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“A causa das desordens atuais repousa no
primado concedido às finanças do mercado, a
sua instabilidade, a sua incapacidade de controlar
a evolução dos preços, que seja o da euforia da
alta – principalmente imobiliária – ou resultante do
pânico face à baixa e isto contrariando a crença num
crescimento ininterrompido”
Marc Ferro

Temos insistido que os economistas vem se mostrando sensíveis, preocupados e interessados mais do que muitos
advogados, quando se trata de enfrentar temas ambientais e suas repercussões sobre a vida humana. E o destacado
Olivier Godard, diretor de pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Professor da Escola Politécnica de
Paris, trabalhando num laboratório que cuida da economia ambiental, acaba de envolver-se num acirrado debate com
Claude Allègre, autor do livro “A impostura climática” (Editora Plan, 2010).

Allègre, ex-ministro no seu país, no seu trabalho, constrói uma pseudo denúncia sobre o que cognomina impostura
climática. Para ele, segundo a qual as emissões de gás, após a atividade humana que resultou na falida revolução industrial, teriam o efeito de afetar o clima planetário não passa de um mito sem fundamento científico, imposto à comunidade internacional, por pessoas inescrupulosas, ávidas de poder ou de glória pessoal.

Allègre, conhecido em seu país, como polêmico, agressivo mas bem formado, todavia, é inimigo dos ecologistas e
dos movimentos que se espraiam pelo mundo em prol da natureza. Apoda-os com termos rudes, maldosos, porque
chega a equipará-los às organizações mafiosas, interessadas em assumir o poder do mundo com uma mascarada farsa
ecológica. Sequer poupa cientistas de nomeada, que perfilam as teses do desenvolvimento sustentável sério e atuante (a conferir, em “Liberation – Sciences”)

Ora, pois, Olivier Godard, contratacando, recentemente, deu ao público, em companhia Jean-Pierre Passard, o livro
“Economia do Clima – Pistas para o após Kyoto” (Edição da Escola Politécnica, Paris, 2011).

Às vésperas do encontro Rio + 20, como alerta, sobretudo quando o Congresso Nacional votou o degradante Código
Florestal, com a manipulação de quem trocou a foice e o martelo pela motosserra, é necessário conhecer, resumindo,
o pensamento de Olivier, sobretudo sobre o percurso ocorrido a partir do evento internacional de 1992 e suas consequências.

Pessimista, esse economista de ponta, resumiu suas ideias em uma longa entrevista concedida à publicação “La
Recherche”, de primeira grandeza mundial, superior mesmo à celebrada Science. O número 460 da edição de fevereiro
de 2012 (p. 94/98), perfila o seu pensamento, produto de um cientista destemido, sobre o nebuloso futuro do planeta, guiado pelo homem consumista e adepto do capitalismo financeiro, como superiormente criticado por outros economistas de renome há cinco anos (Bernard Guibert e Serge Latouche).

Olivier Godard, como defende em seu livro, confrontandose
às ideias exóticas Allègre?
Eis os argumentos:
a) Sobre a Conferência Rio-92, para ele, o evento
foi globalmente negativo face ao que no conclave se
decidiu e aprovou e o que se concretizou após vinte
anos. Apesar de existirem, ajustados depois do evento,
vários tratados e conclusões, tais como, interdição de
produtos tóxicos, a proteção dos mares regionais etc., a
degradação ambiental se acelerou em escala planetária.
Sem apontar os desastres naturais, o que seria pior. E
ela vai progredindo, sobremodo após a crise de 2008,
que ainda perdura. Existe uma profunda erosão na
biodiversidade, que segue sem estanques.
E, seguindo na crítica, com franqueza, demonstra que
os congressos internacionais não mostram resultados
significativos (exemplo, a Convenção da ONU, em
Copenhagen, em 2009). Como os Estados-Nações não
levam a sério o que assumem, burlando o pactuado
de várias maneiras bem arquitetadas por juristas
internacionais, como nada é respeitado, tudo, enfim, é
um cinismo mascarado. Se, em 1992, haviam meios de
se iniciar um trabalho sério, hoje é tarde e será quase
impossível retroceder aos princípios aprovados há
uma década.
b) Como economista ético Olivier, se recusa a admitir
que ainda teria valor axiológico “a ideia de harmonizar o
desenvolvimento da economia humana e a prevenção
dos grandes equilíbrios do planeta”. Hoje, só há um
dilema: escolher um desenvolvimento muito pouco
durável ou um desenvolvimento sem duração.
c) Considera Olivier ambígua a tese sustentada
por organismos internacionais que, para enfrentar a
avassaladora crise europeia, a melhor terapia seria
a redução das atividades econômicas. Sobre isso,
desenvolve sensato argumento que nos oferece e
é irrefutável: quem pode garantir que, mesmo com
crescimento industrial igual a zero, a poluição diminuirá
e, ainda, haverá melhor repartição das riquezas? A
importância dos valores fundamentais do homem
supera qualquer teoria mecanicista.
Mesmo considerando a necessidade – ou quase –,
da substituição das energias convencionais pelas
renováveis, é duvidoso, para isso ocorrer, que sejam
necessários recursos advindos de novos empréstimos
entre os países. Aliás, enfático, sustenta: “o crescimento
verde pode ser um falso amigo do desenvolvimento
durável”.
d) Sobre a Convenção Climática e a da Biodiversidade
do Rio, cartesianamente, mostra-se cético, pois que,
entre os prováveis interlocutores, existe uma fossa a
separar interesses, não esquecendo, de que não há
uma lógica política de negociação. A perspectiva não dá
ânimo aos que atuam de boa fé.
e) Alguns teóricos, mais do que sonhadores, menos
bem dotados de conhecimento científico do que
Olivier, propuseram que, na próxima Convenção,
a biodiversidade fosse aceita e considerada como
“Patrimônio Comum da Humanidade”. Nós, os
brasilíndios já vimos esta história contada até em cordel.
Resultado: Ouro Preto: que é? Como está? Quem se
interessa pela cidade?
Sem recursos próprios, bem definidos, com fontes
confiáveis, com longos prazos de manutenção e
preservados de corrupção, essa ingênua proposta é
produto de ridícula construção mental.
f) Fazendo inveja a muitos internacionalistas que,
comparados com Olivier, são entranhados com o
capitalismo caduco, ele rejeita a ideia de se transformar a
Amazônia em Patrimônio Comum da Humanidade (sic!),
mas, bem objetivo, diz que “hoje, o direito internacional
é, essencialmente, um direito convencional, com os
Estados elaborando acordos internacionais fundados
em seus interesses mútuos”. E, continuando, “se
acolhida a ideia de Patrimônio Comum da Humanidade,
haveriam novas premissas de uma Nova Ordem Jurídica
Internacional: mais complexa, implicando a construção
de um direito de forma comum, entre os Estados”. Os
Estados não querem isso: ao contrário. Cada um procura
cuidar de si, mesmo consciente de que a biodiversidade
é tema que só universalmente pode ser apurado.
Num arremate especial, este escriba mostra-se também
cético e relutante face à hipocrisia dos atores, com o
evento no Rio de Janeiro. Servirá apenas para turismo,
uma vez que se justapõe aos verdadeiros e legítimos
objetivos da Rio 92, que teria de contemplar. Pena!

 

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