• Por José Aparecido Ribeiro

O jornalista Paulo Navarro publicou em sua coluna no Jornal O Tempo do último dia 18 de junho, questionamentos importantes sobre as falhas grotescas na BR 040 e seus gargalos, representados aqui pelos afunilamentos de pista nas passagens de viadutos antigos que não receberam a devida atenção pelo concessionário da via, com destaque para o trecho entre Congonhas até Juiz de Fora, onde concentram grande parte dos viadutos e pontes que continuam em pista simples, mesmo nos trechos que receberam alargamento com terceira faixa. Risco permanente de colisões frontais com 92% de chances de morte.

Na coluna  intitulada “SURPRESA”, o conhecido jornalista chega a se  indignar e convida a concessionária Via 040 para um exercício de cidadania, o recado é para os administradores da empresa. Paulo não se esquece do que ele chama de ASSASSINO Anel Rodoviário, que até o bairro Califórnia, foi assumido pela Via 040, sendo ela responsável, ainda que voluntariamente, pela manutenção do trecho. Só neste trecho do Califórnia ao bairro Olhos D´agua são seis estreitamentos de pistas, dois deles a verdadeira causa de tragédias envolvendo carretas que passam por cima de veículos menores no bairro Betânia – Passagem de nível do bairro Industrial e estreitamento de pista sobre a Av. Amazonas – provocando engarrafamentos onde não pode haver retenção de tráfego.

O tema teve repercussões e despertou o também jornalista Francisco Abreu e Silva que respondeu com precisão e detalhamento não só o que vem ocorrendo na BR 040, mas em praticamente todas as Rodovias Federais que atravessam Minas Gerais. Devido à importância do assunto e a nossa afinidade com o tema há pelo menos 25 anos, quando fundei a ONG SOS Rodovias Federais, tomo a liberdade de publicar aqui o texto do Francisco, com a sua devida autorização e a vênia do Amigo jornalista Paulo Navarro:

Por Francisco Abreu e Silva – Jornalista, respondendo a Paulo Navarro sobre BR 040 e os famigerados viadutos estreitos entre Congonhas e Juiz de Fora.

  • Texto na íntegra.

Na verdade, com raras exceções, todo nosso modal rodoviário é assassino e os responsáveis pelo poder Executivo neste país deveriam ser responsabilizados civil e criminalmente pelas mortes e invalidez temporárias e permanentes que ocorrem em progressão geométrica em nossa rede viária, seja ela federal, estadual ou municipal, incluindo aí as ruas e avenidas, pelo mau uso das verbas que deveriam ter sido destinadas ao desenvolvimento do modal rodoviário.

A mídia, de maneira geral tem mostrado o que se tem feito para atacar os efeitos (multas, bafômetros, fiscalização, proliferação de radares nem sempre justos), mas nunca menciona as causas reais do problema. Tem sempre colocado em evidencia a imprudência, a ingestão de álcool e enaltecido a “indústria da multa”, que nada tem de educativa, pois é meramente punitiva e arrecadadora, tornando-se mais um imposto, que nos leva cada vez mais a desistir do carro próprio e utilizar outras alternativas de mobilidade.

A título de exemplo, 60 km por hora era a velocidade máxima quando o fusca era o carro do ano, com frenagem a lona e sem nenhuma tecnologia que equipam hoje os carros modernos, cujo tempo de frenagem é muito menor que o fusca, por exemplo. Se todos os motoristas andarem a 60 km por hora, que é a maioria dos limites quando se aproximam de radares (pegadinha), teremos uma multiplicação imediata dos engarrafamentos em todo o país.

As causas do problema se resumem em três pontos:

1) Coloca-se neste país, mensalmente cerca de 280 mil veículos (A checar a exatidão deste dado), gerando impostos e empregos;

2) No entanto, a malha viária continua praticamente a mesma de 30 anos atrás, mostrando que a equação não fecha e uma viagem que levava uma hora 10 anos atrás, hoje leva duas ou três, se o motorista não obedecer toda a sinalização e legislação hipócrita que temos hoje, como por exemplo, se o motorista está com um carro possante e encontra um caminhão a 10 km por hora numa pista simples e aguardar a linha pontilhada, com certeza vai causar um engarrafamento quilométrico, sendo que este motorista gastaria alguns segundos para ultrapassá-lo. Se ultrapassa, mesmo sujeito a multa, aumenta em muito as chances de colisões frontais, principalmente pela inabilidade dos motoristas. Uma pista como a Rio-Bahia, por exemplo, que já deveria ter sido duplicada há mais de 30 anos, não tem em alguns trechos nem acostamento e volto a dizer, os nossos governantes que utilizaram mal o dinheiro público deveriam ser responsabilizados pelas perdas materiais e de vidas ali ocorridas;

3) O Sistema de treinamento e aferição de habilitação de motoristas é antiquado e passível de corrupção, colocando motoristas inábeis que no mesmo dia em que recebem a carteira de habilitação recebem o direito de dirigir em auto estradas, coisa que é terminantemente proibida em países de primeiro mundo, como Alemanha, por exemplo que somente permite acesso às rodovias após um ano sem falta grave. A revista veja publicou um artigo, que anexo ao presente, mostrando que lá, apesar de não haver limite de velocidade, o numero de acidentes por carro é x vezes menor que no Brasil. Naquele país, as autoestradas são perfeitas, os carros não são “amarrados com arame” e o motorista realmente faz jus à sua carteira de habilitação e como já dito, somente tem permissão para dirigir em autoestradas após conseguir a sua carteira definitiva, após um ano, sem falta grave.

A título de exemplo de como nossas leis são hipócritas e ultrapassadas, no Brasil até hoje se ensina e obriga a dar sinal de braço durante o exame, para nunca mais fazê-lo, pelo simples risco de ficar sem o braço, levado por um motoqueiro maluco que sempre está circulando entre os carros, apesar de ser contra a lei, mas nunca é multado por isto. No entanto, deixar seu carro estacionado por 30 segundos além do tempo, você terá grandes chances de ser multado, apesar de não colocar em risco a vida de ninguém, pois a guarda municipal que poderia estar protegendo o cidadão e seu patrimônio, está fiscalizando estacionamento rotativo, porque dá mais imposto, desculpe, multa.

4) O nosso país incentiva a aquisição de carros velhos com manutenção precária, através de redução do valor do IPVA a cada ano, quando deveria ser o contrário e não aplica a multa prevista por veículo sem combustível ou por falha de manutenção obstruindo pistas de rolamento, como previsto no CNT. (A verificar se este artigo do CNT não foi alterado) Assim, meu caro Paulo Navarro, você que tem espaço na mídia, analise, corrija e aprimore estes pontos, publicando-os, pois creio que se os nossos governantes focarem mais nas causas e não nos efeitos, teremos mais chances de em algumas gerações atingirmos um nível de pais civilizado.

*[email protected] – WhatsApp – 31-99953-7945

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