Vem se consolidando um desempenho favorável dos mercados globais, a despeito da divulgação de indicadores apontando esfriamento adicional nas principais economias mundiais. Embora alguns indicadores recentes tenham sugerido que a atividade europeia parece vir se estabilizando, as estatísticas chinesas e norte-americanas mais recentes apontaram resultados decepcionantes, sobretudo (mas não só) para a atividade industrial.

O que tem contribuído para esse comportamento pouco mais benigno é a perspectiva de que as tensões geopolíticas, responsáveis pelo aumento das incertezas globais e pelo esfriamento do comércio mundial ao longo deste ano, tenderão a ser acomodadas (EUA x China, Brexit).  Outro fator que parece explicar o bom desempenho recente dos mercados globais é a injeção adicional de “adrenalina” monetária por parte dos principais bancos centrais do mundo. A política monetária está sendo flexibilizada nas principais praças mundiais – e não apenas através de redução de juros básicos (como ocorreu ao longo deste ano nos EUA, na China e na Europa). Nos EUA, por exemplo, o FED tem sinalizado que interromperá o ciclo de cortes de juros neste final de ano, mas voltou a injetar liquidez através da compra de ativos (para atender dificuldades pontuais no mercado interbancário, mas ainda assim uma reversão significativa).

Esses fatores de alívio de fato podem tornar o cenário internacional menos carregado na virada do ano. Mas, parece imprudente contar com um refluxo consistente de incertezas. Há muitos riscos a serem medidos: dificilmente EUA e China alcançarão um acordo abrangente, que possa servir de estímulo à aceleração do comércio mundial e a decisão do Senado americano de apoiar Hong Kong pode significar uma dificuldade adicional à negociações; as eleições britânicas podem resultar num parlamento fragmentado, frustrando expectativas de um acordo célere para o Brexit; as eleições nos EUA podem transcorrer sob clima político e econômico de elevada tensão (sobretudo pela ameaça de impeachment de Trump); o FED será pressionado (principalmente por Trump) a cortar os juros em ano eleitoral; Cristine Lagarde assume o Banco Central Europeu enfrentando um comitê de política monetária dividido em relação à fornecer estímulos quantitativos adicionais; e o Banco Popular da China precisa dosar seus estímulos monetários para evitar um aumento dos riscos nos mercados de crédito.

Assim, o ambiente externo continuará trazendo volatilidade aos mercados domésticos, com repiques transitórios de aumento da aversão global ao risco; e, num contexto de crescimento mundial morno, pouco contribuirá para a aceleração do crescimento da economia brasileira no curto prazo.

Aqui, a despeito da relativa calmaria nos mercados internacionais, a cotação cambial continuou sob pressão – com o dólar tendo alcançado, no começo desta semana, a sua maior cotação nominal da série histórica.

Essa alta recente do dólar está, em boa medida, relacionada ao resultado dos leilões de licitação de blocos exploratórios de petróleo e gás do pré-sal, que frustrou a expectativa de uma intensificação na entrada de divisas estrangeiras para pagamento de licitações e para futuros investimentos. Em depoimento público nesta 3ª-feira, dia 19, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também indicou a frustração com os leilões como um dos principais fatores por trás da pressão recente sobre o câmbio. Além disso, a depreciação cambial reflete o estreitamento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. Esperamos que a volta do crescimento econômico doméstico torno o país mais atraente à entrada de capitais no próximo ano.

Essa pressão cambial recente não tem vindo acompanhada de uma deterioração dos ativos brasileiros – que continuam beneficiados pelo bom desempenho dos mercados internacionais e pela percepção de avanço da agenda econômica doméstica. Ademais, a alta do dólar não deverá desencadear uma reação dos juros a fim de se conter seu repasse à inflação: continua a correr abaixo do centro da meta, com expectativas inflacionárias bem ancoradas. É bem verdade que pressões pontuais nos levaram a revisar a projeção de inflação de 2019, de 3,4% para 3,5% (frente à meta de 4,25%), em razão de três fatores: combustíveis  em alta (o grande repasse do câmbio ocorre aqui), alimentos (via proteínas, refletindo o aumento das exportações para a China) e energia elétrica (via aumento da chance de frustração da bandeira amarela, do nosso cenário). O primeiro risco já se materializou no aumento desta semana da Petrobras para as distribuidoras; o segundo risco de manifesta nos IGPs e nas coletas de preço da Cepea; o terceiro risco é binário de deve ser conhecido na próxima semana (o cenário base ainda contempla bandeira amarela). De todo modo, estas pressões tendem a ficar circunscritas ao último trimestre de 2019, com alguma probabilidade de adentrar o primeiro trimestre de 2020. Para 2020, nossa projeção é de inflação de 3,5%, também inferior ao centro da meta (4%).

