O “X” no lugar certo – Desafios e memórias da vida pública
O “X” no lugar certo – Desafios e memórias da vida pública
O “X” no lugar certo – Desafios e memórias da vida pública

Ex-governador Eduardo Azeredo lança memórias autobiográficas

Contendo 390 páginas será lançado, no próximo mês de março, pelo Instituto Cultural Amilcar Martins, o livro intitulado O “X” no lugar certo, memórias autobiográficas de Eduardo Azeredo. A apresentação coube a Amilcar Viana Martins Filho e a coordenação da edição ficou a cargo do jornalista Francisco Brant.

Este livro de memórias do ex-governador Eduardo Azeredo foi escrito durante o período em que ele esteve preso, no antigo Quartel do Corpo de Bombeiros, em Belo Horizonte e conta uma história de muito trabalho e determinação, onde ficam claros a modéstia e a retidão de caráter que marcaram tanto a sua vida pessoal, quanto a sua conhecida fidelidade ao estilo mineiro de fazer política.

Em sua apresentação, Amilcar Martins destacou:

“Com o sagrado inconformismo dos injustiçados, refuta as mentiras, as ignomínias e as infâmias dos seus acusadores. De forma corajosa e desabrida, mostra os responsáveis pela farsa que resultou na sua condenação. Com serenidade e firmeza, Eduardo repele sem hesitação, todas as acusações de seus detratores.

Seu depoimento, ao mesmo tempo em que é uma denúncia e um clamor por justiça dirigido a nós, seus contemporâneos, é também um importante documento voltado para a posteridade, um registro indelével para a história, para que as futuras gerações possam saber a verdade dos fatos, o que realmente aconteceu, e os nomes dos autores desta pantomina.

A mesma minúcia e sinceridade que dedica às lembranças da infância e da juventude, aplica também à descrição do dia a dia da sua vida na prisão, revelando mais uma vez, sem reserva e sem temor, tudo que lhe passava pela cabeça na solidão do seu quarto-cela no Corpo de Bombeiros. São momentos intermináveis de tristeza, melancolia e desalento, dúvidas e incertezas, saudades da mulher, dos filhos e netos, saudade dos irmãos e dos amigos, e uma profunda nostalgia do passado, de tempos mais amenos e mais felizes.”

E concluiu: “Apesar das circunstâncias francamente desfavoráveis em que foi escrito, mesmo ao relatar o sofrimento e as injustiças por que passou, o livro de Eduardo Azeredo reafirma, uma vez mais, não apenas o equilíbrio, a serenidade e a resiliência do seu autor, mas acima de tudo, o seu caráter a sua honradez.”

Escrito de maneira simples e direta, sem pretensões literárias, talvez o livro possa ser dividido em três partes distintas.

Na primeira parte de suas memórias, Eduardo descreve sua trajetória pessoal, desde sua infância e juventude em Belo Horizonte até o início da sua vida profissional. São recordações da sua vida em família, junto dos pais e irmãos na casa da rua da Bahia, ao lado da praça da Liberdade.

Lembra com carinho do Instituto Santa Helena, onde aprendeu as primeiras letras, do Colégio Estadual Central, referência de ensino em nosso Estado, onde fez o curso secundário e da Universidade Católica de Minas Gerai, hoje PUC Minas, onde graduou-se em Engenharia, antes de ingressar na carreira de Tecnologia da Informação na IBM. Fala da relação afetuosa com seus avós, as férias que passava com seus irmãos e primos em Santo Antônio do Monte e em Sete Lagoas e o convívio fraterno com os amigos que fez na infância e na juventude.

Mais importante, relata com emoção e orgulho o papel central que o inesquecível exemplo de honradez, e lealdade aos amigos, dado pelo seu pai, deputado Renato Azeredo teve na sua formação, como cidadão e como homem público. Com nostalgia e saudade, Eduardo nos conta ter assistido reuniões na sua casa com a presença de JK, Benedito Valadares, Tancredo Neves e tantos outros políticos mineiros.

A segunda parte do livro é uma espécie de prestação de contas da sua trajetória política, primeiro como administrador público, à frente da prefeitura de Belo Horizonte e do governo do Estado, seguida da sua passagem no parlamento, como Senador da República e como Deputado Federal.

Com um estilo franco e sincero, sem demagogia, reafirma suas convicções sobre as prioridades da administração pública no nosso estado e relembra, com justo orgulho, algumas das suas principais iniciativas e realizações como gestor de T.I, prefeito e governador.

Por outro lado, também a profícua atividade parlamentar como senador e deputado federal é rememorada, com destaque para alguns projetos de lei de sua autoria, como a obrigatoriedade de os veículos nacionais já saírem das fábricas com os dispositivos de air bag e a lei contra crimes na internet, além de presidir as Comissões de Defesa Nacional e Relações Exteriores no Senado Federal, Ciência e Tecnologias e Comunicação, na Câmara dos Deputados.

Na terceira parte do livro, Eduardo Azeredo denuncia com indignação a covarde injustiça de que foi vítima em um processo eivado de incorreções de toda ordem, como a utilização de um documento escandalosamente falso, forjado por um notório estelionatário e falsário, que resultou na sua condenação. Com coragem e altivez mostra a verdade dos fatos e registra o nomes de seus algozes, responsáveis por muitos meses de solidão e de sofrimento na prisão do Quartel do Corpo de Bombeiros.

