Em 2022, os Estados Unidos acrescentaram à sua economia mais do que todo um PIB brasileiro
Em 2022, os Estados Unidos acrescentaram à sua economia mais do que todo um PIB brasileiro
Loja da Ross, em Orlando, Flórida – Estados Unidos – Janeiro de 2023

Crescimento de 2,1% no ano surpreendeu expectativas do mercado

Carlos Alberto Teixeira de Oliveira*

“Eu mesmo me indagava muito: por que os Estados Unidos, tendo mais ou menos a mesma idade física que nós temos, a mesma idade histórica, sendo uma nação que durante algum tempo andou mais ou menos paralelamente conosco em população (o Brasil já esteve até à frente dos Estados Unidos), por que subitamente, os Estados Unidos tomaram essa dianteira formidável, deixando o Brasil para trás, como está hoje, um século atrás dos Estados Unidos em desenvolvimento – e isso é comprovado por todas as estatísticas. Eu sempre chamei a atenção disso, desde que era presidente, porque é preciso que o brasileiro saiba disso, para ele despertar o seu brio e lutar contra essa diferença, esse fosso, que separa o desenvolvimento do Brasil e dos Estados Unidos. Mas os Estados Unidos – eu mesmo me perguntava, por que os Estados Unidos deram esse golpe formidável na nossa frente?

E a razão era essa, não tenha dúvida: é que, em 1801, já estava montada nos Estados Unidos, em Nova York, a Bolsa de Valores. Essa Bolsa lançava já as ações para todas as grandes companhias que se formaram, a princípio, as companhias de carvão, seguidas das companhias de estradas de ferro. Em 1863, inaugurou-se nos Estados Unidos, ligando Nova York a São Francisco, ou seja, de costa a costa, do Pacífico ao Atlântico, a primeira estrada de ferro. No Brasil, só em 1960, foi possível atravessar o Brasil de norte a sul, durante o meu governo quando se inaugurou Brasília, que nós fizemos aquela grande, eu considero uma das maiores festas do Brasil – foi aquela de vir automóveis de Belém até Brasília, e outros de Porto Alegre até Brasília, para se encontrarem no mesmo dia e na mesma hora. Pela primeira vez, se varou o Brasil de norte a sul e de leste a oeste. Um século depois”. (Texto de autoria do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, transcrito da Coletânea intitulada JK: Profeta do Desenvolvimento, de minha autoria).

A economia norte-americana experimentou uma expansão acima das estimativas no quarto trimestre do ano passado e registrou expansão do PIB-Produto Interno Bruto, entre setembro e dezembro, de 2,9%, no cálculo anualizado. De acordo com a Bloomberg, as projeções apontavam para um crescimento de 2,6%. Mesmo com esse resultado houve desaceleração na comparação com o trimestre anterior, quando o avanço chegou a 3,2%.

No acumulado do ano de 2022, a expansão do PIB norte-americano atingiu 2,1%, inferior aos 5,9% apurados em 2021. Segundo projeções do FMI – Fundo Monetário Internacional divulgadas através do documento World Economic Outlook, de 12 de outubro do ano passado e que estimava uma expansão de 1,64% – esse novo percentual agora alcançado pode indicar que a produção total da economia do país tenha atingido US$ 25,148 trilhões – o que equivale a um acréscimo de US$ 2,152 trilhões, em apenas um ano.

O consumo das famílias, considerado o principal motor da economia dos Estados Unidos cresceu 2,1% no quarto trimestre, abaixo dos 2,9% previstos, o que indica que alta dos juros domésticos já está exercendo efeito.

Cabe salientar que, enquanto a economia norte-americana cresceu 2,1% no ano passado, a da China aumentou 3,0% – e, portanto, em nível inferior aos 3,21% estimados pelo FMI. Com isso, a PIB chinês pode ter chegado a US$ 18,284 trilhões em 2022, posicionando o país como o segunda maior economia global.

O resultado do PIB chinês em 2022 foi considerado o segundo pior em 40 anos e ficou bem abaixo da meta de Pequim para o ano, projetada em 5,5%. Economistas chineses não vinculados ao governo vêm, gradativamente, reduzindo suas projeções para o PIB chinês, muitos deles já considerando a possibilidade de o crescimento da economia norte-americana vir a superar a chinesa, algo que não se verifica desde 1976. O FMI estima que a expansão econômica chinesa não deverá ultrapassar cerca de 4% até o final desta década, o que também está sendo compartilhado por várias economistas.

Projeções do Relatório Focus do Banco Central de 09 de janeiro último indicam expansão de 3,03% da economia brasileira em 2022 – perspectiva que permite, assim, ao país alcançar um PIB de US$ 1,901 trilhão – valor este inferior ao acréscimo incorporado pela economia norte-americana durante o mesmo período e que alcançou US$ 2,152 trilhões.

