Carlos Alberto Teixeira de Oliveira

*Economista, presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais; ex-presidente do BDMG-Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. e do IBEF-Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças; Coordenador-Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico – Presidente e editor-geral de MercadoComum.

Um país como o Brasil não pode mais continuar insistindo apenas na busca por recursos destinados a pagar a conta de salários e da previdência de seu funcionalismo e remunerar enormes quantias de recursos, a título de encargos de sua dívida. E isso, ainda por não falar nos “privilégios concedidos”, que mais se assemelham a “abusos adquiridos”. Atuando desta forma, os investimentos, notadamente em infraestrutura básica, como consequência, tornam-se praticamente nulos e a capacidade de o Estado promovê-los, precisa ser resgatada.

A cada dia, avolumam-se mais e mais as nossas dificuldades de crescer de forma consistente e vigorosa, exponenciando-se de forma explosiva os nossos déficits públicos reais e potenciais.  O modelo vigente durante as últimas décadas mostra-se totalmente esgotado e essa armadilha do crescimento econômico nulo ou negativo requer ser repensada e desarmada.

O Brasil neste ano de 2020 encontrou-se imerso numa profunda depressão econômica e deverá registrar uma retração do PIB – Produto Interno Bruto da ordem de 5%, segundo estimativas apontadas pelo último Relatório Focus divulgado pelo Banco Central.   Com esse resultado, o País encerra o último ano da década de 2011/2020 que será considerada a pior de sua história, em termos de desempenho econômico e de resultados sociais, retornando aos níveis de 2007/2008.

Observo que continuam escassas e raríssimas as intenções de novos investimentos produtivos e o País continua com baixa estima, envolto em várias dúvidas provocadas por diversas questões negativas que nos assombram– destacando-se a pandemia gerada pelo coronavírus e o aprofundamento das dificuldades econômico-sociais em relação ao nosso futuro, bastante incerto e inseguro, porque também ressurgem mazelas que pareciam já pertencer ao passado.

Esses fatos são como fantasmas de um outro tempo, que insistem e lançam nuvens negras sobre o cenário econômico, social e político do Brasil. Em tempos assim, cresce ainda mais a nossa responsabilidade diante do País.

 O presidente Juscelino Kubitschek considerava o subdesenvolvimento um terrível mal (mal que ainda vitima o Brasil nos tempos atuais), e compreendia-o como uma doença. Ele, um médico competente, dominava muito bem o processo de realização de diagnósticos, conhecia as suas técnicas e sabia da sua importância no tratamento e cura dos pacientes. Em plena campanha eleitoral, em 1955, JK já anunciava:

“Pretender solucionar a crise brasileira com remédios prescritos para o único fim de estabilidade, como se fôssemos uma terra exausta e um povo cansado, necessitados de equilibrar as poucas forças que ainda nos restassem, é semelhante, malgrado as deformações que acarretam todas as analogias, ao intento de se tratarem as crises da puberdade com medicamentos destinados a mitigar a senectude”.

E acrescentava:

“Transportaram-se para o nosso País, mecânica e acriticamente, técnicas e instituições que, ou não correspondiam mais às condições de nossa época – como é o caso das correspondentes ao liberalismo europeu do século XIX, ou não se ajustaram à nossa realidade – como é o caso das que insistem em dar tratamento monetário a fenômenos que são basicamente econômicos.”

Estamos aqui, mais uma vez e novamente nestes últimos 22 anos, para destacar, premiar, e parabenizar as empresas com sede no Estado de Minas Gerais que mais se destacaram em seus diversos segmentos econômicos, apresentando resultados excepcionais e desempenhos significativos, mesmo consideradas as dificuldades impostas pelas condições vigentes anteriores e atuais, bastante complexas e difíceis.

O maior objetivo desta premiação é o de valorizar a iniciativa privada e os empreendedores de nosso Estado, além de promover o reconhecimento daqueles que estejam diretamente envolvidos no grande esforço que se constitui a construção de uma Minas e de um Brasil, melhores e mais justos, para os mineiros e os brasileiros.

É, exatamente na concepção de uma Minas síntese do Brasil e no valor de sua gente, da sua sociedade, da sua economia, das suas empresas e empresários que, há vinte anos, surgiu esta decisão inédita de se render uma homenagem a todos os que participam da consolidação do desenvolvimento e se envolvem no engrandecimento da nossa economia.

