ESPONTANEIDADE DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

 

O ambiente internacional continua pouco amigável aos emergentes, cujos ativos e moedas continuam a ser moderadamente pressionados por um clima de aversão ao risco, pelo recuo nos preços das commodities metálicas e pelo fortalecimento do dólar (apesar dos sinais de desaceleração da economia dos EUA). Vários focos de incerteza contribuem para a nebulosidade: além da disputa comercial entre EUA e China, o petróleo segue volátil em função de tensões geopolíticas, eleições aumentaram a fragmentação e a polarização no Parlamento Europeu e as eleições de 2020 nos EUA já despertam preocupação.

As parciais das sondagens econômicas PMI de maio mostram que as principais economias mundiais continuam enfraquecidas, embora EUA e Japão estejam mostrando sinais incipientes de estabilização, a sugerir que o pior momento do esfriamento econômico recente nestas regiões pode ter ficado para trás. O destaque negativo das sondagens mais recentes foi a desaceleração mais pronunciada observada nos EUA – onde, além dos riscos associados à guerra comercial, começa a pesar a diluição do impulso fiscal de 2018 e os elevados níveis de endividamento das empresas (já apontado pelo Fed como um fator de preocupação). A desaceleração americana contratada neste ano e no próximo, portanto, continua sendo o cenário mais provável. Por sua vez, a China, que vinha registrando sinais de estabilização, tem sentido os efeitos adversos do recrudescimento das tensões comerciais: a moeda chinesa voltou a se depreciar. Ao lado disso, a percepção de risco financeiro na China também recrudesceu, depois que os reguladores locais assumiram o controle de um banco de pequeno porte, no final da semana passada, sob a justificativa de “sério risco de crédito”.

Tendo fonte maior de volatilidade do lado internacional, o clima político doméstico também tem contribuído para acentuar a volatilidade cambial: as recentes manifestações pró-Bolsonaro podem ajudar a limitar a erosão do capital político do presidente, mas dificilmente contribuirão para arrefecer a animosidade entre Executivo e Legislativo.

Por um lado, as manifestações não foram avassaladoras, o que daria licença para Bolsonaro agir como imperador absolutista; por outro, também não foram um completo fracasso, o que daria a primazia da agenda ao Congresso. Como resultado, o presidente veio sugerir um “pacto” de cooperação entre os demais poderes pela aprovação da agenda prioritária do Governo Federal (com destaque para a econômica e a de segurança).

Embora a ideia seja poética, com a aparente intenção de redução da tensão entre os poderes, não se espera consequências práticas. De modo que o morde-e-assopra deve continuar sendo a marca do relacionamento entre o Executivo e os demais poderes (especialmente o Legislativo), com consequências negativas para o avanço da agenda quanto mais tensionada estiver a corda – combinação que não favorece a redução da incerteza, muito pelo contrário, milita pela deterioração do ambiente propício ao consumo e ao investimento.

Quanto à atividade, entre os indicadores recém-divulgados, chama a atenção o Caged benigno (com criação de quase 130 mil vagas em abril). Ainda assim, o balanço para a atividade é negativo: com a geração de emprego relativamente baixa e a inflação (especialmente de alimentação e combustíveis) elevada neste primeiro quadrimestre, bem como a recente piora das condições financeiras, a confiança do consumidor derreteu. No empresariado, a falta de clareza quanto aos rumos da agenda pós-reforma da previdência, além da fraca performance recente, justificam a piora dos indicadores de confiança (visível em todos os segmentos). A queda da confiança, pari passu com a queda de popularidade do presidente e o aumento da incerteza, tende a ser retroalimentada pelos dados negativos do PIB a serem conhecidos nessa semana – não se descartando nova rodada de queda para expectativa de crescimento em 2019 e, em breve, 2020.
O ambiente internacional continua pouco amigável aos emergentes, cujos ativos e moedas continuam a ser moderadamente pressionados por um clima de aversão ao risco, pelo recuo nos preços das commodities metálicas e pelo fortalecimento do dólar (apesar dos sinais de desaceleração da economia dos EUA). Vários focos de incerteza contribuem para a nebulosidade: além da disputa comercial entre EUA e China, o petróleo segue volátil em função de tensões geopolíticas, eleições aumentaram a fragmentação e a polarização no Parlamento Europeu e as eleições de 2020 nos EUA já despertam preocupação.

