*Paulo Cesar de Oliveira

Não é ainda uma lufada, mas dá para sentir os ares de 1964 no país. O discurso de hoje, tanto da situação quanto da oposição, é muito próximo ao que dividia a política no período pré-golpe. Claro que há diferenças. O presidente da época era um marechal, dos poucos que o Exército Brasileiro teve.

O atual é um capitão da reserva que optou pela carreira política, conseguindo atingir a presidência dando o golpe no grupo de esquerda simbolizado pelo PT. Mas, por coincidência, o governo atual tem também o seu Castello Branco, só que presidindo a Petrobras, e também um Roberto Campos, este o neto, no comando do Banco Central.

Mas os nomes não preocupam. As semelhanças do comportamento de alguns é que assustam. Em 1964 tivemos a radicalização de grupos civis, como os que, ligados à Igreja Católica, promoveram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, para exigir a “derrubada do comunismo”, em defesa da família. Hoje vemos a manipulação dos grupos evangélicos por aqueles que, para endurecer o governo, falam, acreditem em combater o mesmo comunismo de cinco décadas atrás, e salvar as famílias preservando os costumes e preceitos do cristianismo.

Não inovaram no discurso nem na prática de tentar se agarrar ao poder satanizando os adversários. A quem interessa a manutenção deste discurso vazio de disputas religiosas e ideológicas? Que riscos políticos corre o país que levam velhos generais a culpar a esquerda por nossos males, frutos, na verdade, da corrupção de todas as matizes ideológicas e da baixa qualidade dos nossos gestores, escolhidos por eleitores que fazem de seus votos uma brincadeira de mau gosto. Estamos vivendo intensamente nosso momento latino americano.

Voltem os olhos para nossa história e verão o Brasil dos anos 1960 batendo boca com nossos vizinhos sobre o nada, ajudando a alimentar a Guerra Fria que tanto atrasou o desenvolvimento mundial. Só que Guerra Fria acabou, a parte civilizada do mundo disparou e nós ficamos aqui. No nosso mundinho.

E agora damos sinais de uma incrível disposição para regredir. Não, é hora de reagirmos. Nossos problemas não são frutos de governos de esquerda, nem de direita. Somos tão pobres politicamente que nem firmeza ideológica nossos governantes têm. Para fazer justiça, temos alguns poucos ideológicos, mas basta ver a composição das Casas Legislativas e, claro, alguns governantes, para ver que a escolha do eleitor pode ter mil balizamentos, menos a ideologia. Basta então desta discussão enganosa.

Chega de desviar a atenção para a falta de programas de governo consistentes, capazes de colocar o país no rumo do crescimento. Desculpem se exagero, mas se nos compararmos com a parte mais desenvolvida do mundo, estamos quase na Idade da Pedra. Nossa missão é muito difícil e exige, acima de tudo, responsabilidade. O país precisa assumir, em conjunto, o trabalho pela sua recuperação. Buscando convergências, respeitando as diferenças.

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