Por isso, não vejo nenhuma redundância em afirmar aqui nesta edição de MercadoComum que, mais uma vez que, com esta premiação, estamos juntos para festejar a entrega do “Oscar da Economia Mineira” àquelas empresas que mais se destacaram, em diferentes setores e atividades, com desempenhos significativos e resultados positivos.

Neste ano, são em número de 33 as empresas premiadas na categoria intitulada “Melhores e Maiores – Empresas Excelência de Minas”.

Através de rigoroso processo técnico, todas essas empresas premiadas foram definidas como Empresas Excelência de Minas Gerais e outra – a Unimed-BH, como Empresa Destaque do Ano. Uma única pessoa física está sendo premiada, com a titulação de “Personalidade Empresarial do Ano de Minas Gerais”, que é o Dr. Samuel Flam, presidente da diretoria executiva da Unimed-BH.

A escolha de todos os agraciados, a exemplo das vezes anteriores, conforme já mencionado, obedeceu a critérios rigorosos e estritamente técnicos, dispondo como fundamento essencial a análise dos balanços, das demonstrações de lucros e perdas e os relatórios de administração divulgados pelas empresas, com base no exercício de 2019.

O mais relevante elemento que subsidiou de forma substantiva no levantamento e inventário de todas as informações, como alicerce principal deste estudo foi o XXIV Ranking das Empresas Mineira, nele considerados os seus principais índices e indicadores de desempenho das empresas analisadas.

O Ranking das Empresas Mineiras vem sendo considerado uma das pesquisas mais relevantes e amplas sobre o desempenho das empresas com sede no Estado. Presentemente, contemplou a análise de cerca de 3 mil empresas que publicaram os seus balanços ou que os remeteram à redação de MC até o dia 15 de setembro último para integrar a base do referido estudo. Desse total, 520 empresas se habilitaram a participar do XXIV Ranking, tendo então sido segregadas:

300 – Maiores Empresas agropecuárias, industriais e de serviços;

  50 – Maiores Instituições Financeiras, Seguradoras, Cooperativas de Crédito etc.

  25 – Maiores Empresas holdings e de participações/investimentos

375 – Total de empresas participantes da classificação final do Ranking.

De outro lado, constitui este estudo uma peça importante na análise da evolução da economia mineira, incluindo em suas estatísticas e comparações, os dados de muitas empresas que não possuem os seus números contemplados em estudos similares em nível nacional. A equipe encarregada de sua realização é liderada pela MinasPart – Desempenho Empresarial e Econômico, Ltda., que se encarrega pelo levantamento e inventário das informações, a sua análise e conclusões, desde o início desta iniciativa, há vinte e dois anos.

O detalhamento completo deste estudo intitulado XXIV Ranking de Empresas Mineiras está publicado e detalhado nesta edição de MercadoComum e ora em circulação.

Nestas últimas quatro décadas o Brasil vem sofrendo uma enorme incapacidade de crescer, vem andando para trás e, simplesmente, não consegue acompanhar o crescimento da economia mundial. A marcha do crescimento econômico nacional parece enferrujada, emperrada e não consegue engatar qualquer ritmo que a possa levar avante e, ao contrário, tem se mostrado nesta década como uma autêntica marcha a ré, um verdadeiro andar para trás, como rabo de cavalo.

O quadro atual e de alguns anos desta e de outras décadas anteriores apontam uma posição rumo a uma economia sub-emergente, que vai se distanciando mais e mais do desenvolvimento, acumulando problemas e inúmeras dificuldades que começam a impedir um vislumbrar melhor para a sua economia e, ao contrário, aponta em direções perigosas ou pouco desejáveis.

Assim, a economia brasileira, doente e anêmica, encontra-se raquítica e num círculo vicioso. Não cresce e, em decorrência, a arrecadação real também não se expande. De outro lado, os juros consomem boa parte das receitas e provocam, juntamente com outras elevadas despesas, déficits orçamentários nominais expressivos que, neste ano, deverão atingir 14,0% do PIB. O desfecho só pode ser um: a dívida pública cada vez maior – o que vai sempre exigir mais e mais recursos para financiá-la

Volto a afirmar que a superação dos diversos impasses atuais e o ingresso do País em uma nova etapa de expansão econômica, contínua e segura exigirão coragem e firme determinação por parte da sociedade brasileira e de seus dirigentes. A saída não é simples nem trivial e demandará enfoques criativos e destituídos de preconceitos e de várias antigas verdades.