As parciais das sondagens econômicas PMI de maio mostram que as principais economias mundiais continuam enfraquecidas, embora EUA e Japão estejam mostrando sinais incipientes de estabilização, a sugerir que o pior momento do esfriamento econômico recente nestas regiões pode ter ficado para trás. O destaque negativo das sondagens mais recentes foi a desaceleração mais pronunciada observada nos EUA – onde, além dos riscos associados à guerra comercial, começa a pesar a diluição do impulso fiscal de 2018 e os elevados níveis de endividamento das empresas (já apontado pelo Fed como um fator de preocupação). A desaceleração americana contratada neste ano e no próximo, portanto, continua sendo o cenário mais provável. Por sua vez, a China, que vinha registrando sinais de estabilização, tem sentido os efeitos adversos do recrudescimento das tensões comerciais: a moeda chinesa voltou a se depreciar. Ao lado disso, a percepção de risco financeiro na China também recrudesceu, depois que os reguladores locais assumiram o controle de um banco de pequeno porte, no final da semana passada, sob a justificativa de “sério risco de crédito”.

Tendo fonte maior de volatilidade do lado internacional, o clima político doméstico também tem contribuído para acentuar a volatilidade cambial: as recentes manifestações pró-Bolsonaro podem ajudar a limitar a erosão do capital político do presidente, mas dificilmente contribuirão para arrefecer a animosidade entre Executivo e Legislativo.

Por um lado, as manifestações não foram avassaladoras, o que daria licença para Bolsonaro agir como imperador absolutista; por outro, também não foram um completo fracasso, o que daria a primazia da agenda ao Congresso. Como resultado, o presidente veio sugerir um “pacto” de cooperação entre os demais poderes pela aprovação da agenda prioritária do Governo Federal (com destaque para a econômica e a de segurança). Embora a ideia seja poética, com a aparente intenção de redução da tensão entre os poderes, não se espera consequências práticas. De modo que o morde-e-assopra deve continuar sendo a marca do relacionamento entre o Executivo e os demais poderes (especialmente o Legislativo), com consequências negativas para o avanço da agenda quanto mais tensionada estiver a corda – combinação que não favorece a redução da incerteza, muito pelo contrário, milita pela deterioração do ambiente propício ao consumo e ao investimento.

Quanto à atividade, entre os indicadores recém-divulgados, chama a atenção o Caged benigno (com criação de quase 130 mil vagas em abril). Ainda assim, o balanço para a atividade é negativo: com a geração de emprego relativamente baixa e a inflação (especialmente de alimentação e combustíveis) elevada neste primeiro quadrimestre, bem como a recente piora das condições financeiras, a confiança do consumidor derreteu. No empresariado, a falta de clareza quanto aos rumos da agenda pós-reforma da previdência, além da fraca performance recente, justificam a piora dos indicadores de confiança (visível em todos os seguimentos). A queda da confiança, pari passu com a queda de popularidade do presidente e o aumento da incerteza, tende a ser retroalimentada pelos dados negativos do PIB a serem conhecidos nessa semana – não se descartando nova rodada de queda para expectativa de crescimento em 2019 e, em breve, 2020.

Nessas circunstâncias, continua a crescer, nos mercados, a aposta de que o Copom tornará a reduzir a Selic. A este pleito crescente, Campos Neto respondeu, em recente reunião com empresários: teme que uma redução de juros, sem que as expectativas estejam bem abaixo da meta e o fiscal (previdência, ao menos) bem equacionado, possa produzir uma reação adversa, especialmente da curva de juros – com queda dos prazos mais curtos, aumento dos mais longos. O câmbio, também, tenderia a apresentar alguma depreciação. Tal reação das condições financeiras poderia ter um efeito negativo sobre a atividade doméstica, exatamente o oposto do pretendido. Sinaliza, por ora, que a manutenção dos juros continua sendo a melhor política.

Tendo em vista o esclarecimento do ponto de vista da autoridade monetária sobre o balanço de risco, adiamos nossa expectativa de corte de juros de julho para setembro – quando teremos uma maior visibilidade sobre a aprovação da reforma da previdência e, portanto, os efeitos adversos mencionados tendem a ser limitados. Além disso, o ritmo de atividade mais fraco poderá levar a revisões das projeções de inflação, para 2019 e 2020, para níveis abaixo da meta, fornecendo os elementos necessários para nova rodada de flexibilização monetária.