No ano passado, o Federal Reserve Bank – FED (Banco central norte-americano) elevou os juros em mais de 4 pontos percentuais. A taxa deslocou-se do intervalo entre 0,25% e 0,50% para a faixa entre 4,25% e 4,50% em dezembro, maior patamar desde o fim de 2007 – quando a inflação média ao consumidor no país chegou a 4,11%.

Neste século XXI, durante apenas cinco diferentes anos, a política monetária que o FED implementou resultou em taxas médias anuais de juros reais positivas no país: 2001 (2,26%); 2006 (2,38%); 2007 (2,55%); 2008 (0,31%) e 2019 (0,02%). Vale ressaltar que durante 6 anos seguidos – de 2009 a 2015, a taxa média anual de juros praticada naquele país ficou estagnada em 0,25%.

Loja da Beals, em Orlando, Florida – Janeiro de 2023
Loja da Beals, em Orlando, Florida – Janeiro de 2023

INDICADORES DE DESEMPENHO DA ECONOMIA NORTE-AMERICANA – 2015 a 2022

2015        2016        2017        2018        2019        2020        2021        2022

Inflação -%

CPI- ano                     0,64          2,05          2,13          1,92          2,26          1,28          7,10          6,69

Fed Funds -%

Média anual- %           0,26          0,51          1,10          1,91          2,28          0,54          0,25          2,02

Taxa Real de

Juros-Média %            -0,38       -1,51       -1,01           –               –           -0,73       -6,40       -4,38

PIB – Variação

anual – %                     2,71          1,67          2,24          2,95          2,29       -2,71          5,95          2,10

Fonte: Banco Central – LCA Consultores Econômicos – MinasPart Desenvolvimento

 

INDICADORES DE DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA – 2015 a 2022

2015        2016        2017        2018        2019        2020        2021        2022

Inflação – %

IPCA – ano              10,67       6,29          2,95          3,75          4,31          4,52          10,06       5,78

Taxa Selic – %

Média anual             13,58       14,17       9,92          6,56          5,96          2,81          4,81          12,63

Taxa Real de

Juros – Média %      2,63          7,41          6,77          2,72          1,58          -1,63        -4,77        6,47

PIB – Variação

anual – %                   -3,55        -3,28        1,32          1,78          1,22          -3,28        4,99          3,03

Fonte: Banco Central – LCA Consultores Econômicos – MinasPart Desenvolvimento

 

            O Brasil precisa deixar de ser o “paraíso dos rentistas e inferno de quem produz”, declarou o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, no início do governo Bolsonaro. De acordo com o renomado economista André Lara Rezende, “o que se observa, há anos, é a retroalimentação de um círculo vicioso com duplo dano: imensa transferência de dinheiro da sociedade para o sistema financeiro; e a geração de crescente déficit orçamentário do Estado e aumento da dívida pública, cujo serviço é sustentado por títulos com juros muito altos, que, por sua vez, aumentam o rombo fiscal.

Em épocas passadas, chegou-se a afirmar que “ou o Brasil combatia as saúvas ou elas acabariam com o Brasil”. Traduzindo para os tempos atuais é como afirmar que “ou o Brasil reduz as suas taxas de juros ou os juros liquidarão com o país”. Reduzir as taxas de juros aqui praticadas em níveis que possam ser considerados civilizados é uma imposição de ordem, de segurança nacional. Não se pode esperar mais, até mesmo porque taxa de juros não é o único componente para o exercício de uma política monetária eficaz e saudável.

O Brasil, ao longo dessas últimas quatro décadas lembra muito o período do presidente Antonio Salazar (1932-1968) à frente da nação portuguesa, quando, não obstante desfrutar de uma excepcional estabilidade e equilíbrio econômico, Portugal simplesmente não conseguia crescer, transformando-se numa das economias mais raquíticas, pobres e frágeis de todo o continente europeu.

Só o crescimento torna plástica a economia, criando condições para que as ações conscientes e deliberadas do Governo e da Sociedade possam atuar no rumo da atenuação dos problemas sociais e da desconcentração da renda de um lado, e da modernização do aparelho produtivo, de outro. A estagnação da economia enrijece-a, afastando a possibilidade de modificações em sua estrutura e em seu conteúdo.

O Brasil sofre de uma “síndrome do raquitismo econômico” e, simplesmente, não conseguiu acompanhar, nos últimos trinta anos, o ritmo crescimento da economia mundial, ficando muito aquém da média. A marcha do crescimento econômico nacional parece enferrujada, emperrada e não consegue engatar qualquer ritmo que a possa levar avante e, ao contrário, tem se mostrado nesta década como uma autêntica marcha a ré e um verdadeiro andar para trás, como rabo de cavalo.