     O Presidente Juscelino Kubitschek já alertava que é preciso que nos capacitemos, de uma vez para sempre, de que o desenvolvimento do Brasil é uma condição ligada à nossa sobrevivência num mundo que se impõe, mais e mais, pela força de sua vertiginosa marcha técnica. Ele afirmava que não temos de nos desenvolver apenas por ambição mesmo justa, mas desenvolver para sobreviver. E ainda acrescentava:

     “Não se faz, não se opera a modificação de um país, sem que haja também uma nova mentalidade, a mentalidade para o desenvolvimento, a mentalidade de grande país. É isso o que me parece indispensável ao nosso Brasil”.

Os brasileiros precisam recuperar a bandeira de nossas bandeiras, que é a Esperança!

            O Brasil precisa se reconciliar com o crescimento econômico vigoroso, consistente, contínuo, sustentável e eleger o desenvolvimento como a nossa meta prioritária número 1!

            O crescimento econômico vigoroso deve deixar de ser apenas uma casualidade, uma questão episódica, uma efemeridade, um acontecimento meramente fortuito para se transformar, efetivamente, na grande meta econômica nacional, permeando a convolação do País em uma economia madura e desenvolvida. Nesta direção, já tivemos antes, vários exemplos de sucesso e que poderiam nos servir de inspiração, como foi o caso do Plano de Metas, implementado durante o Governo JK.

            País que não cresce é país condenado à pobreza e ao subdesenvolvimento, e, por isso, torna-se imprescindível o estabelecimento de uma “Agenda Estratégica para o Desenvolvimento Nacional” – em que a transformação do Brasil em Nação Desenvolvida seja o grande objetivo.

            JK já afirmava que as maiores ameaças à democracia são a miséria, o desemprego e o subdesenvolvimento. Ao longo destas últimas três décadas, a busca obsessiva pela estabilidade econômica tem nos ofuscado todas as possibilidades de colocar o desenvolvimento como a nossa grande, prioritária e fundamental meta nacional, e corremos ainda o risco de ficarmos durante os próximos vinte anos relegando o crescimento vigoroso pela discussão centrada apenas no ajuste e no equilíbrio das contas públicas.

            Sem investimento não há hipótese de desenvolvimento!

       Já tivemos antes a oportunidade, juntamente com vários outros economistas, de ressaltar a necessidade de compreendermos a importância da retomada do crescimento econômico; alguns equívocos têm permeado as políticas econômicas do País e, se persistirem, obstruirão inapelavelmente qualquer tentativa de relançamento da economia brasileira de volta ao caminho do desenvolvimento. Não basta apenas crescer. É necessário que o crescimento da nossa economia supere a média mundial e possa se compatibilizar com o nível de expansão das economias dos países emergentes. E, ainda, que incorpore outros elementos, como as da qualidade, da produtividade e da competitividade.

       Um desses equívocos diz respeito à crença de que a estabilidade econômica é condição prévia à retomada do desenvolvimento do País. Primeiro a estabilidade, só depois o desenvolvimento. Sendo assim, as políticas de estabilização assumem um caráter de primazia absoluta, subordinando e sufocando todas as outras políticas. Apequena-se a política econômica, amesquinham-se os objetivos para a economia do País. E já lá se vão algumas décadas de busca inglória da miragem da estabilidade.

       Evidentemente, ninguém, em sã consciência, há de negar a necessidade de as economias nacionais ostentarem bons e saudáveis fundamentos macroeconômicos. O caminho da estabilidade deve ser concebido e implementado, no bojo de uma política de desenvolvimento para o País. A estabilidade não precede o desenvolvimento; ao contrário, é a estratégia de desenvolvimento do País que deve, simultaneamente, orientar e contextualizar as opções da política macroeconômica. Até porque, ao contrário do que se costuma propagar, os caminhos possíveis para se alcançar a estabilidade econômica são vários.

       Outro desses equívocos é imaginar que apenas o ajuste fiscal e algumas reformas – como a previdenciária – também devem ser considerados como condições prévias à retomada do desenvolvimento. Da mesma forma colocada em relação à estabilidade econômica, deve-se privilegiar – concomitantemente – a expansão econômica que produzirá ganhos generalizados e, em especial, aumentos da arrecadação tributária. Cabe destacar que, quando um denominador é baixo, todos os numeradores podem ser considerados altos – o que se aplica efetivamente no tocante à questão das receitas e despesas públicas. Quando há declínio da atividade econômica, como ocorre nos anos mais recentes – a produção nacional não cresce – os lucros se transformam em prejuízos para empresas e, com isso, não há como gerar Imposto de Renda e outras receitas.

