• Por Carlos Alberto Teixeira de Oliveira

Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis. Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais.  Ex-Presidente do BDMG e ex-Secretário de Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais; Presidente/Editor Geral de MercadoComum.

Economia Mineira segue o ritmo da economia nacional e PIB permanece estável no primeiro trimestre de 2019

 O estudo “Economia Mineira 1989 – Diagnóstico e Perspectivas” está completando presentemente 30 anos, desde que foi lançado pelo BDMG-Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Disposto em sete volumes (Síntese e Propostas; Indústria – Novos Desafios, Estudos Setoriais; Agropecuária – Visão Global, Regionalização da Produção; Mineração; Energia e Transporte; Aspectos e regionais) – e em mais de mil páginas reunidas em uma coleção, contou com uma tiragem de 10 mil exemplares impressos.

Conhecido como o 2º Diagnóstico da Economia Mineira e oficialmente lançado em agosto de 1989, à época em que eu ocupava a sua presidência, o estudo serviu como base para diversos outros estudos, políticas públicas e programas elaborados posteriormente.

Destaco daquele estudo, a seguir, dois pontos que considero ainda plenamente aplicáveis aos dias atuais e que também explicam, em certa medida, o que vem ocorrendo com a nossa economia estadual:

 1 – A macroeconomia de Minas é, fundamentalmente, a macroeconomia do País. Em outras palavras, o comportamento de variáveis tais como o nível global de investimentos, o nível de agregado do emprego e a taxa de crescimento do PIB é, em grande medida, definido em relação ao País como um todo, mesmo porque a política econômica estadual dispõe de poucos instrumentos capazes de influenciar decisivamente a sua direção;

2 – A decolagem da economia mineira, rumo a um novo ciclo de desenvolvimento, exige também que a economia do País reingresse na rota do crescimento firme e sustentado. As perspectivas para a economia de Minas dependem, em grande parte, das perspectivas que se vislumbram para a economia nacional.

O Produto Interno Bruto (PIB) gerado na economia de Minas Gerais, nos doze meses completados em março de 2019, foi 1,0% superior, em termos reais, em comparação com o período imediatamente anterior. A leitura desse resultado indica ter sido ele ligeiramente superior ao crescimento estimado pelo IBGE para a economia brasileira no mesmo período, de 0,9%.

Os dados fazem parte do estudo intitulado “Indicadores FJP: PIB Trimestral de Minas Gerais – 1° Trimestre/2019”, publicado pela Fundação João Pinheiro (FJP) no dia 5 de julho, no site da instituição.

Tanto para Minas Gerais, quanto para o país, os dados relativos ao desempenho da economia indicam que a recuperação iniciada em 2017 perdeu alento ao longo do ano passado, ameaçando retroceder ou evoluir para uma situação de estagnação econômica. De fato, o resultado do PIB de Minas Gerais no primeiro trimestre de 2019 indica que a atividade econômica apresentou estabilidade na análise da série com ajuste sazonal. De acordo com dados divulgados pelo IBGE, o PIB brasileiro, para o mesmo período e ótica de comparação, diminuiu -0,2%.

Agropecuária – Nas atividades do setor agropecuário houve expansão de 0,4% em Minas Gerais, no primeiro trimestre de 2019, em relação ao trimestre imediatamente anterior. Como a cesta de produtos colhidos nos meses de janeiro, fevereiro e março se diferencia do conjunto de culturas cuja colheita aconteceu no final do ano, a comparação entre as safras fica mais evidente no confronto com o mesmo período de 2018. Nessa mesma ótica, a agropecuária mineira expandiu 7,2%. No Brasil, ao contrário, o setor apresentou resultados desfavoráveis, recuando -0,1% na comparação trimestre contra mesmo trimestre do ano anterior.

O aumento na quantidade produzida de algumas culturas importantes para o resultado do primeiro trimestre em Minas Gerais, como a primeira safra da batata-inglesa e de algodão herbáceo, foi fundamental para compreender a taxa observada. Em âmbito nacional, a inflexão na produção de soja em grão e de arroz em casca ajuda a entender o desempenho negativo do setor.

