*Por Adriano Macedo

Esta é a constatação de Jennifer Moss, especialista em workplace, membro do Global Happiness Council Committee das Nações Unidadas e autora do bestseller Unlocking Happiness at Work. Ela assina o artigo When Passion Leads to Burnout, publicado no dia 1º de Julho no site da edição canadense da Harvard Business Review.

Trago o assunto para uma reflexão após ler a notícia publicada no dia 4 de julho, em vários veículos de comunicação do Brasil relacionada à decisão da Justiça do Trabalho para que a TV Globo recontrate a jornalista Izabella Camargo, após a emblemática demissão no final de 2018 que estaria relacionada à síndrome de burnout (resultante de esgotamento emocional provocado pelo excesso de trabalho).

Durante décadas, aponta Jeniffer Moss, o burnout tem sido visto como algo sem prioridade, acusado de ser uma invenção, especialmente das gerações Millennials e Z, que buscam mais equilíbrio entre vida e trabalho.

O que ela traz de novo e que soa como uma provocação pertinente é que trabalhar com o que ama fazer pode ser emocionante, apaixonante, envolvente, mas também exaustivo e drenar a energia, levando ao esgotamento total, se a pessoa não tiver equilíbrio e estabelecer limites.

O fato é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o burnout na sua Classificação Internacional de Doenças como uma síndrome, resultado de fenômenos no contexto ocupacional, resultante de estresse crônico no local de trabalho e que não teve o endereçamento adequado da gestão.

A síndrome pode ser caracterizada, como aponta Jennifer Moss, por três dimensões:

1) Percepção de esgotamento ou exaustão.

2) Pensamento distante do trabalho, excesso de negativismo ou cinismo em relação ao trabalho de alguém.

3) Redução da produtividade ou eficácia profissional.

Embora o burnout possa afetar qualquer um, Moss ressalta que algumas funções e setores correm maior risco, como é o caso daquelas orientadas pelo propósito no trabalho. A pessoa se identifica tanto com o trabalho e se dedica a ele de maneira tão intensa que simplesmente não consegue mais equilibrar a atividade profissional com a vida pessoal.

No mesmo artigo, Moss menciona um estudo canadense sobre o assunto, conduzido pela Plasticity Labs, consultoria nas áreas de pessoas e cultura com ênfase em bem-estar, felicidade e desempenho. O resultado, após analisar as resposas de 3.715 empregados de 12 organizações, foi que os empregados orientados por propósito são significativamente mais estressados e com uma pontuação mais baixa para bem-estar, resiliência e auto-eficácia do que aqueles que não se orientam por qualquer tipo de propósito nas suas atividades profissionais, apesar dos claros benefícios provocados pelo sentimento de estarem significamente conectados ao trabalho. Executivos focados na missão, professores, diretores de escola e profissionais das áreas de saúde também correm maior risco de burnout.

Este é um tema complexo e que merece atenção. Ao comentar o estudo, David Whiteside, Ph.D. em comportamento organizacional e diretor de pesquisa da Plasticity Labs, apresenta algumas sugestões a gestores e empregados orientados por propósito, disponíveis no website da empresa de consultoria.

Para os Gestores:

1) Agradecer e reconhecer o esforço tanto quanto o resultado. Muitas vezes, os empregados orientados por propósito precisam saber que seus esforços estão sendo percebidos e apreciados. Agradeça o esforço em todas as etapas do processo.

2) Envolver ativamente os empregados na tomada de decisões. Eles sabem as oportunidades de melhoria no trabalho melhor do que ninguém.

Para os Empregados:

1) Levar a gratidão a sério. Primeiro, concentrar-se na gratidão. Escrever três coisas pelas quais é grato todas as noites antes de dormir e por que é grato por elas. Em segundo lugar, expressar a gratidão. Quando vir os colegas indo além, agradecer e comentar que vê seus esforços. Sentir e expressar gratidão estão fortemente relacionados ao próprio bem-estar pessoal.

2) Perguntar como você está? de maneira genuína. Uma comunidade forte ajuda muito a proteger o bem-estar das equipes orientadas por propósitos. Ninguém entende o estresse do seu trabalho como os colegas. E os check-ins frequentes podem oferecer uma oportunidade de redefinir e fornecer suporte onde necessário. Tudo começa com um simples e verdadeiro “como vai você?”

Este é mais um drive que as organizações precisam estar atentas, seja por meio do monitoramento indireto de indicadores como o índice de absenteísmo e de turnover, da criação de políticas claras sobre assédio moral e de canais de denúncia, ou de programas estruturados para lidar com mais uma síndrome no atual contexto do mundo do trabalho.

* Executivo de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais. Pós-graduado em Gestão de Pessoas pela Fundação Dom Cabral. Cofundador e Conselheiro do Instituto Movimento pela Felicidade. Membro da Associação Canadense de Psicologia Positiva.

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