Estudo mostra que Minas sentirá impacto maior que o Brasil

A intensidade e a extensão dos impactos econômicos resultantes da pandemia do novo coronavírus ainda são desconhecidas, mas especialistas da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) mineiro terá uma queda, em 2020, de 7%. Na avaliação nacional, a queda do PIB deverá ser de 5,7%.

Segundo a gerente de Economia e Finanças Empresarias da FIEMG, Daniela Britto, o estudo aponta que a pandemia terá um custo econômico elevado para o país e maior ainda para o estado de Minas Gerais. “Em Minas, é esperado um agravamento da deterioração fiscal. Além disso, as atividades da Industria e os Serviços são mais concentradas que a nacional e tendem a registrar uma contração maior. Os setores industriais que mais contribuem para essa projeção de queda são o automotivo, refino de petróleo, autopeças e a siderurgia”, explica Britto.

Entre as premissas consideradas para as projeções, destaca-se o elevado nível de incerteza no que se refere ao desempenho das medidas econômicas de preservação do emprego e da renda, assim como em relação à duração e à extensão das medidas de isolamento social. A retomada econômica tenderá a ser lenta, no formato de uma curva em “U”, ou seja, definida por uma rápida e aguda queda no PIB, seguida de uma recuperação mais demorada, o que deverá ocorrer somente em 2022.

No Brasil e em Minas Gerais, A FIEMG avalia que o setor agropecuário será o menos afetado pela crise do novo coronavírus. Segundo explica Britto “nossas perspectivas são de crescimento do setor de 4,5% no país e de 3,2% no estado em 2020. Em Minas Gerais, as estimativas são de alta de 26% na produção de café e de 10,4% na produção de soja, tendo em vista o clima mais favorável, com chuvas regulares”.

Revela o estudo que, “na contramão da agropecuária, o setor de serviços deve ser o mais impactado negativamente pelo surto do novo coronavírus. As projeções apontam da entidade apontam para uma queda de 6,9% do setor no Brasil, e de 8,8% em Minas Gerais, em 2020. No Brasil, assim como em Minas Gerais, os segmentos comércio, transportes, turismo, hotelaria e alimentação estão sendo duramente afetados pelas medidas de isolamento social.

Para a indústria geral, é esperada queda da atividade neste ano, no Brasil (-4,9%) e em Minas Gerais (-5,3%). Nas duas regiões, a indústria extrativa mineral deve prestar uma contribuição positiva em 2020, após o fraco desempenho registrado em 2019, reflexo do rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho. Entretanto, as perspectivas são negativas para a atividade de extração de óleo e gás brasileira, fortemente impactada pelo excesso de oferta e pela queda da demanda de petróleo e, consequentemente, pela redução drástica do preço da commodity. O avanço do nível de ociosidade da indústria de transformação corrobora a expectativa de contração da atividade no Brasil, de 6,2% em 2020. Em Minas Gerais, dada a concentração manufatureira em poucos setores, a contração tende a ser mais profunda, de 8,5%.

No Brasil, os setores industriais que tendem a sentir as maiores quedas na atividade em 2020 são: refino de petróleo e coquerias (-8,5%), automóveis, caminhões e ônibus (-5,8%), autopeças e acessórios (-3,6%) e energia elétrica, gás natural e outras utilidades (-2,9).

Em Minas Gerais, os setores são:  automóveis, caminhões e ônibus (-6,0%), refino de petróleo e coquerias (4,1%), autopeças e acessórios (-3,7%) e siderurgia (-3,7%).

Assim como a indústria geral, a atividade de construção civil sentirá os efeitos negativos da queda da renda e da confiança. O nível de ociosidade da indústria da construção deve ser afetado a partir do segundo semestre do ano, quando a postergação das decisões de investimentos em imóveis e de compras para uso próprio passarão a desincentivar a realização de novas obras. As projeções apontam para uma contração do setor de 6,1% no Brasil e de 4,7% em Minas Gerais em 2020.

Conclusões

A combinação de uma crise na saúde com uma crise econômica após a mais profunda recessão da história brasileira impõe muitos desafios para os formuladores de políticas públicas brasileiros. A ausência de um plano estratégico nacional e claro para lidar com esses dois enormes problemas torna os exercícios de previsão de curto e médio prazo mais difíceis. As projeções de queda da economia brasileira variam de 3% a 10% em 2020 entre os analistas de mercado.

Em meio à pandemia, ocorre, ainda, uma crise política, marcada por uma queda de braço entre os três poderes da república e pela ameaça de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Quem estará no poder em 2021?

Há elevada incerteza no que se refere ao desempenho das medidas econômicas de preservação do emprego e da renda, assim como dos auxílios às pessoas e aos setores mais vulneráveis. Quantos serão os desempregados no Brasil ao final de 2020?

A todas elas, soma-se um novo componente – o futuro fiscal. O aumento do déficit e do endividamento público e a enorme dificuldade de aprovação de reformas estruturais diante de um ambiente político desfavorável são muito preocupantes. Qual será o custo de financiamento da dívida pública mais adiante?

Há muitas dúvidas ainda sem respostas. Até que elas sejam minimamente elucidadas, os exercícios de previsão do desempenho da economia brasileira serão revisados com frequência, conclui o estudo.”

