O Monitor do PIB-FGV sinaliza que o PIB cresceu 1,2% no ano de 2019. Os destaques positivos pela ótica da demanda foram a formação bruta de capital fixo e o consumo das famílias, que cresceram 2,7% e 1,8%, respectivamente. Pela ótica da produção, os três grandes setores de atividade (agropecuária, indústria e serviços) cresceram, embora alguns de seus componentes como as atividades extrativa, transformação e administração pública tenham apresentado retração no ano (-1,3%, -0,1% e -0,1% respectivamente).

“O resultado positivo da economia em dezembro, no quarto trimestre e no ano de 2019, foi influenciado pelo consumo das famílias. Destaca-se que tal desempenho está sendo impulsionado, principalmente pelo aumento do consumo de serviços. Com relação ao investimento, a despeito do resultado positivo do ano, o resultado do quarto trimestre, em comparação ao terceiro mostra retração deste componente. Este resultado é explicado, principalmente, pela retração de máquinas e equipamentos. Tais desempenhos continuam sinalizando que a recuperação da economia está mais ancorada na expansão do consumo do que dos investimentos, o que certamente lança uma dúvida para a continuidade do crescimento deste ano.” afirma Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.

Neste número, o Monitor do PIB-FGV, além dos resultados usuais, divulga informações de valores anuais a preços correntes e a preços de 2019. Uma análise mais detalhada sobre esses valores, como o PIB per capita e a produtividade dos 12 setores de atividade, encontra-se a partir da página 5 deste relatório. Estas informações encontram-se disponíveis no arquivo Excel anual do Monitor do PIB-FGV. Além dessas informações recorrentes nos relatórios anuais do Monitor do PIB-FGV, a partir desta divulgação também é publicado o hiato do produto do total da economia, a partir da página 8. Essa estimativa será divulgada nos relatórios que encerram os trimestres clássicos do ano, pelo Núcleo de Contas Nacionais da FGV. Serão publicadas as estimativas do hiato do produto trimestral pelo método da função de produção e das médias de diversas métricas estatísticas para o total da economia. A partir da página 9, há um breve esclarecimento metodológico sobre esta estimativa.

ANÁLISE TRIMESTRAL E MENSAL
Na análise trimestral, o PIB apresentou, na série com ajuste sazonal, crescimento de 0,7% no quarto trimestre, em comparação ao terceiro trimestre, mostrando aceleração da atividade econômica no final do ano. Em relação ao quarto trimestre de 2018, o crescimento apresentado foi de 1,9%.

Na análise mensal, o PIB apresentou estagnação em dezembro, na comparação com novembro. A estagnação também foi verificada no setor de serviços enquanto a agropecuária apresentou forte recuo (-2,3%) e a indústria teve fraco crescimento de 0,3%. Na comparação interanual o resultado do PIB foi positivo em 2,3%, com crescimento de todas as doze atividades.

ANÁLISE DESAGREGADA DOS COMPONENTES DA DEMANDA
A análise desagregada dos componentes da demanda é usualmente realizada na série trimestral interanual por apresentar menor volatilidade do que as taxas mensais e aquelas ajustadas sazonalmente permitindo melhor compreensão da trajetória de seus componentes. Nesta edição do Monitor do PIB-FGV essas análises são realizadas na série acumulada em 12 meses, tendo em vista a divulgação do ano.

Consumo das famílias
Desde a recessão de 2014-2016, o consumo apresentou forte retração com o pior resultado registrado na taxa acumulada em 12 meses até julho de 2016 (-5,0%) com queda de todos os tipos de consumo. O consumo retornou ao terreno positivo na taxa acumulada em 12 meses até setembro de 2017 (0,4%), chegou ao ápice desta em abril de 2018, com taxa acumulada em 12 meses de 3,3%; e, desde então, tem crescido a uma taxa aproximada de 2,0%, fechando o ano de 2019 com crescimento de 1,8%. Desde o início de 2019 o consumo de serviços tem sido o principal componente para o crescimento do consumo das famílias, tendo contribuído com 61% do crescimento total deste componente no ano. Os serviços de aluguel, alojamento e alimentação e serviços gerais prestados as famílias foram os que mais contribuíram para o crescimento do consumo de serviços.

