*Por Tiago Reis

A Guerra Comercial entre os Estados Unidos e a China já se estende há quase um ano e as tarifas de importação de diversos produtos foram elevadas gradativamente a ponto de impactar de forma significativa o comércio global. Como alternativa às elevadas taxas, a China e os Estados Unidos vêm buscando novos fornecedores para suprir a demanda interna da indústria.

A crescente demanda por produtos do lado chinês levou diversos países a aumentarem suas exportações. Chile, Malásia, Argentina, Hong Kong, Singapura e o Brasil estão entre os principais países que se beneficiaram do aumento das importações chinesas. Por outro lado, alguns países usufruíram do aumento da demanda americana, entre eles Vietnã, Taiwan, México e Coreia do Sul, segundo o relatório do banco de investimentos japonês Nomura.

Dentre os países mencionados, uma nação se destaca no relatório: o Vietnã. O documento aponta para um ganho de 7,9% do Produto Interno Bruto (PIB) como resultado do aumento das exportações para a China e para os Estados Unidos. Mas por que esse pequeno país do sudeste asiático com uma população de apenas 95 mil habitantes foi o que mais ganhou com a guerra comercial?

Com o tamanho aproximado do estado do Maranhão, o Vietnã apresenta uma história interessante. Em 1955, uma década após o término da Segunda Guerra Mundial, no auge da Guerra Fria, se inicia a Guerra do Vietnã. A guerra, travada Pelo Vietnã do Sul, com apoio dos Estados Unidos contra o Vietnã do Norte, apoiado pela China e União Soviética, durou cerca de duas décadas e matou mais de três milhões de pessoas, sendo uma das mais longas e sangrentas guerras da história. Após momentos difíceis de reconstrução, a partir da década de 1980, o país apresentou, por quase quatro décadas, crescimento expressivo, com avanço significativo do PIB, em relação ao crescimento mundial.

Hoje o país ainda apresenta crescimentos acima da média: segundo o Banco Mundial, enquanto o crescimento médio do PIB mundial foi de aproximadamente 3% ao ano, o Vietnã apresenta taxas superiores a 6%. Mas esse seria o único motivo para ele ser o país que mais se beneficiou da guerra comercial?

Em 2017, a China e os Estados Unidos eram os dois maiores importadores de produtos do Vietnã. Entre os principais produtos exportados pelo país, podemos citar, principalmente, máquinas e equipamentos para a indústria de eletroeletrônicos, produtos têxteis e calçados. Os três setores representaram mais de 70% das exportações de 2017.

Segundo o Observatory of Economic Complexity (OEC), os Estados Unidos absorveram 21% dos 220 bilhões de dólares exportados em 2017, enquanto a China foi responsável por 18%. Por mais que boa parte das exportações sejam destinadas à Ásia (48%), os Estados Unidos têm um papel importante para a economia do Vietnã, importando pouco menos do que toda a Europa (24%).

Entretanto, nem sempre foi assim. Na década de 1990, tanto a China quanto os Estados Unidos eram pouco relevantes para a economia vietnamita. Em 1996, por exemplo, a China era responsável por apenas 4,4% das exportações do Vietnã, enquanto os Estados Unidos representavam 4,8%.

Naquela época, o Japão e a Alemanha possuíam maior relevância nas exportações, sendo responsáveis por 30% e 9,5%, respectivamente. Somadas, a Ásia e a Europa respondiam por cerca de 86% das exportações vietnamitas naquele período.

Com o passar dos anos, o Vietnã se tornou um importante fornecedor da indústria têxtil, de calçados e de equipamentos eletroeletrônicos. Tais produtos, curiosamente, representaram mais de 60% das importações dos Estados Unidos provenientes da China em 2017.

Com o aumento dos custos de importação e a crescente ligação comercial entre os Estados Unidos e o Vietnã, o país americano buscou fornecedores alternativos aos produtos chineses e encontrou, no Vietnã, uma solução plausível para suprir sua cadeia industrial.

Assim, através de uma crescente relação comercial com os Estados Unidos e com a China, aliada a uma indústria que desenvolve os produtos comercializados entre os dois países, o Vietnã conseguiu se posicionar de forma a se beneficiar com os aumentos tarifários provenientes da guerra comercial.

Apesar dos benefícios, vale ressaltar que o banco japonês Nomura declarou, em um de seus relatórios, que o entendimento completo dos resultados da guerra comercial não é possível, no momento, e que muitos países sofreram com queda de demanda pela desaceleração do crescimento econômico mundial.

Sobre Tiago Reis
Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Tiago Reis é Fundador e CEO da Suno Research, consultoria de análise financeira voltada para investidores individuais. Analista de Investimentos com certificação da CNPI (Certificação Nacional dos Profissionais de Investimento), Tiago iniciou sua carreira na Set Investimentos e é especialista em assuntos como mercado financeiro, bolsa de valores, investimentos, fraudes corporativas e finanças corporativa.

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