Indústria – A queda de volume do valor adicionado na indústria mineira (-1,9%) foi mais intensa do que a observada para o país (-0,7%) na análise da série com ajuste sazonal. Em Minas Gerais, a retração significativa do setor esteve associada à paralisação das atividades de extração de minério de ferro em Brumadinho, e do acompanhamento mais rigoroso das demais barragens com interrupção da operação de várias minas. Com isso, a indústria extrativa estadual recuou -20,6% no primeiro trimestre de 2019 em relação ao trimestre imediatamente anterior e -13,3% em relação aos três meses iniciais de 2018.

Por outro lado, houve recomposição parcial no volume útil hidrológico dos reservatórios estaduais e expansão da geração hidroelétrica estadual, o que contribuiu para o incremento de 9,9% no volume de valor adicionado pelo segmento de energia e saneamento em Minas Gerais.

A indústria de transformação (-0,4%) e a construção civil (-0,3%) também apresentaram retração no volume de produção estadual na série dessazonalizada. Vale notar, entretanto, que isso ocorreu com retração menos acentuada do que a observada no contexto nacional.

Embora a indústria manufatureira tenha recuado na série com ajuste sazonal em Minas Gerais, na comparação do primeiro trimestre de 2019 com o mesmo trimestre do ano passado houve incremento de 1,0% no volume produzido no estado. Nesta base de comparação, destacou-se o aumento da quantidade produzida de bebidas, de produtos de metal e de máquinas e equipamentos. Em contrapartida, houve diminuição da produção da fabricação de fumo, de produtos têxteis, de veículos automotores e de produtos químicos.

Serviços – Nos serviços, houve variação positiva de 0,4% em Minas Gerais e de 0,2% em âmbito nacional na série dessazonalizada. Tanto para a economia mineira quanto para a nacional, o desempenho positivo da administração pública (crescimento do volume de valor adicionado de 0,9% em Minas Gerais e de 0,3% no Brasil) e do conjunto agregado dos “outros serviços”* (0,3% de expansão nas duas regiões) foi determinante para o resultado positivo.

Por outro lado, houve inflexão mais significativa em Minas Gerais nas margens de comércio (-0,6%) nessa ótica de comparação (trimestre contra trimestre imediatamente anterior).

* Outros serviços: serviços de alojamento e alimentação, serviços de informação e comunicação, atividades de intermediação financeira, serviços prestados às empresas, educação e saúde privada, serviços domésticos, serviços prestados às famílias e atividades imobiliárias.

Valores Correntes – Com a conclusão dos aperfeiçoamentos metodológicos no cálculo do PIB trimestral de Minas Gerais, que se tornou plenamente integrado ao Sistema de Contas Regionais na referência 2010, passou a ser possível a divulgação dos valores correntes setoriais do valor adicionado bruto (agropecuária, indústria e serviços) e do PIB mineiro a partir do novo ano de referência (2010).

No primeiro trimestre de 2019, a estimativa preliminar para o PIB de Minas Gerais totalizou R$ 146,1 bilhões. O valor adicionado da agropecuária foi estimado em R$ 6,7 bilhões; o da indústria, em R$ 31,0 bilhões; e o dos serviços, em R$ 89,7 bilhões, totalizando R$ 127,4 bilhões de valor adicionado bruto em termos nominais.

Tabela 2: Produto Interno Bruto e Valor Adicionado das Atividades Econômicas – Valores Correntes (R$ 1.000.000) – Minas Gerais – 1° Trimestre/2010-1º Trimestre/2019

Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Diretoria de Estatística e Informações (DIREI), Núcleo de Contas Regionais. Nota: (1) Os resultados trimestrais para os valores correntes de 2017, 2018 e do primeiro trimestre de 2019 permanecem como preliminares até a divulgação das pesquisas estruturais do IBGE e sua incorporação pelo Sistema de Contas Regionais (SCR-MG).

