O mercado vem dando diversos sinais de otimismo em relação à economia brasileira. O real se valorizou 3,7% perante o dólar em janeiro; o Ibovespa subiu 10,8% no mesmo período; e os juros futuros seguiram em queda. O CDS ("Credit Default Swap") do Brasil, indicador de risco de crédito dos títulos públicos brasileiros, decaiu 12,9% na mesma comparação. A intuição diria que esse otimismo deriva da expectativa de reformas da economia brasileira, em especial a da previdência. Ou seja, seria decorrente da perspectiva de melhora dos fundamentos da economia brasileira.
 
Interessante observar, entretanto, que essa visão positiva não é exclusividade do nosso país. Pelo contrário. Indicadores de risco de crédito soberano de outras economias emergentes também estão em queda. Com o objetivo de comparar a evolução relativa do risco de crédito soberano brasileiro, subtraímos, na figura abaixo, o CDS nacional do de outras economias latinas.
 
 
Como observamos, nosso risco de crédito relativo caiu após novembro de 2018. Nota-se que o mesmo continua acima do índice das economias latinas observadas em termos absolutos. Além disso, observa-se que o atual risco de crédito relativo brasileiro equivale ao do período pré-eleitoral e é superior ao do período anterior a 2015. Em resumo, o nosso risco relativo de crédito, findada a incerteza eleitoral, reduziu-se para o nível observado na gestão Michel Temer, ainda acima do observado até o fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff. A conclusão, contra intuitiva, é de que a redução do risco relativo seria mais derivada do fim da incerteza eleitoral do que da expectativa de reformas futuras.
 
Essa conclusão permite antever oportunidades e riscos. No primeiro caso, se a aversão do investidor a risco não aumentar, poderemos ter a continuidade da redução dos riscos soberanos de economias emergentes em termos absolutos. E se a reforma da previdência for bem-sucedida, o risco de crédito soberano poderá cair ainda mais do que o de outras economias emergentes. No segundo caso, o nosso risco de crédito poderá aumentar em termos absolutos e relativos se a aversão dos investidores a risco aumentar e se a reforma da previdência não for bem-sucedida.
Carta do gestor: da fumaça de Davos à lama de Brumadinho
O primeiro mês do ano foi considerado excepcional para os ativos de risco brasileiros, impulsionados pelo otimismo dos investidores com o novo governo e a expectativa de retomada das reformas. No cenário externo, o clima também foi de alívio temporário e ligeira recuperação, após um dezembro fortemente negativo, uma vez que, apesar da desaceleração econômica sincronizada nas economias avançadas, ainda é cedo para afiançar prospectos de recessão mais assertivos.
 
Para turbinar ainda mais a ciclotimia típica dos mercados, os bancos centrais vieram em socorro, primeiro na China, com relaxamento de critérios para concessão de créditos a pequenas e médias empresas, nos compulsórios e maior injeção de liquidez nas operações de redesconto, e depois na decisão e comunicado do Comitê de Mercado Aberto do FED, no Estados Unidos, que manteve inalterada a taxa básica de juros e ainda condicionou novos aumentos à evolução de uma série de variáveis, sob a palavra de ordem 'paciência'.
 
Já no Brasil, sob a urgência da aprovação de reformas estruturantes com destaque para a da Previdência, todo e qualquer sinal positivo emitido nesse sentido foi festejado e precificado com overshooting – sobretudo durante as palestras do ministro Paulo Guedes no Fórum de Davos – apesar da ausência, até aqui, de medidas concretas, a não ser a inflação controlada e a ainda tímida melhora dos indicadores de expectativa, atividade econômica e resultados corporativos, cuja temporada ainda segue em curso. Quanto a esta última, vale ressaltar a frustração no mercado americano diante dos resultados divulgados frente aos projetados, deixando a sensação de que o pico de lucros corporativos desde o ciclo de crescimento iniciado após o fim da Grande Recessão de 2008 ficou para trás. Este fato, aliado às incertezas da ordem do dia, como a guerra comercial sino-americana, Brexit e a possibilidade nada desprezível de novo shutdown e instauração pelo presidente Trump de emergência nacional nos EUA para construção do muro na fronteira com o México devem retomar sua cota junto às apreensões dos investidores.
 
Como se não fosse o bastante, o final do mês no Brasil presenciou momentos de pânico e elevada volatilidade protagonizada pela gigante Vale. A catástrofe em Brumadinho já assume contornos dramáticos e afeta o equilíbrio do mercado mundial de minério de ferro, com consequências para o resultado da empresa, para o desempenho do Ibovespa e para a própria balança comercial brasileira. Outra ducha de água fria veio de lideranças do Congresso, segundo os quais as chances de aprovação da Reforma da Previdência no primeiro semestre deste ano são mínimas. Estes fatos somados representaram um choque de realidade que moderou o apetite dos investidores na reta final de janeiro e ainda se desenrolam. 
 
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