Indústria brasileira perde participação de setores tecnológicos e se torna mais concentrada em 10 anos
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Indústria brasileira perde participação de setores tecnológicos e se torna mais concentrada em 10 anos

Falta de política industrial e Custo Brasil contribuíram para a redução de setores industriais de alta e média intensidade tecnológica. A participação deles caiu de 23,8% para 18,7%

A estrutura da produção da indústria de transformação no Brasil desidratou em dez anos, com perda significativa da participação do grupo de setores industriais de bens de média e alta tecnologia no país e aumento da presença dos setores de baixa tecnologia. A Nota Econômica nº 20, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base nos dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra o alto preço que a economia e a sociedade brasileira pagam pela queda na produtividade do setor industrial, provocada pelo Custo Brasil e falta de política industrial.

A participação de setores produtores de bens de capital e de bens de consumo duráveis no Produto Interno Bruto (PIB) industrial passou de 23,8% para 18,7%, entre os biênios de 2007/2008 e 2017/2018. O Brasil perdeu 5,1 pontos percentuais de presença desses setores mais complexos. Eles produzem bens mais sofisticados, com alto valor agregado e contribuem para o aumento do nível de educação e de renda, ao contratarem profissionais mais qualificados. Além disso, esses setores elevam a capacidade tecnológica do país por serem mais intensivos em pesquisa e desenvolvimento e estimulam o desenvolvimento de novos produtos, criando novos mercados e gerando mais crescimento.

O economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca, explica que, nos últimos anos, a estrutura industrial intensificou um movimento em direção a setores produtores de bens de consumo semiduráveis ou não duráveis, típicos do início do processo de industrialização. A participação desses setores tradicionais passou de 25,6% para 35% entre os biênios de 2007/2008 e 2017/2018e a presença de setores que produzem bens intermediários caiu de 49,3% para 44,4%. O resultado disso é que o Brasil tem uma das mais baixas participações de setores intensivos em tecnologia e inovação na comparação com países da OCDE. Ocupa a 23ª posição entre 28 países.

“Essa perda de participação da indústria manufatureira na economia tem consequências de longo prazo para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. A indústria paga salários mais altos do que os demais setores (R$ 7.590 para profissionais com nível superior, contra uma média nacional de R$ 5.887) e tem forte poder de gerar crescimento”, explica o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

A cada R$ 1 produzido na indústria de transformação no Brasil, são gerados R$ 2,67 na economia brasileira. O valor gerado pelos outros setores é menor. Na agricultura, esse mesmo R$ 1, resulta em R$ 1,75 e nos serviços R$ 1,49.

Robson Andrade destaca que a retomada do crescimento da indústria brasileira e, consequentemente da economia brasileira como um todo, “passa pela intensificação das políticas de redução do Custo Brasil e por uma política industrial direcionada à inovação, a setores mais complexos”.

 Um terço da produção nacional é baixa e média intensidade tecnológica

 Atualmente, os setores de alimentos e coque, derivados de petróleo e biocombustíveis, que são intensivos em recursos naturais e de baixa e média-baixa intensidade tecnológica, respondem por 30% de toda produção manufatureira nacional. 

O setor de alimentos registrou o maior crescimento de participação na produção da indústria de transformação. Em dez anos, passou de 10,29% para 17,97% e se tornou o principal setor industrial do país, seguido do Coque, que, no período, perdeu participação. Caiu de 14,61% para 11,98%. Em terceiro lugar estão os Químicos, com maior presença no setor industrial em uma década. O setor tinha 7,7% da participação no biênio 2007/2008 e passou a ter 8,75% em 2017/2018. Em quarto lugar, está o setor veículos automotores, que viu sua presença despencar de 10,84% para 7,4%. Foi a maior queda percentual entre os 23 setores considerados no estudo.

O economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca, explica que a indústria brasileira se tornou menos diversificada, mas o principal problema para a economia brasileira é que esse movimento ocorreu no sentido de setores mais tradicionais. “Esse grupo, em geral, produz bens de menor intensidade tecnológica. A exceção é o setor de Farmoquímicos e Farmacêuticos, que aparece no grupo por produzir majoritariamente bens não-duráveis”, explica.

Entre os setores que produzem majoritariamente bens intermediários, os setores Químicos, Celulose e papel; e Produtos de borracha e plástico aumentaram a participação no PIB industrial nos últimos 10 anos.

Os demais setores (Metalurgia; Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis; Produtos de metal e Produtos de minerais não-metálicos; e Madeira) perderam participação e cresceram abaixo da média da indústria de transformação. O setor de Metalurgia, que passou da quarta para a quinta posição, com queda de 9,96% para 6,67%, no mesmo período.

Todos os setores produtores de bens de consumo duráveis e de bens de capital perderam espaço na indústria de transformação brasileira. São eles: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos; Máquinas, aparelhos e materiais elétricos; Máquinas e equipamentos; Veículos automotores e Outros equipamentos de transporte.

 Participação de setores de bens de capital e bens de consumo duráveis no Brasil é uma das mais baixas entre 28 países

 A estrutura industrial do Brasil tem a vantagem de ser diversificada, acima da média dos países da OCDE, o que é importante, pois a diversificação setorial reduz a vulnerabilidade das economias, ao evitar a dependência em poucos setores. No entanto, o fato de a diversificação ter uma participação menor dos setores de alta complexidade, é um problema. A participação de setores de bens de capital e bens de consumo duráveis no Brasil, de 18,4% no biênio 2016/17, é uma das mais baixas entre 28 países analisados, 27 países-membros da OCDE e o Brasil.

Na Alemanha e na Coreia do Sul, por exemplo, as estruturas produtivas são menos diversificadas que a brasileira, mas os setores produtores de bens de capital e de bens duráveis representam um pouco mais da metade do valor adicionado da Indústria de Transformação.

Na Alemanha, os quatro setores com maior importância na estrutura industrial são: Veículos automotores; Máquinas e equipamentos; Produtos de metal; e Químicos, que juntos responderam por 52% do valor adicionado da Indústria de transformação no biênio 2016/17. Em seguida, aparecem Máquinas e equipamentos elétricos; Informática, produtos eletrônicos e ópticos; e Alimentos.

Na Coreia do Sul, a situação é similar. Os quatro setores em ordem de valor adicionado são: Informática, produtos eletrônicos e ópticos; Máquinas e equipamentos; Veículos automotores; e Químicos, que juntos responderam por 51% da Indústria de transformação sul-coreana no biênio 2016/17. Na sequência, estão: Produtos de metal; Metalurgia; Máquinas, aparelhos e materiais elétricos; e Produtos de borracha e plástico.

Os Estados Unidos possuem uma estrutura industrial menos concentrada que a brasileira: é a quarta mais diversificada entre os 28 países. Nos Estados Unidos, os quatro setores com maior importância na estrutura industrial são: Informática, produtos eletrônicos e ópticos; Químicos; Alimentos; e Farmoquímicos e farmacêuticos, que juntos responderam por 38% do valor adicionado da Indústria de transformação estadunidense no biênio 2016/17, seguidos por Outros equipamentos de transporte; Produtos de metal; Veículos automotores; e Máquinas e equipamentos.

No México, o setor de Alimentos é o mais importante em sua estrutura industrial, como no Brasil. No entanto, os três setores que completam o grupo dos quatro maiores são: Veículos automotores; Informática, produtos eletrônicos e ópticos; e Metalurgia. A participação dos setores produtores de bens de capital e de consumo duráveis no valor adicionado da Indústria de transformação mexicana é maior que no caso brasileiro: 38%, que corresponde à 5ª posição entre os 27 países da OCDE analisados e o Brasil.

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