Dia do trabalhador e a dinâmica econômica
Dia do trabalhador e a dinâmica econômica
Dia do trabalhador e a dinâmica econômica

Euzébio Jorge Silveira de Sousa* 

A comemoração do dia internacional do trabalhador consagra a luta e conquista de trabalhadores há mais de 130 anos. Eventos que ocorreram há tanto tempo possibilitam interpretarmos o presente mundo do trabalho e nos impõe a necessidade de projetarmos qual futuro do trabalho vislumbramos e/ou desejamos.

A Segunda revolução industrial produziu: a difusão de novas tecnologias como o motor a combustão interna, que introduziu o mundo na era do petróleo; a lâmpada de filamento, que permitiu a ampliação das horas de trabalho em ambientes iluminados; o telefone e o telégrafo sem fio, que conectou pessoas e expandiu mercados; a esteira rolantes, que ampliou a rotinização, divisão e aceleração do trabalho; rápida urbanização e o crescimento populacional, com a Europa expandindo sua população em 37% entre os anos de 1870 e 1914 e os Estado Unidos em 150% no mesmo período.

Desta forma, a segunda revolução industrial não trouxe mudanças apenas em coisas e máquinas, transformou profundamente as pessoas, sua compreensão de tempo, sua jornada de trabalho, sua forma de acessar alimentos e suas relações sociais. O trabalho nas fábricas e a vida nas cidades eram insalubres, a jornada de trabalho poderia superar 17 horas diárias e até mesmo as crianças eram convocadas para trabalhos extenuantes e perigosos. As primeiras conquistas dos trabalhadores ocorreram exatamente no estabelecimento de limite de 8 horas diárias na jornada de trabalho de crianças, o que possibilitaria ampliação da escolarização.

As crises econômicas do final do século XIX e início do século XX foram suplantadas por uma mudança no entendimento da sociedade sobre o trabalho. A percepção de que o desemprego era um problema individual e que cada pessoa deveria se responsabilizar por suas privações materiais, foram substituídas pela leitura de que o desemprego era uma consequência de problemas macroeconômicos gerados por más expectativas de empresários, declínio de ciclos econômicos e outras distorções do sistema produtivo. Os ganhos de produtividade da segunda revolução industrial poderiam gerar crescimento econômico, mas exigiam a expansão do mercado consumidor. O que ficou conhecido como o “Era de Ouro” do Capitalismo foi resultado da incorporação dos trabalhadores industriais como consumidores das mercadorias que produziam. A elevação da produtividade foi transformada em elevação dos lucros, salários e consumo, produzindo um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico e construção de um estado de bem-estar social.

A redução da jornada de trabalho conquistada pelos trabalhadores no século XIX incorporou maior contingente de operários em atividades industriais, produzindo relevantes efeitos econômicos, como elevação na demanda por trabalho e ampliação dos níveis salariais. Além disso, a redução da jornada de trabalho aumentou a massa salarial e o poder de consumo dos trabalhadores, permitindo-lhes ter mais tempo livre para vivenciar novas experiências pessoais e sociais, o que levou ao desenvolvimento de atividades econômicas ligadas ao lazer e entretenimento. Outro efeito resultado da redução da jornada de trabalho e elevação do rendimento dos trabalhadores, foi o incentivo à inovação (tecnológica e organizacional) poupadoras de força de trabalho, a fim de compensar a elevação dos custos com trabalho.

Constata-se com isso que as transformações no mundo do trabalho produziram não apenas mudanças na vida dos trabalhadores como em toda a estrutura social dos países desenvolvidos. Nos países subdesenvolvidos a trajetória de industrialização e constituição de direitos trabalhistas foi substancialmente diferente dos países centrais, dada nossa herança colonial e escravista, geramos uma estrutura social profundamente desigual e um mercado de trabalho excludente. O período em que a industrialização foi concluída no país, marcado por elevadas taxas de investimento e crescimento econômico, coincidiu com a violenta ditadura militar, que impôs um modelo de crescimento econômico marcado pela elevação da desigualdade e pela polarização do mercado de trabalho. O Brasil perde a oportunidade histórica de tentar romper com as características estruturais de nosso mercado de trabalho, marcado por a elevado desemprego, baixos salários, alta rotatividade e incidência de trabalho informal.

Os trabalhadores brasileiros não têm muito o que comemorar no momento. Que pese que o país não registre mais a tenebrosa taxa de desemprego de 14,8% do final de 2020, o desemprego de 8,6% do primeiro trimestre de 2023 ainda representa 9,2 milhões de desempregados. A taxa de subutilização da força de trabalho também tem caído, mas ainda está em um patamar de 18,8%, atingindo níveis duas vezes maior entre trabalhadores jovens de 14 a 24 anos. Com a mais elevada taxa básica de juros do mundo, o Banco Central do Brasil, além de utilizar uma medida de baixa eficácia para o combate à inflação de custo, eleva o endividamento do Estado, reduz o ímpeto dos empresários gerarem emprego e amplia a já elevada taxa de desemprego brasileira.

Com o que já foi exposto fica evidente que a dinâmica do mercado de trabalho não só informa o nível de atividade econômica, como contribui para o crescimento econômico, gerando efeitos virtuosos de ampliação do mercado consumidor e expansão da arrecadação do governo. O desafio posto ao Brasil no dia do trabalho de 2023 é constatar que o mundo está em transformação e que a dinâmica do mercado de trabalho ainda é determinante na superação da crise que arrebata o mundo todo. Com trabalhadores da economia de plataforma exercendo jornadas de trabalho de 17 horas diárias, dilemas enfrentados no século XIX e início do XX voltam a exigir respostas para suplantar a crise imediata, mas também para horizontes mais alargados. No dia do trabalhador somos convocados a relembrar a centralidade do trabalho na dinâmica econômica e a pensar que sociedade queremos construir.

*Professor de Economia da Strong Business School, Doutor em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP e Presidente do Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ)

(Os artigos podem não expressar, necessariamente, a opinião desta publicação)

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