Formação bruta de capital fixo
A recuperação da FBCF, após a recessão de 2014-2016, começou com o crescimento do componente de máquinas e equipamentos que cresce desde o acumulado em doze meses até setembro de 2017. Apenas a partir do acumulado em 12 meses até maio de 2019 que o componente da construção, que tem maior peso nos investimentos, voltou a ter resultados positivos. No entanto, a FBCF cresceu apenas 2,7% em 2019, após ter crescimento de 3,9% em 2018. Apesar dos componentes de construção e de outros terem aumentado a contribuição na FBCF em 1,3p.p. e 0,6p.p. de 2018 para 2019, não foi suficiente para compensar a diminuição da contribuição de máquinas e equipamentos que, apesar de ainda ser positiva, é 3,1p.p. menor do que era em 2018.

Exportação
A exportação retraiu 2,2% em 2019 com retração em quase todos os seus componentes. Apenas a exportação de produtos da extrativa mineral (1,6%), de consumo semiduráveis (2,4%) e de bens intermediários (2,1%) cresceram no ano. Os maiores recuos foram registrados na exportação de bens de capital (-21,0%) e de bens de consumo duráveis (-18,6%). O recuo das exportações para a Argentina, devido a recessão no país vizinho é uma das principais justificativas para a retração deste componente.

Importação
A importação apresentou crescimento de 1,4% em 2019. Apesar de positivo, este resultado é devido, quase que exclusivamente, ao crescimento da importação de bens intermediários. Além deste, apenas a importação de produtos agropecuários cresceu 5,6% no ano, porém, como não tem grande representatividade na pauta de importações brasileiras, pouco contribuiu para o crescimento da importação.

MONITOR DO PIB-FGV EM VALORES
Em termos monetários, estima-se que o PIB de 2019, em valores correntes, alcançou a cifra de aproximadamente 7 trilhões, 217 bilhões e 995 milhões de Reais.

Apesar de crescer pelo terceiro ano consecutivo, os resultados ainda não foram suficientemente expressivos para retornarem ao patamar dos anos anteriores a recessão econômica de 2014-2016. A preços constantes de 2019, o PIB de 2019, embora seja maior que os de 2015 a 2018, ainda é inferior aos de 2013 e 2014. A valores de 2019, o PIB per capita equivale a R$ 34.347, valor este inferior aos dos anos de 2010 a 2015.

A produtividade da economia foi de R$ 69.348 Mil Reais em 2019. Apesar de ter aumentado com relação ao início da série histórica, este resultado ainda não superou o pico da série, em 2013, período pré-recessão de 2014-2016. Além disso, a produtividade em 2019 é também menor que as registradas entre os anos de 2011 a 2015. A evolução da produtividade da atividade de transformação que foi a atividade que apresentou a maior retração de produtividade na série histórica iniciada em 2001.

Nota-se que apenas a agropecuária apresentou ganho de produtividade nos dois períodos analisados. Em contrapartida, destaca-se que a produtividade da indústria foi a única que retraiu nos dois períodos, reflexo das quedas de produtividade das atividades de transformação e da construção, que também retraíram nos dois períodos analisados. Nos serviços, a perda de produtividade que ocorre na análise do período de 2013 a 2019 mostra-se generalizada dentro dos setores com apenas a atividade de serviços de informação tendo apresentado ganho de produtividade no período.

A Formação Bruta de Capital Fixo (investimento), apesar de ter apresentado, em 2019, valor maior que os de 2016 a 2018, ainda é inferior aos resultados de 2008 e dos anos de 2010 a 2015. O consumo das famílias já mostra uma retomada mais robusta sendo o resultado de 2019 apenas inferior ao do ano de 2014.

