*Por Paulo César de Oliveira

O presidente Jair Bolsonaro, que retornou da Índia, onde conseguiu importantes acordos econômicos, tem problemas a resolver. Problemas causados por sua já conhecida incontinência verbal. Com 13 meses de governo, já é hora de ele entender que não precisa, a cada momento, demonstrar autoridade para se consolidar como líder.

A fase de deslumbramento precisa ficar para trás. Isso vale para o presidente, alguns de seus auxiliares, exatamente as figuras mais inexpressivas do governo, e também para seus filhos, que voltaram a ser epicentros de polêmicas que em nada ajudam.

Não se pode negar que o governo Bolsonaro tem conseguido avanços, principalmente na área econômica. São resultados ainda distantes da necessidade do país, mas que indicam que caminhamos, embora lentamente, com firmeza nos passos. O risco é que se perca, no todo ou em parte, esse esforço devido a diatribes contra alguns segmentos ou reafirmações desnecessárias de autoridade.

Até é possível compreender que parte desse destempero se destina a um público específico: a plateia que idolatra o presidente por considerá-lo “mito” capaz de fazer tudo como um ungido de Deus. Mas, se agrada a esse grupo, ele gera inseguranças que são capazes de afastar investidores – ou, no mínimo, de conter o entusiasmo.

Estranho que o presidente seja tão benevolente com a parte mais inexpressiva de seu governo e tão autoritário com alguns de seus pilares. Volta e meia Bolsonaro dá pitaco na economia – área que publicamente admite reconhecer não dominar – desautorizando ou desmentindo o ministro Paulo Guedes, que é, queiram ou não, a melhor parte de seu governo. Bolsonaro precisa entender que não ajuda nada bater boca com seu ministro responsável pelas reformas. Talvez o ministro também precise reconhecer que não pode falar o que deseja sem antes ajustar com o chefe.

Outro centro de crises é o ministro Sergio Moro, de longe a figura mais popular do ministério. As desavenças com ele são mais fáceis de compreender. Moro, por mais que tente desmentir, deve ter pretensões eleitorais, e isso ameaça planos de Bolsonaro que, por isso, precisa reafirmar sua autoridade.

Tem, porém, que encontrar outra forma de fazer isso sem desgastar a imagem do governo, que chega agora ao fim de seu 13º mês. É bom lembrar que o mandato é de 48 meses. Mais este é um ano politicamente complicado, de eleições municipais.

Talvez o melhor para o presidente seja manter distância dessa discussão. As vitórias nas disputas paroquiais costumam custar muito caro, assim como as derrotas, aos presidentes que, na prática, pouco influenciam o voto para prefeito. Bolsonaro pode “tirar a castanha com a pata do gato”, estimulando alguns grupos que lhe são fiéis, sem subir nos palanques para não criar atritos políticos. Precisa lembrar que depende do Congresso para levar adiante as reformas tão necessárias ao seu governo e ao país. Se for de peito aberto para a disputa, como gosta de se afirmar, pode perder a eleição e os votos das reformas.

É bom medir a água e o fubá, pesar prós e contras. Às vezes, agir como liderança maior, respeitando a disputa e as urnas, é melhor do que uma vitória complicada.

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