajudar a conter a inflação que alcançou 12,13% no acumulado dos últimos doze meses anteriores à abril passado.

Selic derruba dólar

Os efeitos sobre o dólar comercial são inegáveis. A moeda norte-americana que chegou a atingir R$ 5,72 no ano passado recuou para R$ 4,80 na segunda quinzena de maio, após oscilar para cima e para baixo no faixa de R$ 5,00. O último boletim Focus do BC estima que a moeda norte-americana terminará o ano neste patamar.

Há que se considerar também a alta de 0,5 ponto percentual nos juros básicos dos EUA que oscilam agora entre 0,75% ao ano e 1% ao ano. O Fed, o banco central dos EUA, tem condições de elevar esta taxa para 3,5% ao ano nos próximos meses para conter a inflação de lá. Se isso ocorrer, os títulos americanos ficam ainda mais atrativos, o que estimula a fuga de capitais para lá. Menos dólar no mercado brasileiro estimula sua alta frente ao real.

Dólar alto é um dos fatores que torna o petróleo e demais produtos importados mais caros. Não se pode atribuir só à inquietação política do presidente Bolsonaro a alta do dólar em 2021 que pressionou a inflação. Alguns especialistas acham que, apesar da indiscutível competência do presidente do BC, Roberto Campos Neto, a autoridade monetária demorou por demais a reajustar a Selic que permaneceu por longos meses em 2021 na faixa de 2%. O juro real no Brasil ficou negativo, o que desestimulou a entrada de capitais estrangeiros no mercado de capitais e pressionou o dólar. A moeda norte-americana elevada, por sua vez, pressionou a inflação. E, num momento em que os preços de todas as commodities encontram-se em alta no mundo. Desde os preços da tonelada de minério de férreo ao barril petróleo e principais grãos como soja, milho, trigo.

Culpa do governo

O governo e o BC têm suas parcelas de culpa na alta do dólar. O BC demorou a reajustar a Selic temendo os impactos na contenção do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Mesmo com a Selic em alta – pode superar a faixa de 14% ao ano, agora em junho – o PIB tem condições de fechar o ano melhor dos que as expectativas iniciais, na faixa de 2% segundo o ministro Paulo Guedes, da Fazenda, ou na faixa de 1,5% segundo fontes do mercado financeiro.

A guerra na Ucrânia colabora para a alta da inflação na Europa, nos EUA – alta de 8,3% nos 12 meses anteriores a abril –, e no resto do mundo. O barril do petróleo superou o patamar de US$ 100 e ajuda a internalizar a inflação no Brasil. O custo do transporte das mercadorias eleva os preços de tudo.

O governo tenta realizar uma mágica difícil: conter a alta dos combustíveis. Não considera que é missão impossível sem destruir a estrutura financeira da Petrobrás como ocorreu no governo Dilma Roussef. Apesar da quase auto-suficiência do Brasil em petróleo, 30% do óleo diesel consumido no mercado interno vem do exterior. E o País importa cerca de 10% da gasolina consumida pelos seus veículos. O País ainda importa cerca de 500 mil barris diários de um tipo de petróleo que não produz, mas é utilizado pelas refinarias.

Se a Petrobrás vender esses combustíveis mais baratos do que os valores deles no exterior fica no prejuízo. Menores lucros afetam suas ações e dividendos pagos a seus acionistas – o governo é o maior.

Trocar o presidente da Petrobrás com frequência não resolve a questão.

Análise de opções

Como a Petrobrás é uma das principais ações da B3, a bolsa brasileira, sua perda de valor dificulta a reação do índice Bovespa que patina na faixa dos 110 mil pontos.

Ações de companhias exportadoras como a Vale – minério em alta – de bancos com juros em alta são sempre boas opções. É preciso analisar com especialistas de confiança a melhor hora de comprar e vender.

Os fundos cambiais ou a compra de dólar em espécie ou no câmbio turismo serão boas opções se a moeda norte-americana subir bastante. Se o dólar ficar na faixa de R$ 5,00 como previsto pelos analistas financeiros, essa opção não será lucrativa.

Os principais ativos de renda fixa são boas opções se a Selic continuar em alta e a inflação recuar para cerca de 8% no final do. Os títulos públicos com rentabilidade atrelada à inflação eram as melhores opções no final de maio.

As cadernetas de poupança com rendimento fixo de 0,5% ao mês mais TR perderam para a inflação nos últimos meses e vão continuar neste patamar. Mas as cadernetas continuarão sempre com boa opção para guardar as pequenas e médias economias – valores abaixo de R$ 50 mil.

Os Certificados de Depósitos Bancários –CDBs pagam taxas acima de 100% dos CDIs – taxa atreladas à Selic – nos valores mais elevados, dependendo do banco emissor.

*Jornalista especializado em economia e finanças

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