Dos talibãs de lá e de cá
Dos talibãs de lá e de cá
Dos talibãs de lá e de cá

Stefan Bogdan Barenboim Salej*

Os olhos vidrados na TV e comentários por todos os lados: olha o que está acontecendo no Afeganistão. Veja a derrota dos Estados Unidos e grande vitória dos talibãs. Coitadas das mulheres e crianças. Em resumo um horror o que está acontecendo e em especial da nossa compreensão do que acontece por lá.

No Brasil, fora dos diplomatas e alguns oficiais, não temos especialistas nem naquele país e nem na região. Nenhum centro de estudos internacionais e nenhuma universidade possui pesquisadores da região e em especial do Afeganistão. O que pretendemos saber vem de fontes ocidentais e em especial da imprensa norte-americana. E nos vinte anos de intervenção norte-americana e, se somamos a ela dez anos de intervenção soviética, não melhorou o nosso entendimento sobre o que lá está acontecendo. Comparando, mal sabemos o que acontece na Bolívia, quiçá por lá.

Mas, o que aconteceu e vai acontecer nos afeta, e muito. Em primeiro lugar, um dia Estados Unidos teriam que sair de lá. O cemitério dos impérios, como chamam os entendidos o Afeganistão, já enterrou Grã Bretanha, Union Soviética e agora Estados Unidos. O custo para Estados Unidos se tornou inviável. E esse dinheiro vai para obras e programas sociais. Agora, dizer que a saída foi uma derrota, é ridículo. Porque a entrada e permanência nesta guerra, já foram por si só, a derrota. E todo final da guerra é caótico, confuso e triste. E sempre traz incertezas sobre o futuro dos envolvidos. As guerras deixam cicatrizes profundas em pessoas, nas nações e nos estados. Portanto, este livro não foi fechado, mas abriu-se somente um novo capitulo.

O povo, aquele que nos esquecemos quando falamos da política internacional, no Brasil, está se lixando para que acontece por lá. As preocupações são outras e no fundo muito parecidas com o das povo afegão. Emprego, educação, justiça, saneamento, água, comida. Sim, fome. Por outro lado, quando comentamos o que acontece lá, nos esquecemos também que nada entendemos da religião islâmica, pouco presente no Brasil, e muito menos das leis sharia oriundas desta religião.

Também pouco podemos entender como um povo resiste por 30 anos o que presenciamos aos invasores estrangeiros. Invasor estrangeiro, é o que chamavam os alemães na segunda guerra: okupator. E viver sob jugo de quem seja, em nome de valores que for, é terrível.

Afeganistão do futuro é uma incógnita para nossos valores ocidentais. Ainda um grande produtor de heroína, rico em minerais, não será um pais nos moldes de democracias ocidentais. E antes e mais nada esperamos que não seja um celeiro de terrorismo internacional. Como nos últimos vinte anos com trilhões de dólares, que por exemplo poderiam pela metade deste dinheiro, erradicar a fome no mundo, e com tantas vidas perdidas, não se consegui entender o que acontece por lá, também agora só tem que se sentar e esperar para ver com os acontecimentos vão se desenrolar. Um pouco do estilo, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

*Empresário, ex-Presidente da FIEMG – Federação das Indústrias de Minas Gerais.

(Os artigos e comentários não representam, necessariamente, a opinião desta publicação; a responsabilidade é do autor do texto)

Anúncio