A taxa de investimento da economia foi de 15,3% em 2019. Considerando a série histórica iniciada em 2001, apenas 2003 (15,1%), 2017 (14,7%) e 2018 (15,1%) apresentaram taxas de investimento menores do que a atual.

Em resumo, os resultados acima apresentados mostram que, a despeito da recuperação da economia o ritmo é ainda muito lento, não tendo conseguido superar, após 22 trimestres de iniciada a recessão, o nível do 2º trimestre de 2014.
A recuperação da atividade econômica após a recessão que se iniciou em 2014 e terminou em 2016, ainda não foi capaz de superar o nível de atividade anterior a recessão. Após 22 trimestres a partir do seu início a economia brasileira ainda se encontra abaixo do nível de atividade econômica que detinha anteriormente. De acordo com estes dados, a indústria e a FBCF são os componentes do PIB que ainda estão mais distantes dos valores que apresentavam no 2º trimestre de 2014.

HIATO DO PRODUTO
O hiato do produto é a diferença entre o produto efetivo e o produto potencial. Para o cálculo do hiato, torna-se necessário, portanto, a estimação do produto potencial da economia. Duas formas foram utilizadas para a estimação desta variável: pela função de produção e pela média de métricas estatísticas.

O hiato do produto da economia, no 4º trimestre de 2019, foi de -4,1%, de acordo com a função de produção e de -3,5%, pela média das métricas estatísticas. As duas formas de estimação mostram tendências parecidas, sendo a correlação das informações de 0,81, no período analisado.

DECOMPOSIÇÃO DO CRESCIMENTO
É possível notar que, na primeira década de análise (2001-2010), a composição do produto efetivo foi muito semelhante à do produto potencial. No entanto, na década de 2011 a 2019, o crescimento do produto efetivo fica 0,8p.p. abaixo do crescimento do produto potencial. A principal justificativa para essa diferença é o insumo capital: enquanto no produto potencial a contribuição do capital foi de 1,0p.p., no produto efetivo verificou-se uma contribuição de 0,4p.p.
Embora o produto potencial já mostre um crescimento menor da economia na segunda década, o crescimento verificado ficou bem abaixo do potencial, resultando em uma abertura do hiato da economia a um dos patamares mais baixos da história brasileira.

NOTA EXPLICATIVA DO HIATO DO PRODUTO
Desde o início de 2019 a equipe do Núcleo de Contas Nacionais (NCN) da Superintendência de Estatísticas Públicas (SUEP) do IBRE tem publicado trimestralmente no blog do IBRE um texto sobre o hiato do produto brasileiro para o total da economia e por atividades econômicas. Tal esforço levou à confecção do texto “The Brazilian Output Gap, 1980-2019” apresentado no workshop internacional do CIRET em 13 de novembro de 2019, em Paris. Nele é apresentada a metodologia para o cálculo do hiato do produto total brasileiro e de algumas atividades econômicas desde 1980 ao terceiro trimestre de 2019 (na versão apresentada no CIRET).

No texto apresentado no CIRET, utilizam-se dois métodos: um denominado “média das métricas” e outro “Função de Produção”. A “média das métricas” consiste na média dos resultados encontrados a partir dos métodos estatísticos. São utilizados os métodos de extração de tendências linear, quadrática e exponencial, método de médias móveis de quatro e oito trimestre e o Filtro Hodrick-Prescott (HP).

O método da Função de Produção é uma forma tradicional da função, Cobb-Douglas, com elasticidade de substituição unitária, retornos constantes de escala e retornos marginais decrescentes de cada insumo. O produto potencial é calculado a partir do momento da estimação da produtividade total dos fatores (PTF), que também é uma variável não observável. Para isto, devem ser previamente calculadas informações sobre estoque de capital e de trabalho. Estima-se o nível potencial de cada insumo e, com a tendência da PTF associada, chega-se no produto potencial via Função de Produção. As duas medidas de hiato apresentam resultados bastante semelhantes, o que dá um certo conforto quando se calcula o hiato de produto por atividades econômicas, em que não se disponha de informações sobre o estoque de capital da atividade.

