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O esplendor da antiga Pampulha voltaria a ser o que era?
Chega de sobrevidas!

 

Todas as cidades, em todo o mundo, exibem para si e para os estrangeiros o cartão que guardam como representação
de seu orgulho em sua história. Em Nova York, o Central Park, com seu paisagismo secular, é sua grande referência;
em Paris, a inabalável Torre Eiffel é a mostra que identifica a Cidade Luz e encanta o visitante; em Londres, o imponente
Buckingam embriaga a vista até dos londrinos; no Rio, o Pão de Açúcar é a pedra que se alia ao azul marítimo e reconta
aquela descoberta maravilhosa.

Belo Horizonte também o tem. É o conjunto da Pampulha, em seu lado oeste, com aquela mancha (inicialmente) verde,
em torno da qual, com todo requinte, sensibilidade e carinho, a prancheta nova do genial Niemeyer instalou a audaciosa
e arrojada igrejinha, a adorável Casa do Baile (cujas curvas já o sugerem), o Iate Clube, onde pompeava a alegria dos
belorizontinos endinheirados e o saudoso Cassino da Pampulha, disputadamente frequentado na época em que
a lei permitia o jogo e o alarido dos que lhe deram vida.

Todos esses poemas que se conceberam para o prazer e o entretenimento de nosso povo foram coloridos pelo pincel
admirável de Burle Max, e as imagens delirantes de Portinari completaram a cena magnífica. As épocas passadas
agradecem, e não será por falta daquela lembrança mundana e ruidosa que a Pampulha oferecia é que iremos relegá-la,
não, porque a história só pertence a ela e a seu tempo, e hoje ressurge como o local romântico e elegante, um tanto
esquecido pela administração pública municipal, mas sempre credor de nossa admiração e renovado entusiasmo com
orgulho por contá-la como nossa maior maravilha. Dia virá em que nossos gestores, que tanto reverenciam seu imortal
criador, o prefeito Kubitschek, atribuam à criatura o cuidado e as homenagens que sua sobrevivência requer.

Contudo, a imprensa tem mostrado aos belorizontinos a maior doença de nossa cidade: a poluição contagiosa, triste e
vergonhosa da maior atração da nossa antiga Cidade Vergel.

Aliás, a manchete é recorrente, enquanto recorrente também é a administração pública municipal, prometendo os candidatos a ela uma grande operação de salvamento, e, quando empossados, omitindo-se ou não mais que
mitigando as dores daquele organismo agonizante.

Falam ambientalistas dos estertores daquele cartão postal, gritam os preservadores daquele exuberante patrimônio
arquitetural e físico, desencantam-se os moradores, protestam os belorizontinos, rugem os usuários e malham os
que alguma voz possuem em nossa comunidade. Nada, até hoje, conseguiu reunir a mobilização de forças citadinas para
conter o previsível fim daquela doce paisagem que inspira os namorados, alegra os transeuntes e engalana a cidade.

Visitantes deste Brasil e do exterior já se embriagaram com a Pampulha, criada pelo espírito mais sensível que já ocupou a sede do poder público municipal. A Pampulha, na verdade, nasceu com Juscelino e morreu com ele. Morreu porque a
criatura não recebeu as necessárias carícias de quem as devia, porque, ainda jovem, não lhe foram dirigidas atenções que carecia para conviver com os ribeirões que lhe são tributários.

Seu final é agônico, pois os mesmos que lhe declararam amor não honraram suas promessas. É pena, mas a administração municipal, diante de evidências que a cada dia se multiplicam, só se movimenta quando a imprensa oferece as denúncias – melhor dizendo contribuições – e então, diante do quadro sempre catastrófico, adota uma ou outra providência que nada muda o quadro inquietante que angustia moradores e usuários. E não há muito a dizer; o retrato da catástrofe é não só revelado em preto e branco como ao vivo. Muito a fazer é a ordem. E não se aleguem motivos que impeçam uma ação intensa (porque é permanente) e eficaz para barrar o assoreamento e o envenenamento da lagoa. Se os recursos abundantes e sempre presentes para propaganda pessoal fossem canalizados para o soerguimento da Pampulha, onde, aí sim, patenteia o interesse público, a nossa esquecida e infeliz Pampulha, poderia hoje ostentar a beleza e o vigor que abasteceram sua curta existência.

O protesto pela situação crítica em que se encontra a nossa lagoa e a súplica de todos nós pela sua recuperação é
muito pouco que o povo pede à administração municipal.

Chega de sobrevidas ameaçadoras ! Será que os trabalhos de saneamento iriam abalar as finanças municipais ? É o
mínimo que esta pacífica capital pede, é pouco o que seus habitantes aguardam do poder público, e este pouco é tudo
que se espera para que voltem a desfrutar daquele conjunto magnífico todos os que de lá se afastaram.

Que a Pampulha volte a ser o que era, aquele convidativo e agradável recanto, freqüentado pelos pássaros e pela
“jeunesse doré” que lá bailou nas curvas instigantes de mestre Niemeyer.

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