É claro que gargalos estruturais não serão resolvidos com flexibilização monetária, com uma geração quase espontânea de crescimento. Mas, tal qual as manifestações “espontâneas” da semana passada, podem fornecer algum incentivo para a reorganização de forças em favor da retomada da atividade econômica.

O relatório Focus desta semana contou com modesta alteração na expectativa do mercado para o crescimento do PIB de 2019, quando se projeta elevação de 1,23% (décima terceira semana consecutiva com revisão baixista desta rubrica). Ademais, o mercado manteve estável as projeções para inflação (4,07% em 2019 e 4% em 2020) e taxa Selic (6,50% em 2019 e 7,25% em 2020).

Na Zona do Euro, o índice preliminar de atividade (PMI composto) de maio ficou praticamente estável na margem, avançando de 51,5 para 51,6, corroborando com a perspectiva de perda de ímpeto da atividade na Europa, que deverá se manter no segundo trimestre de 2019. A retração foi determinada pela queda do crescimento tanto no setor de serviços quanto no setor de manufatura, representando a dimensão da desaceleração econômica. No segmento de manufaturas, os dados apontaram para uma retração em relação ao mês anterior, de 47,9 para 47,7, em patamar extremamente reduzido, resultante da queda do índice neste segmento na Alemanha (44,4 para 44,3 pontos), apesar do avanço observado na França (50,0 para 50,6 pontos). Da mesma forma, o segmento de serviços recuou na comparação marginal, de 52,8 para 52,5 pontos, decorrente da piora observada no setor na Alemanha (de 55,7 para 55,0), sendo observado avanço do setor na  França (50,5 para 51,7 pontos). Na região, a desaceleração da economia global, a perda de ímpeto das principais economias locais e os riscos políticos e comerciais, seguem como fatores preponderantes na desaceleração recente da atividade.

Foram divulgados os Índices de Confiança da FGV para maio, onde foram observadas, tanto pelo lado dos consumidores quanto pelo lado dos empresários, quedas no entendimento da situação atual a nas expectativas para os próximos meses (em nível mais acentuada), refletindo as frustrações com o atual nível de evolução da atividade e do mercado de trabalho, em conjunto com o elevado nível de incerteza econômica e política. A confiança dos consumidores recuou 3,2% na margem (em termos dessazonalizados), com pioras nas expectativas para os próximos meses e no entendimento da situação atual. Pelo lado dos empresários, a piora foi generalizada em todos os segmentos da economia: foram observadas quedas nos índices de confiança de serviços (-3,37 % em relação abril), do comércio (queda de -5,6%), da construção civil (-2,2%) e da indústria (recuo de -0,7% na margem).

quarta-feira, 29 de maio de 2019

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Negrito – Indicadores de maior relevância; (*) Estimativa Mediana – Bloomberg

Situação dos Mercados Internacionais

Comentários e Destaques

Externos: yield dos Treasury Bonds volta a recuar com os investidores inseguros com as perspectivas da economia mundial. Ações voltam a recuar. Fraca agenda nos EUA.

Internos: Campos Neto anuncia novas medidas de modernização do mercado financeiro. Na agenda, dados de crédito e resultado primário, ambos de abril.

Expectativa para os mercados domésticos

Expectativas de inflação ancoradas impedem a queda da taxa Selic

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que as expectativas de inflação se encontram ancoradas nas metas, apesar da piora do cenário de crescimento neste ano. Campos teme que uma redução da taxa Selic, nesse caso, poderia afetar a credibilidade do Banco Central, desencadear um aperto das condições financeiras, prejudicar a atividade econômica e pressionar a inflação. O presidente do BC citou as experiências malsucedidas de Turquia e Argentina em utilizar a política monetária para estimular a economia num quadro adverso de inflação.

Portanto, na sua visão, preservar a credibilidade do Banco Central é manter a inflação corrente baixa e a ancoragem das expectativas. Esta seria a melhor contribuição que o Banco Central faria para a retomada da atividade econômica.

