Especialistas em câmbio explicam alta da moeda americana após cortes no Brasil e EUA

Tanto o Brasil quanto os EUA optaram pelo corte de juros na economia. A sinalização brasileira é de entrada em um ciclo de cortes na taxa Selic, com um corte de 0,5%. Já os americanos deixaram em dúvida os próximos passos, a decisão não unânime e a ata publicada sobre a reunião geraram ruídos no mercado a respeito de uma próxima diminuição. Como efeito dessa incerteza, ocorreu uma forte alta do dólar e o valor da moeda americana em relação ao real subiu, chegando a R$ 3,90. Além disso, houve registro de quedas no Ibovespa e na Bolsa de Valores americana.

Para Jefferson Laatus, Estrategista-Chefe do Grupo Laatus, a questão está muito mais as repercussões, do que no próprio corte em si. “O problema não foi nem tanto o corte de 0,25% nos EUA, o problema foi a fala do Powell em relação a continuidade dos cortes na taxa, o que deixou dúvidas quanto a política monetária do Fed. E quando o mercado fica em dúvida o movimento é sempre de proteção, o que significa sair de ativos, como a Bolsa de Valores e comprar dólares”, falou. Além da política monetária do Fed, Laatus apontou a decisão do Presidente Trump de taxar mercadorias Chinesa. “O Trump anunciou que vai taxar, a partir do dia 1 de setembro, 10% em cima de US$ 300 bilhões em mercadorias de exportações e importações da China, fazendo o mercado entrar em colapso com S&P e Bolsa caindo bastante, além do dólar subindo”, completa. Segundo o estrategista-chefe, o movimento é pontual, funcionando muito mais como uma forma de pressão sobre a China, afim de apressar as tratativas de um acordo econômico.

Já o diretor de Câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo, vê o efeito prático das declarações e da ata do Fed como semelhantes ao de um anúncio de estagnação ou alta da taxa, quando se pensa nas expectativas do mercado. “O corte de 0,25% já era esperado pelo mercado, o problema é que não foi uma decisão unânime, somente com dois votos contrários. Além disso, o texto da ata indicou um movimento posterior de redução no ritmo dessa queda. Então o mercado esperava o início de um ciclo de cortes, mas a ata da votação deixou transparecer justamente o contrário. O efeito, na prática, é semelhante ao de uma elevação ou estagnação da taxa”, disse. Para o diretor de Câmbio, a diferença nas duas políticas resultou no movimento de saída de dólares da economia brasileira, aumentando o valor do câmbio. “A decisão é a de risco versus retorno. No comparativo entre as duas economias, a taxa de juros brasileira precisa ser muito mais alta em relação a dos EUA para que se valha a pena investir nos títulos brasileiros. O Fed cortou a taxa de juros, porém indicou que talvez não entre em um ciclo de reduções, ao contrário do Copom, que indicou que pretende reduzir ainda mais a Selic. Nesse caso o movimento de segurança é a compra de dólares”, finaliza Bergallo.

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