       Aspecto fundamental para superar a questão do fraco crescimento econômico, em primeiro lugar, passa pelo resgate da confiança, da credibilidade e do otimismo, para considerarmos que esta situação crítica pela qual hoje atravessa o país não seja considerada contínua, definitiva ou duradoura. Sempre o Brasil deu provas concretas de sua capacidade para superar os seus principais problemas e entraves, de forma eficiente e rápida, mas isso depende, principalmente, da inadiável exigência de realização de profundas reformas políticas, sociais e econômicas, bem como torna-se hoje imperativo desideologizar e despolitizar o debate econômico, sintonizando-nos com as várias transformações em curso na economia internacional para lhes captar as tendências mais prováveis de realização e aqui antecipá-las na sua implementação. Nesse contexto, é salutar recuperar o debate para a promoção da reforma política e da convocação de uma Assembleia Constituinte Revisionista Exclusiva!

       Conforme já mencionei, o Brasil está acometido de uma doença que intitulo de “síndrome do raquitismo econômico” – em função do intenso declínio dos seus níveis de produtividade e pela constante retração da atividade econômica, principalmente quando comparados com as médias mundiais.  A constatação, como já mencionado anteriormente, é que desaprendemos a crescer, e a nossa máquina propulsora do crescimento econômico vigoroso e contínuo enferrujou-se ou está quebrada. País que não cresce está condenado ao ananismo, ao atraso e ao empobrecimento. Isso potencializa tensões e perspectivas sociais explosivas – podendo colocar em risco a ainda incipiente democracia brasileira.

       É indispensável, ademais, recuperar a nossa capacidade de planejamento estratégico de longo prazo, que entendo, deva ter, como fundamento básico, a nossa transformação em Nação Desenvolvida. É preciso nos sintonizar com as rápidas e importantes transformações por que passa a economia internacional, a sua estrutura produtiva e as novas dimensões trazidas por novos e potenciais mercados, como seriam os casos da China e Índia, além de outros.

       Para isso ocorrer, é preciso formar uma “intelligentsia” nacional com o objetivo de se definir que, para a nossa transformação rumo ao desenvolvimento, será exigida, como a primeira de todas as metas, a do crescimento econômico vigoroso, consistente, contínuo e sustentável. Nesse sentido, ganha relevância e requer ênfase especial as prioritárias questões da produtividade, da inovação tecnológica, da qualidade e competitividade, da reforma tributária, da eficácia e melhoria da educação em todos os seus níveis.

A história já nos demonstrou e comprova que sabemos fazer desenvolvimento e crescimento econômico expressivo. E é exatamente isso que precisamos novamente fazer!

     JK também já alertava que é preciso que nos capacitemos, de uma vez para sempre, de que o desenvolvimento do Brasil é uma condição ligada à nossa sobrevivência num mundo que se impõe, mais e mais, pela força de sua vertiginosa marcha técnica. Ele afirmava que não temos de nos desenvolver apenas por ambição mesmo justa, mas desenvolver para sobreviver. E ainda acrescentava:

     “Não se faz, não se opera a modificação de um país, sem que haja também uma nova mentalidade, a mentalidade para o desenvolvimento, a mentalidade de grande país. É isso o que me parece indispensável ao nosso Brasil”.

     Essa experiência histórica, conduzida por um mineiro de Diamantina, não pode se constituir numa simples lembrança de um passado já quase longínquo. Ela deve ser a nossa inspiração e o nosso exemplo, para que o Brasil venha novamente abraçar a causa do desenvolvimento.

     Precisamos transformar as nuvens negras de hoje na copiosa chuva de amanhã, para fecundar a economia e tornar mais humana e justa a sociedade brasileira.

Quero, finalmente reafirmar, que aposto no desenvolvimento de Minas Gerais e na possibilidade de o Brasil conciliar-se com o crescimento vigoroso e a modernização da economia, com a justiça social e a democracia.

Reitero nossos cumprimentos, parabenizo o médico Samuel Flam pela escolha como Personalidade Empresarial do Ano, a Unimed-BH como a Empresa Destaque do Ano, a OCEMG por seus 50 anos de atual em prol das cooperativas de Minas e todas as empresas agraciadas desta premiação, desejando-lhes muito sucesso e que todos os senhores dirigentes continuem repetindo, com bastante êxito, essa trajetória positiva que muito dignifica Minas e engrandece o Brasil.

Gostaria ainda de reafirmar que a única fonte de receita de MercadoComum são as publicidades em nossas páginas. São muito bem-vindas e em muito colaboram para a realização de nossos importantes estudos – particularmente sobre a economia mineira e para estas premiações.

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