Há um incômodo silêncio no país. Não se ouve a voz do ministro Paulo Guedes, que todos diziam ser o homem forte de um governo que tem se mostrado, até aqui, absolutamente perdido, sem rumo para enfrentar as crises que aparecem a cada dia. O que causa perplexidade nesta postura passiva do ministro, tido como um homem franco, que não mede palavras para defender suas posições, é a constatação de que o país vai, a cada dia, a cada crise gerada exatamente pelo governo, complicando a sua própria situação.

Guedes, se ainda tem entusiasmo com o seu trabalho, se ainda acredita no grupo ao qual aderiu, precisa agir, sair do silêncio ensurdecedor e se impor. Mostrar ao presidente e a alguns de seus companheiros de ministério – a maioria, diga-se –, que gerar instabilidade política é espantar investidor.

Investimento externo

Radicalismos, insistência na ameaça velada de golpe militar (do tipo “se esticar a corda…”) só pioram a nossa imagem diante de um mundo que estará, sim, ávido por insistir, mas que terá milhares de oportunidades para isso. Não seremos, com certeza, a única boa opção para o investir. Para eles, oportunidade não faltará, e ninguém, em sã consciência, vai colocar recursos num país que tem se mostrado uma ilha de instabilidade e insanidade.

Mais do que ninguém, Guedes deve estar sentindo essa posição defensiva do capital internacional em relação ao país. Ele é – embora por dever de justiça se deva salientar o bom trabalho de outros ministros – o nome mais conhecido e respeitado internacionalmente por sua capacidade técnica e posições políticas. Era – daí ser o “Posto Ipiranga” do presidente – o fiador de uma política que deveria ser implantada. Do que deveria ser feito, muito pouco se concretizou.

Na realidade, a pandemia do novo coronavírus, sem exageros, tem servido como uma cortina a encobrir o pouco sucesso – vamos dizer assim – da política econômica do país que, ao contrário do que vinha sendo buzinado, apresentava um “crescimento anêmico”, no dizer do próprio ministro , antes da crise sanitária.

Há algo de errado no reino de Bolsonaro. Guedes sabe o que é, mas até aqui tem se mantido calado, num silêncio obsequioso diante das trapalhadas do chefe e de alguns companheiros de ministério. Bem, é uma posição. Segura o cargo. Mas em que isso ajuda o país?

Estratégia

Numa linha de pensamento otimista, vamos admitir que a ausência do todo-poderoso ministro seja estratégica. Talvez, pensando com a “cabeça do capeta”, Guedes tenha optado pelo silêncio obsequioso para não atrapalhar o presidente na composição de sua base de apoio parlamentar. Tudo o que o ministro sempre defendeu foi a intransigência do Executivo em relação a suas propostas econômicas. Na sua opinião, o que sai de seu ministério é o melhor para o Brasil e, por isso, deveria ser aprovado pelo Congresso rapidamente e sem muitas discussões. Não foi o que aconteceu.

Muitas propostas foram modificadas ou simplesmente se arrastam pelo Legislativo. Para levá-las adiante, o presidente já aprendeu, só mesmo a retomada da política do toma lá dá cá, abominada nos palanques de campanha, mas indispensável num país onde o eleitor vota mal e faz escolhas erradas. Talvez Guedes tenha se convencido de que o melhor seja ficar calado, deixar rolar as crises e os achegos políticos, capazes de fazer andar suas propostas e, no melhor dos mundos, impedir o avanço de um impeachment contra o seu presidente.

(Fonte: BLOG do PCO – Paulo Cesar de Oliveira)
Os artigos e comentários não representam, necessariamente, a opinião desta publicação; a responsabilidade é do autor da mensagem)

Anúncio