O relatório completo da Fundação João Pinheiro encontra-se integralmente a seguir:

A ECONOMIA MINEIRA: VISÃO GERAL

O Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais não apresentou variação na comparação do primeiro trimestre de 2019 contra o quarto trimestre de 2018, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. Na comparação com igual período de 2018, houve crescimento do PIB de 0,6% no primeiro trimestre do ano. No acumulado dos quatro trimestres terminados no primeiro trimestre de 2019, o PIB registrou aumento de 1,0% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Em valores correntes, o PIB mineiro no primeiro trimestre de 2019 totalizou R$ 146,1 bilhões.

1. RESULTADOS DO 1ºTRIMESTRE DE 2019

a) Taxa trimestre contra trimestre imediatamente anterior (com ajuste sazonal)[1]

O PIB mineiro não apresentou variação na comparação do primeiro trimestre de 2019 contra o quarto trimestre de 2018, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. A Agropecuária e os Serviços apresentaram avanço idêntico (0,4%), enquanto a Indústria teve variação negativa de -1,9% (tab. 1). No Brasil, houve recuo do índice de volume do PIB (-0,2%).

Tabela 1: PIB e Valor Adicionado: Taxas de variação no trimestre (em relação ao trimestre imediatamente anterior) na série com ajuste sazonal – Minas Gerais e Brasil – 1º trim. 2016 – 1º trim. 2019 – (%)

Dentre os subsetores industriais, a queda foi puxada pela Indústria Extrativa Mineral (-20,6%), mas também se apresentou na Indústrias de Transformação (-0,4%) e Construção (-0,3%). Já Energia e Saneamento apresentou crescimento (9,9%). O setor de Serviços apresentou resultado negativo na atividade de Comércio (-0,6%), já as atividades de Administração Pública (0,9%), Outros Serviços[1] (0,3%) e Transportes (0,1%) se mostraram com variação positiva. O Gráfico 1 apresenta as taxas de variação no trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal.

Gráfico 1: PIB e Valor Adicionado: Taxas de variação no trimestre (em relação ao trimestre imediatamente anterior) na série com ajuste sazonal – Minas Gerais e Brasil – 1º trim. 2019 – (%)

Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Diretoria de Estatística e Informações (DIREI); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Contas Nacionais Trimestrais.

b) Taxa trimestral em relação ao mesmo trimestre do ano anterior

Quando comparado a igual período do ano anterior, o PIB mineiro cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2019 – o nono resultado positivo consecutivo (tab. 2). No Brasil, o aumento observado foi de 0,5%.

Tabela 2: PIB e Valor Adicionado: Taxas de variação trimestral (em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Minas Gerais e Brasil – 1º trim. 2016 – 1º trim. 2019 – (%)

O Gráfico 2 apresenta as taxas de variação trimestral em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Destaca-se que dentre as atividades que contribuem para a geração do Valor Adicionado, a Agropecuária registrou variação positiva de 7,2% em relação a igual período do ano anterior. Este resultado pode ser explicado, principalmente, pelo desempenho da primeira safra da batata-inglesa e de algodão herbáceo, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE).

A Indústria expandiu 0,5%. Nesse contexto, o subsetor de Energia e Saneamento apresentou a maior alta, expandindo 11,8%, favorecido pela recomposição parcial no volume útil hidrológico dos reservatórios estaduais. Os subsetores de Construção Civil e Indústria de Transformação[1] elevaram 1,4% e 1,0%, respectivamente.

O único subsetor que apresentou queda foi a Indústria Extrativa Mineral[2], recuando -13,3%. Isso se deve ao rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, e seus desdobramentos, com destaque para a interrupção da produção em outras minas de extração.

O valor adicionado de Serviços aumentou 0,1%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. As atividades de Comércio e Administração Pública tiveram um crescimento igual a 0,4%. Recuaram as atividades de Outros Serviços (-0,6%) e Transportes (-1,1%).