Máquinas e Equipamentos apontam para recessão prolongada na Indústria brasileira

Baixa na compra de equipamentos indica pessimismo dos industriais

O IBGE informou queda da produção industrial de 9,1% em março na comparação com fevereiro, muito abaixo dos -2,5% estimados pelo próprio instituto. O novo número deverá afetar negativamente as expectativas do PIB para 2020. A forte queda de 23 dos 26 setores produtivos analisados indica que o freio ocorreu antes mesmo do início da quarentena, em meados do mês de março.

De acordo com Cristina Helena Pinto de Mello, economista e pró-reitora nacional de pós graduação da ESPM, o dado mais importante é o da queda entre máquinas e equipamentos. “Os números mostram que os empresários brasileiros estão reduzindo seus investimentos em máquinas e equipamentos, o que é um dado objetivo de pessimismo em relação ao futuro. Esse é um setor chave, pois dá dinâmica macroeconômica e tem o poder de iniciar processos de expansão ou retração econômica. Máquinas e equipamentos são bons termômetros das expectativas futuras”, afirma.

Para ela, a influência da covid-19 pode ser mais notada nos setores exportadores e de bens de consumo: “Os setores da indústria exportadores são mais integrados a cadeias de produção globais e, portanto, mais sensíveis ao contexto internacional. Ou seja, são mais afetados pelas quarentenas no exterior. No plano interno, a queda da renda dos trabalhadores tem impacto direto sobre os bens de consumo. O isolamento social no Brasil é uma parte do quadro, mas não explica todos os números negativos”, afirma.

Até final de maio, 42,8% dos transportadores devem reduzir quadro de empregados

A segunda rodada da Pesquisa de Impacto no Transporte, realizada pela CNT, tem foco nas relações trabalhistas afetadas pela pandemia

Ainda que trabalhem pela manutenção dos empregos, 33% dos transportadores já precisaram realizar demissões devido à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. Do total de transportadores que ainda não demitiram (54,3%), 18,1% pretendem realizar cortes. Assim, é possível que, até o final de maio, 42,8% dos transportadores tenham realizado redução nos seus quadros de empregados. Dos transportadores entrevistados que já realizaram demissões, 72,7% demitiram até 49 empregados; outros 11,1% realizaram a demissão de cem ou mais empregados.

Os dados fazem parte da segunda rodada da Pesquisa de Impacto no Transporte – Covid-19, que tem foco nas relações trabalhistas, publicada nesta segunda-feira (4). O levantamento foi realizado com 600 empresas de transporte de cargas e de passageiros de todos os modais, entre os dias 20 e 24 de abril. A primeira fase da pesquisa foi divulgada no início de abril.

De acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte, o cenário de demissões poderia ser ainda pior caso não houvesse as alternativas previstas na medida provisória n.º 936/2020, que prevê a possibilidade de suspensão temporária dos contratos de trabalho e de redução da carga horária com proporcional redução de salário.

Para evitar cortes no quadro de pessoal, dos transportadores entrevistados, 47,5% já suspenderam ou pretender suspender, temporariamente, os contratos de trabalho nos próximos 30 dias. Dos que já suspenderam, 52,5% realizaram a suspensão do contrato de até 49 empregados; e 23,2%, de cem ou mais empregados.

Além disso, 47,9% poderão reduzir a carga horária dos seus empregados até o final de maio. O total de transportadores que já reduziu as jornadas chega a 33,2%. Entre os transportadores que optaram pela redução da jornada de trabalho com proporcional redução salarial, 60,8% decidiram pela redução de 25%; 49,7%, pela redução de 50%; e 30,7%, pela redução de 70%. Essas são as três faixas previstas na MP.

A segunda rodada da pesquisa realizada pela CNT revela um agravamento da crise vivenciada pelas transportadoras, com consequências diretas sobre os empregos. “Apesar de entender a importância das medidas já adotadas para reduzir os impactos da crise, os transportadores acreditam na necessidade da aplicação de medidas de apoio mais consistentes. É fundamental que essas medidas sejam aplicadas a todas as empresas, independentemente de seu porte. Só assim será possível assegurar empregos e manter a operação dos serviços de transporte, essenciais para o abastecimento do país”, destaca Vander Costa, presidente da Confederação Nacional do Transporte.

Alguns destaques da segunda rodada da Pesquisa de Impacto no Transporte – Covid-19:

DEMISSÕES

– 33% dos transportadores já precisaram realizar demissões

– 42,8% devem realizá-las até o final de maio

– 72,7% das demissões foram de até 49 empregados; 11,1%, de cem ou mais

SUSPENSÃO DE CONTRATOS

– 33% dos transportadores já suspenderam contratos de trabalho temporariamente

– 47,5% devem suspendê-los até o final de maio

– 52,5% das suspensões foram em contrato de até 49 empregados; 23,2%, em contrato de mais de cem empregados

REDUÇÃO DA JORNADA E DO SALÁRIO

– 33,2% dos transportadores optaram pela redução da jornada de trabalho e de salários, proporcionalmente

– 60,8% optaram pela redução de 25%; 49,7%, pela redução de 50%; e 30,7%, pela redução de 70%

– Entre os transportadores que já aplicaram a redução da jornada, 43,2% acreditam na necessidade de realizar novas reduções

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