Assim, os analistas da pesquisa Focus continuam a reduzir as suas projeções para a taxa básica de juros, convergindo para a nossa expectativa de Selic chegando a 4,25% no início de 2020 e lá permanecendo ao longo do ano. Assim, também as expectativas de mercado para o crescimento do PIB têm começado a melhorar, ainda que timidamente, amparadas na divulgação recente de indicadores de comércio e serviços que têm apresentado resultados favoráveis. De posse destes indicadores, inclusive, fechamos nossa projeção de PIB para o terceiro trimestre do ano: esperamos uma alta de 1% interanual, e de 0,4% na margem; números consistentes com nosso cenário de crescimento de 1% em 2019 e 2,5% em 2020. O impulso algo maior do FGTS em 2019 (com a expansão do limite do saque para 1 salário mínimo para aqueles que possuem até este valor em suas contas), em cerca de R$ 3 bilhões, vai se somar às promoções de fim de ano e aos juros mais baixos, além das notícias positivas sobre o setor imobiliário, para trazer uma sensação mais positiva com relação ao crescimento – especialmente se o cenário externo não atrapalhar. Adicionando-se a este caldo um ou outro avanço na agenda de reformas, tem-se uma receita para a confiança começar a engrossar.

 
 
 
 
 
 
Poucas alterações no relatório Focus desta semana, com destaque para a projeção de Selic ao final de 2020, incorrendo em um corte adicional da taxa no começo do ano próximo com a taxa alcançando 4,25% e se mantendo neste patamar ao longo de todo ano. Além disso, houve elevação da expectativa de crescimento do PIB em 2020, projetado em 2,17% (era 2,08% há uma semana, 2,00% há quatro semanas), para 2019 espera-se alta de 0,92%. A despeito das pressões de curto prazo (como aumento da tarifa de jogos de azar e energia elétrica), o mercado espera inflação de 3,35% em 2019 (mesma taxa da última semana, 3,26% há quatro semanas) e de 3,58% em 2020 (era 3,60% há uma semana, 3,65% há quatro semanas).
 
 
 
O varejo norte-americano avançou 0,3% na margem no mês de outubro, após recuar 0,3% no mês anterior, trazendo algum alívio quanto as perspectivas de desaceleração da economia norte-americana, com a percepção de que o consumo segue sólido, ainda que em ritmo mais lento do que o visualizado no início de 2019. Na comparação interanual, o índice apresenta crescimento de 3,1%. A produção industrial recuou 0,8% no mês de outubro, surpreendendo negativamente as expectativas de mercado, após recuar 0,3% no último mês. Na abertura, destaque para as quedas nos segmentos de manufaturas (-0,7% MoM), mineração (-0,7% em relação ao mês anterior) e serviços de utilidades públicas (-2,6% MoM). Na comparação interanual, a indústria registrou queda de 1,1% outubro (pior resultado nessa base de comparação desde outubro/2016), abaixo do observado no mês anterior (-0,1%).
 
 
Na China, os dados de atividade econômica em outubro apresentaram resultado abaixo do esperado, reforçando a tendência de desaceleração da economia chinesa que vem sendo observada nos últimos meses, em meio a uma forte desaceleração da demanda doméstica e global, refletindo os impactos da guerra comercial sobre a economia mundial. A produção industrial registrou crescimento interanual de 4,7% em outubro, após alta de 5,8% em setembro. As vendas varejistas apresentaram crescimento de 7,2% nesta mesma base de comparação (com queda expressiva nas vendas de automóveis), desacelerando em relação a setembro (quando observamos alta de 7,8%). O investimento em capital fixo apresentou crescimento de 5,2% em outubro, após avançar 5,4% no mês anterior.
 
 
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