Gráfico 2: PIB e Valor Adicionado: Taxas de variação trimestral (em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) – Minas Gerais e Brasil – 1º trim. 2019 – (%)

Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP), Diretoria de Estatística e Informações (DIREI); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Contas Nacionais Trimestrais.

c) Taxa acumulada nos últimos quatro trimestres (em relação ao mesmo período do ano anterior)

O PIB mineiro acumulado nos quatro trimestres terminados em março de 2019 apresentou aumento de 1,0%, em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. O resultado do Valor Adicionado neste tipo de comparação decorreu dos seguintes desempenhos: Agropecuária (8,1%), Indústria (0,4%) e Serviços (0,7%). No Brasil, o PIB acumulado nos quatro trimestres elevou 0,9% (tab. 3).

Tabela 3: PIB e Valor Adicionado: Taxas de variação acumulada nos últimos quatro trimestres (em relação ao mesmo período do ano anterior) – Minas Gerais e Brasil – 1º trim. 2016 – 1º trim. 2019 – (%)

Dentre os subsetores industriais, Energia e Saneamento (1,6%), Construção Civil (0,7%) e Indústria de Transformação (0,5%) apresentaram crescimento. Já a Extrativa Mineral sofreu contração de -1,1%. Em relação as atividades de Serviços, destaca-se positivamente: Comércio (1,4%) e Outros Serviços (0,3); e destaca-se negativamente: Transportes (-0,7%) e Administração Pública (-0,3%).

O Gráfico 3 apresenta as taxas de variação acumulada nos últimos quatro trimestres, em relação ao mesmo período do ano anterior.

Gráfico 3: PIB e Valor Adicionado: Taxas de variação acumulada nos últimos quatro trimestres (em relação ao mesmo período do ano anterior) – Minas Gerais e Brasil – 1º trim. 2019 – (%)

Fontes: Fundação João Pinheiro (FJP), Diretoria de Estatística e Informações (DIREI); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Contas Nacionais Trimestrais.
  1. VALORES CORRENTES

 O Produto Interno Bruto de Minas Gerais no primeiro trimestre de 2019 totalizou R$ 146,1 bilhões – cerca de 8,6% do PIB nacional, sendo R$ 127,4 bilhões referentes ao Valor Adicionado a preços básicos e R$ 18,7 bilhões aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios. Considerando o Valor Adicionado, a Agropecuária registrou R$ 6,7 bilhões, a Indústria R$ 31,0 bilhões e os Serviços R$ 89,7 bilhões (tab. 4). No Brasil, o PIB do primeiro trimestre totalizou R$ 1,7 trilhões.

Tabela 4: PIB e Valor Adicionado: Valores correntes – Minas Gerais e Brasil – 1º trim. 2017 – 1º trim. 2019

Considerações metodológicas

De acordo com a Fundação João Pinheiro (FJP), por meio da Diretoria de Estatística e Informações (DIREI), o PIB trimestral de Minas Gerais é calculado pela instituição com metodologia própria e os resultados são preliminares e, naturalmente, sujeitos a revisão. Os cálculos são sempre revistos com dois ajustes principais: 1) atualização da estrutura de ponderação das atividades econômicas no valor adicionado da economia do Estado; e 2) substituição de projeções ou valores preliminares nas séries de dados primários utilizados no cômputo do PIB trimestral por valores consolidados.

Os procedimentos de revisão são semelhantes aos adotados pelo IBGE no que diz respeito às Contas Nacionais Trimestrais, e os resultados definitivos são divulgados usualmente com defasagem de dois anos. Em novembro de 2016, a Fundação João Pinheiro, em parceria com o IBGE, divulgou a retropolação na nova metodologia (referência 2010) em razão de alterações nas Contas Nacionais com impactos nas Contas Regionais (em virtude das novas recomendações internacionais).

Os resultados de 2017, 2018 e do primeiro trimestre de 2019 permanecem como preliminares até a divulgação das pesquisas estruturais do IBGE, sua incorporação pelo Sistema de Contas Regionais (SCR-MG) e atualização no Sistema de Contas Trimestrais de Minas Gerais (SCT-MG).

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