Para a utilização do método da função de produção, é necessário se ter informações a respeito do estoque de capital das atividades. Para isto o Núcleo de Contas Nacionais do IBRE SUEP realizou uma ampla pesquisa sobre os investimentos das atividades econômicas, fundamentada nas pesquisas anuais do IBGE (PIA, PAC, PAS, PAIC). Esta pesquisa deu origem ao texto “O que é Investimento” (versão preliminar) com séries de investimento desde 1997. Para obtenção do estoque de capital foi utilizado o método de inventário perpétuo. Para informações de ocupação foram utilizadas informações das Contas Nacionais e da PNADC. Para informações do produto efetivo foram utilizadas as informações das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE e do Monitor do PIB-FGV. A metodologia completa poderá ser obtida com os autores e em breve estará disponível no site da FGV.

APÊNDICE — NOTA EXPLICATIVA DO MONITOR DO PIB-FGV
O Monitor do PIB-FGV estima mensalmente o PIB brasileiro em volume e em valor. O objetivo de sua criação foi prover a sociedade de um indicador mensal do PIB, tendo como base a mesma metodologia das Contas Nacionais do IBGE. Sua série inicia-se em 2000 e incorpora todas as informações disponíveis das Contas Nacionais (Tabelas de Recursos e Usos, até 2017, último ano de divulgação) bem como as informações das Contas Nacionais Trimestrais, até o último trimestre divulgado (terceiro trimestre de 2019).

O indicador é ajustado as Contas Nacionais Trimestrais sempre que há mudanças metodológicas e a cada trimestre divulgado. Ou seja, nos trimestres calendários, as médias trimestrais dos índices de volume do Monitor do PIB-FGV serão iguais aos indicadores trimestrais, sem ajuste sazonal, das Contas Nacionais Trimestrais. Nos trimestres calendário, são utilizados os mesmos modelos do IBGE para calcular todas as séries desagregadas com ajuste sazonal, tanto pela ótica da oferta, como da demanda. Para o ajuste sazonal mensal é utilizado o modelo mensal do IBC-Br, do Banco Central; para os trimestres móveis utiliza-se uma média desses ajustes mensais.

Assim, as estimativas do Monitor do PIB-FGV antecedem os resultados das Contas Nacionais Trimestrais nos meses em que este é divulgado. E, nos meses em que não há divulgação, o Monitor representa uma excelente antecipação para as tendências do PIB e seus componentes.

O Monitor do PIB-FGV compõe-se de um relatório descrevendo os principais resultados com ilustrações gráficas e de uma tabela Excel com informações de volume, em valores correntes, e a preços de 1995 das 12 atividades econômicas que agrupadas formam os 3 setores de atividade (agropecuária, indústria e serviços). Apresenta, ainda, o Valor Adicionado a preços básicos, os impostos sobre os produtos e o PIB e também os componentes do PIB pela ótica da demanda. Outro ponto a ser destacado é que o Monitor torna disponíveis desagregações que não são divulgadas pelo IBGE, mas que são relevantes para um melhor entendimento da absorção doméstica e da demanda externa. As desagregações disponibilizadas pelo Monitor são:

Consumo das Famílias: bens de consumo duráveis, semiduráveis, não duráveis e serviços. Adicionalmente eles são classificados em nacionais e importados;

Formação Bruta de Capital Fixo: em máquinas e equipamentos, construção e outros. Para máquinas e equipamentos e outros, há a desagregação entre nacionais e importados;

Exportações e Importações: em produtos agropecuários, produtos da extrativa mineral, produtos industrializados de consumo (duráveis, semiduráveis e não duráveis), produtos industrializados de uso intermediário, bens de capitais e serviços.

São divulgadas as séries de base móvel, séries encadeadas, séries encadeadas dessazonalizadas, as taxas mensais, trimestrais e anuais comparadas a igual período do ano anterior e as taxas mensais e trimestrais comparadas a período imediatamente anterior, e os valores nominais correntes e a preços de 1995. Uma metodologia detalhada está disponível neste link.

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