A seguir, alguns destaques selecionados do livro:

Um processo absurdo: “Rodrigo Janot, procurador-geral da República, em decisão inusitada que ele anunciou em fevereiro de 2014, não só pediu a minha condenação, mas também sugeriu a absurda pena de 22 anos. Janot fez o que nenhum outro procurador jamais fizera: extrapolou suas funções para possivelmente atender determinada posição política e chamar a atenção da mídia, bem ao seu condenável estilo.

Relator da abertura do processo contra mim no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro Joaquim Barbosa usara uma cópia xerox falsificada de recibo que eu supostamente teria assinado. Só que, além de ser uma cópia xerox e não registrar o destinatário, tinha sido periciado como falso pelo reconhecido Laboratório de Perícias Técnicas Mauro Ricart. O fraudador era Nilton Monteiro, notório estelionatário que tentara extorquir ou havia extorquido dinheiro de várias pessoas e empresas, como mostraram os órgãos da imprensa mineira Estado de Minas, O Tempo e Hoje em Dia. A revista Veja também publicou matéria com ameaças do citado senhor a membros do PT que antes o incentivaram.”

“Não tenho dúvidas: enquanto não houver uma previsão legal, abusos dessas ordem continuarão a ocorrer. O problema é que, toda vez em que se fala sobre algum tipo de controle mínimo, logo os corporativistas dizem indevidamente que tal medida tem a finalidade de evitar denúncias de corrupção.

É esta a Justiça? – indago com profundo sentimento de indignação diante da injustiça do processo e da sentença. Como nossos grandes líderes do passado custearam suas campanhas? O empréstimo de um carro, a estadia em um hotel, o lanche do motorista, a impressão de santinhos, o pagamento de assessores de imprensa era declarado detalhadamente como hoje se exige? Não sejam hipócritas nem vamos fingir que desconhecemos a existência desses apoios a todos os candidatos em todas as eleições.

O contrário seria de se estranhar e perguntar: como um candidato de posses modestas tem dinheiro para custear sua campanha? Com possível exceção dos ricos e endinheirados, qual candidato deixou de receber auxílio de terceiros para se eleger?”

“É muito fácil, pois, dizer: ‘O Brasil que eu quero é um país sem corrupção’. Todos os homens de bem, como eu, também pensam assim. Mas não basta! Precisamos dizer também: ‘O Brasil que eu quero é o país onde todos tenham responsabilidade”; ‘O Brasil que eu quero é o país onde quem acusa possa ser responsabilizado se não provar sua acusação’.

A injustiça espera por justiça: “Não é fácil esperar decisões da Justiça que reparem injustiças cometidas. ‘Um dos problemas da Justiça, especialmente em nosso país, é a morosidade na resolução de processos. Há pessoas que há anos esperam ter sua sentença julgada em enquanto isso, ficam sofrendo em uma verdadeira via crucis.

Os primeiros dias que passei detido na Academia dos Bombeiros foram muito duros ante o desconhecido, a suspeição, as restrições sem sentido, a incerteza e, principalmente, o sentimento de inconformismo com o absurdo da situação, até humilhante, a que fui submetido”.

“Se verificarmos, pois, no dicionário ou no Google, o significado da palavra ‘estadista’, saberemos que este substantivo, usada para agradar a políticos e líderes, é quase sempre mal-empregado. No Brasil, dos últimos 100 anos, acredito, no entanto, que JK é sem dúvida digno deste título, por sua visão, magnanimidade, destemor, competência, conhecimento e amor à Pátria.

Mário Covas, Tancredo Neves. Ulisses Guimarães, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso são políticos que se destacaram na luta pelo retorno da democracia e preenchem os requisitos básicos do que é um estadista. Getúlio Vargas, se não tivesse sido ditador durante o Estado Novo, certamente o merecesse”.

“Tigre de presente – Mesmo antes do advento das fake news do mundo digital, as informações desencontradas já existiam. Ditados populares, como ‘onde há fumaça, há fogo’ ou ‘o povo aumenta, mas não inventa’, demonstram a necessidade de esclarecimento de certos assuntos, porque, além dos exageros, existem também os boatos de má-fé.

Quando Pimenta da Veiga assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte, em 1989, e eu, os cargos de vice-prefeito e de presidente da Prodabel, circulavam notícias de sumiço de animais de grande porte transportados do nosso zoológico para a fazenda do então governador Newton Cardoso, em Pitangui.

Em abril de 1990, ao assumir a titularidade da PBH, solicitei que as investigações continuassem e cobrei uma definição. A Corregedoria ouviu os funcionários do zoo, analisou documentos e concluiu que realmente 2 tigres e várias espécies de aves exóticas tinham sido levadas para Pitangui. Entretanto, relatório da auditoria afirmou tratar-se de venda legal. Neste caso, o tigre foi adquirido por um engenheiro de uma grande empresa, que o deu de presente ao ex-governador, seu amigo. Os funcionários do zoológico, segundo a Corregedoria, limitavam-se aos cuidados necessários para o transporte do animal. O processo foi arquivado, do ponto de vista da administração pública”.

Críticas da moda – “Destaco esses detalhes, por ter visto e ouvido o helicóptero passar por cima das instalações da Academia do Corpo de Bombeiros, quando em 2018 estava no pátio durante as duas únicas horas em que eu podia sair do recinto onde estive. O helicóptero passou e depois voltou, provavelmente trazendo o governador Fernando Pimentel para o Palácio das Mangabeiras, tal como fiz tantas vezes nos incontáveis deslocamentos para conseguir multiplicar as horas de trabalho.

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