Transformar o Brasil em nação desenvolvida – essa deve ser a nossa bandeira e visão de futuro. E, nesse sentido, impõe-se uma mudança radical de mentalidade. Não há mais tempo a perder e essa deve ser a decisão imediata a ser tomada e inadiável por mais tempo. Se não a iniciarmos já só nos restará, tão-somente, o consolo do atraso e com ele também chegará, inevitavelmente, a desordem institucional atrelada a ameaças à nossa democracia.

Não se pode continuar aceitando nem mais tolerar que o Brasil seja condenado ao atraso e ao subdesenvolvimento. Essa não é a nossa sina nem poderá ser o nosso destino!

Por fim, o social não pode ser tratado como um apêndice do econômico, mas como parte integrante de um processo mais amplo e equitativo de desenvolvimento socioeconômico.

Desenvolver ações de cunho compensatório e assistencialista atenua, momentaneamente, as carências mais imediatas, mas não resolve de maneira definitiva os problemas sociais. Há que se conceber uma política de redistribuição efetiva da renda, acoplada ao crescimento consistente, equilibrado e harmônico da economia.

Finalizo este texto apresentando, a seguir, parte de discurso do ex-presidente Juscelino Kubitschek:

“Carecemos, em primeiro lugar, de uma nova política da qual decorra a articulação e execução de enérgicas medidas de natureza concreta. Sabemos, todos nós, que urge acompanhar o ritmo do mundo moderno, que não podemos viver apenas de vagas aspirações, quando temos diante de nós uma grande e bem definida tarefa. Essa há de ser também um ideal, obrigação, ponto de honra e dever. Não mais consentiremos, sem desdouro, que continuem na miséria, vegetando em condições atentatórias aos nossos princípios mais caros de respeito à pessoa humana, esses milhões de seres que o destino fez cidadãos do Novo Mundo. 

A nossa verdadeira causa, a causa que nos reclama e congrega, não pode deixar de ser prioritariamente a da nossa prosperidade, a da nossa melhoria, a da libertação de parte considerável de nossas populações ainda privadas dos elementos indispensáveis a uma existência condigna, à altura dos ideais de bem-estar individual e coletivo que inspiram a democracia. Não podemos estar sinceramente integrados em qualquer pensamento, sistema ou linha de ideias que não signifique, ao mesmo tempo, uma garantia para nossa liberdade e um caminho para nossa segurança. Por amarga experiência própria, já nos convencemos de que os países que só podem tirar o seu sustento da extração e comércio de matérias-primas, são países condenados à dependência econômica, à estagnação, a um incerto e perigoso futuro. Nossa determinação de promover o desenvolvimento e incrementar o processo de industrialização do país não decorre de uma ambição excessiva, mas da nossa convicção de que estaremos em perigo, como nação, se agirmos de outro modo.

Sabemos que, em todas as atividades da produção que constituem fontes de divisas, teremos de enfrentar as competições de países em que o trabalho é mais bem apoiado mecanicamente, ou recebe remuneração inferior, porque menos livre. Não ignoramos as graves ameaças que pesam sobre nós em razão de uma tecnologia a que não temos ainda acesso e que não reconhece limites às suas possibilidades. Sentimos o risco de não recuperarmos a distância perdida, se nada fizermos para romper os isolamentos nacionais e concertar uma ação unida, que evite a dispersão ou a duplicação inútil de energia”.

(Texto do discurso realizado, no Palácio do Itamarati, analisando a política externa, durante reunião da Comissão Brasileira da Operação Pan-Americana continental – Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1959 – extraído da coletânea de 3 livros intitulada JK – Profeta do Desenvolvimento, de minha autoria)

*Carlos Alberto Teixeira de Oliveira é Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis, com vários cursos de pós graduação no Brasil e exterior. Ex-Executive Vice-Presidente e CEO do Safra National Bank of New York, em Nova Iorque, Estados Unidos. Ex-Presidente do BDMG-Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e do Banco de Crédito Real de Minas Gerais; Foi Secretário de Planejamento e Coordenação Geral do Governo de Minas Gerais e Diretor-Geral (Reitor) da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte; Ex-Presidente do IBEF Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento; Coordenador Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico; Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais.  Presidente da MinasPart Desenvolvimento Empresarial e Econômico, Ltda. Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas. Presidente/Editor Geral de MercadoComum. Autor de vários livros, como a coletânea intitulada Juscelino Kubitschek: Profeta do Desenvolvimento.

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