Campos Neto também não concorda que o projeto de autonomia do Banco Central também contemple como objetivo de política monetária a suavização do ciclo de atividade econômica, ao lado da inflação. O presidente do Banco Central teme que se troque a inflação controlada pelo crescimento de curto prazo.

Congresso avança na votação das medidas provisórias que vencerão em 03/06

O Plenário do Senado aprovou, ontem, por 70 votos a favor e 4 contrários, o texto-base da Medida Provisória 870/2019, que reorganizou a administração do governo federal com a aglutinação de ministérios e a mudança de algumas de suas atribuições. Foi mantida a alteração feita na Câmara dos Deputados, que transferiu o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça e Segurança Pública para a pasta da Economia. O texto aprovado foi o Projeto de Lei de Conversão (PLV) 10/2019 do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), proveniente da MP. A matéria segue para sanção presidencial.

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou, ontem, a Medida Provisória 869/18, que muda a lei de tratamento de dados (13.709/18) para recriar a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), vetada quando da sanção. O texto também facilita ao poder público transferir dados pessoais a entidades privadas em certos casos. A matéria será enviada ao Senado.

Não houve acordo entre os líderes para a votação da Medida Provisória que reformula as contratações no setor de saneamento básico (MP 868/18), prevista inicialmente para a sessão de 28 de maio. Os pontos previstos na MP, que perde a vigência no dia 3 de junho, devem ser incluídos em projeto de lei por conta do impasse. Os líderes e setores interessados deveriam se reunir na quinta-feira (30) para definir os parâmetros do projeto de lei.

Ficou para esta quarta-feira a votação da Medida Provisória 867/18, que prorroga o prazo de adesão do produtor rural ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) até 31 de dezembro de 2020, sem restrições de crédito.

Expectativa de crescimento do crédito em 2019

O Relatório de Economia Bancária apresentou os resultados da Pesquisa Trimestral sobre Condições de Crédito, realizada em março de 2019. As instituições financeiras esperam que os saldos de crédito cresçam em 2019: 5,5% para grandes empresas, 5,0% para micro, pequenas e médias empresas, 8,0% para consumo de pessoas físicas, e 5,0% para crédito habitacional.

As projeções do BCB para 2019 são de crescimento de 7,2% do saldo total de crédito, com crescimento de 11,6% do saldo de crédito com recursos livres e recuo de -0,2% dos saldos de crédito direcionados, respectivamente. Para pessoas físicas e jurídicas, projeta-se expansão anual do estoque de crédito de 9,7% e 4,1%, respectivamente.

Já as projeções da LCA estão levemente mais conservadoras. Esperamos um crescimento de 6,2% do saldo total de crédito, com aumento de 12,5% do saldo de crédito com recursos livres e queda de 0,2% no crédito direcionado. Para pessoas físicas e jurídicas, projetamos expansão anual do estoque de crédito de 8,6% e 3,2%, respectivamente.

A tabela abaixo apresenta a evolução do saldo das operações de crédito.

 

Sondagem FGV: confiança no setor de serviços recua 3,1 pontos em maio, para 89,0

EUA: confiança do consumidor segue em alta em maio

O indicador do Conference Board atingiu a marca de 134,1 e superou as expectativas dos analistas (130). Como mostra o gráfico abaixo, o consumidor ficou mais confiante tanto com sua situação econômica atual, como com as perspectivas. Contribuíram para essa melhora o comportamento recente do mercado de trabalho, onde se destacam o crescimento robusto do emprego e dos salários, e o comportamento da economia em geral. A guerra comercial entre EUA e China que tem impactado negativamente os mercados financeiros, não abalou a confiança das famílias americanas. Desta forma, fica reforçado o cenário de recuperação do consumo das famílias neste trimestre e nos próximos. Segundo levantamento da Bloomberg, o consumo deve avançar 2,7% ao ano na passagem do primeiro para o segundo trimestre.

Legenda: MoM – comparado ao mês anterior, livre de efeitos sazonais quando relevante; YoY – comparado ao mesmo período do ano anterior; QoQ – comparado ao trimestre anterior, livre de efeitos sazonais quando relevante/ WoW – comparado à semana anterior, livre de efeitos sazonais quando relevante; Ytd – acumulado no ano contra o mesmo período anterior; a.s. – ajustada sazonalmente; a.a. – taxa anualizada; MM3M – média móvel de 3 meses.

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