

O que pensaria o chanceler Oswaldo Aranha quando aprovou o Estado de Israel?
Jayme Vita Roso
“As pessoas amam judeus mortos”. É com esta frase extremamente provocante que Sara Lipton resenha, em sua coluna no The New York Reviews of Books (24 de novembro de 2022, p. 31-5), o livro de Dara Horn, intitulado People Love Dead Jews: Reports from a Haunted House (Nova Iorque: Norton & Company, 2021, p. 272), que, entre outras coisas, sustenta severa crítica ao modo como o imaginário norte-americano – principalmente cinema, quadrinhos e a grande mídia em geral – transformou o holocausto em um produto a ser comercializado em sua indústria cultural.
Não é à toa que o tema do holocausto penetrou, de sobremaneira, a cultura popular norte-americana (a quantidade de filmes blockbusters sobre o tema assusta), chegando a ter infiltração nos discursos políticos, abalroando as mídias sociais de slogans e até mesmo aparecendo em pichações nas ruas. Políticos, influencers, celebridades e intelectuais, não raro, se dizem vítimas de perseguição, comparando a si mesmos como judeus numa empreitada contra nazistas. Ademais, aqueles que, ao menos num primeiro momento, se opuseram à vacinas e à máscaras, quando a covid-19 se espalhou pelos EUA, chegaram a usar a Estrela de Davi, em analogia à suposta perseguição do Estado que estariam sofrendo no uso obrigatório de máscara e vacinação.
O que embasa estes acontecimentos, que proliferam no imaginário social, tanto da direita quanto da esquerda?
É notável, e nos faz refletir muito, que livros sobre a história judaica e/ou a história do nazifascismo estão, vez ou outra, entre os best sellers da Amazon.
Por que este interesse súbito?
Reflito sobre o tema espinhoso e encontro ajuda em minhas elucubrações com as luzes do artigo de Sara Lipton.
O ponto nevrálgico que enlea o tema pode ser sintetizado na seguinte afirmação: por que a sociedade está fascinada com a morte de judeus, mas se importa pouco com os judeus vivos? Este é o assunto que está latente na obra de Dara Horn.
Combinando história, ciência social e história pessoal, ela pede aos leitores que pensem criticamente sobre o porquê de venerarmos, enquanto sociedade, histórias que tornam a destruição do mundo judaico uma narrativa convincente, grandiosa, ao mesmo tempo em que minimizam a atual crise do anti-semitismo. O objetivo do livro é desvendar, documentar, descrever e articular as infinitas maneiras não ditas pelas quais a obsessão popular por judeus mortos, mesmo em suas formas aparentemente benignas e cívicas , é uma profunda afronta à dignidade humana.
Digno de nota, Emile Zola, quando escreve seu forte artigo J’accuse! (Eu Acuso!), em 13 de janeiro de 1898, ataca, corajosamente, o antissemitismo presente no exército e no judiciário francês, oriundo do famoso caso Dreyfuss. Ele diz algo que replico aqui e que me inspira em escrever este artigo aos meus colegas: “Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu”.
Não há nada de novo no antissemitismo, ele é mais antigo que o Império Romano. A novidade está na espetacularização da perseguição judaica – como se a história tivesse parado em 1945! – em troca de, acidentalmente ou não, erigir uma cortina de fumaça para os problemas reais ainda enfrentados pela comunidade.
Encerro com uma frase, notável por sua sensibilidade, proferida por Einstein em um jantar no Jewish Club, em Nova Iorque, em 24 de março de 1979: “Não existe judeus alemães, não há judeus russos, não há judeus americanos. A única diferença é a língua do dia a dia. De fato, existem apenas judeus” (The Quotable Einstein. Nova Jérsei: Princeton University Press, 1996, p.97).
Essa é a novidade que nos horroriza hoje!
– Advogado, Escritor e Ambientalista
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