*Por Carlos Alberto Teixeira de Oliveira

Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis. Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais.  Ex-Presidente do BDMG e ex-Secretário de Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais; Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas e Presidente/Editor Geral de MercadoComum.

Desempenho da economia brasileira:

A decepcionante segunda década que não se encerrou, a mediocridade do início de um novo século, a opção pelo atraso e subdesenvolvimento e lições de JK.

     “Pretender solucionar a crise brasileira com remédios prescritos para o único fim de estabilidade, como se fôssemos uma terra exausta e um povo cansado, necessitados de equilibrar as poucas forças que ainda nos restassem é semelhante, malgrado as deformações que acarretam todas as analogias, ao intento de se tratarem as crises da puberdade com medicamentos destinados a mitigar a senectude”. (Juscelino Kubitschek de Oliveira)

Tem sido fabulosa e incrível a quantidade de artigos, crônicas e matérias publicados nos maiores e mais variados veículos de comunicação brasileiros por renomados economistas e alguns ex-ministros, presidentes de entidades de classe, jornalistas e outros – tratando do fim desta segunda década do século XXI, como se ela tivesse se encerrado no final de 2019. Não, ela ainda não se encerrou e é preciso deixar bastante claro que isso só ocorrerá após o dia 31 de dezembro de 2020.

Mas vamos fazer uma simulação sobre o desempenho da economia brasileira comparativamente a outros países e blocos já considerando o encerramento desta 2ª década do século XXI. Para isso, usaremos algumas estimativas e projeções relativas aos anos de 2019 e 2020 – recentemente divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Relatório Focus do Banco Central do Brasil.

O desempenho da economia brasileira na 1ª década do século XXI, quando comparado à média mundial, pode ser considerado frustrante: registramos uma taxa média anual de expansão do PIB-Produto Interno Bruto de 3,71% e de 43,55% no acumulado do período de 2001 a 2020 – contra uma taxa média anual mundial de 3,95% e acumulada de 47,03%. No entanto, quando a comparação se faz com os países considerados emergentes e em desenvolvimento – categoria da qual o Brasil faz parte, o resultado nos é humilhante, pois eles cresceram quase o dobro:  6,26% na média anual e 83,15% no acumulado. No referido período, a China contabilizou uma expansão de 172,60% e a Índia, 106,82%.

Durante a primeira década a economia brasileira apresentou desempenho durante cinco anos em níveis superiores aos registrados pela média mundial e, nos outros cinco, o resultado foi inferior. No entanto, o crescimento total acumulado pelo País foi inferior à média mundial.

Façamos então as mesmas comparações para a 2ª década do século XXI, ou seja, o período de 2011 a 2020 – considerando-se as estimativas divulgadas pelo FMI para 2019 e projeções para 2020. Relativamente ao Brasil serão usadas como referência as estimativas para 2019 e projeções para 2020 do Relatório Focus, de 27 de janeiro último e a última do ano passado, do Banco Central.

O resultado é, para nós brasileiros, simplesmente decepcionante e alarmante nesta 2ª década: o País teve o pior desempenho econômico desde o século passado, quando se começou a série histórica. A média anual de expansão do PIB mundial deverá registrar um crescimento de 3,53% e, no acumulado, de 41,52% – enquanto o Brasil deverá apresentar expansão de apenas 0,87% ao ano e de 8,67% no acumulado do período. No mesmo período, os países emergentes e em desenvolvimento deverão contabilizar uma expansão média anual de 4,78% de suas economias e de 59,50% no acumulado do período. A Índia deverá expandir o PIB em 90,54% e o da China praticamente dobrará de valor, alcançando um aumento de 99,57%.

Durante todos os anos da segunda década e levando-se em consideração as projeções para 2020, a economia brasileira apresenta desempenho em níveis inferiores aos registrados pela média mundial.

Como ficaria então o desempenho da economia brasileira em relação ao resultado global, durante estas duas décadas iniciais deste século XXI?

Evidentemente que o Brasil não fica bem na foto, comprovando que a máquina do crescimento econômico do país está enferrujada ou quebrada e que desaprendemos o que significa crescer a economia de forma vigorosa, consistente, contínua e sustentada.

     Enquanto a média anual de expansão do PIB mundial poderá atingir 3,74% nestes 20 últimos anos – equivalendo a uma taxa acumulada que mais do que dobra de tamanho a economia global (alcançando 108,08%), o PIB brasileiro deverá contabilizar um crescimento médio anual de 2,29% e, acumulada no mesmo período, de 56,00% (o que equivale a apenas quase a metade da média mundial). Vale ressaltar, ademais, que os países emergentes e em desenvolvimento deverão expandir as suas economias a uma média anual de 5,52% e, no acumulado, de 192,12%. Neste mesmo critério, a economia chinesa deverá multiplicar por mais de quatro vezes o seu PIB (atingindo expansão de 444,03%) e a indiana triplicará de tamanho, expandindo 294,08%.

     Durante as primeiras duas décadas deste século XXI e considerando as projeções para 2020, a economia brasileira apresenta desempenho apenas durante cinco anos da 1ª década em níveis superiores aos registrados pela média mundial e, nos demais, o resultado foi inferior.

     Já escrevi anteriormente sobre este tema em várias outras oportunidades e entendo que o Brasil encontra-se, já há mais de trinta anos, acometido de uma “síndrome de raquitismo econômico”, entrou em um círculo vicioso e corre atrás do próprio rabo quando, em muitas das vezes, os seus maiores problemas poderiam ser resolvidos se tivéssemos um entendimento mais pragmático e aritmético do que de conhecimento sobre macroeconomia ou de políticas monetárias propriamente ditas.

    Logicamente, se há recessão, queda do PIB ou baixo nível de crescimento econômico – como consequência haverá mais desempregados, menos contribuintes ao INSS, menos consumidores, bem como, redução dos lucros das empresas e menor recolhimento de impostos, contaminando negativamente a arrecadação tributária. Ou seja, na maioria das vezes o problema é de baixo denominador – alimentando a ilusão de ótica de que as despesas é que estão muito altas. Resumo: quando as receitas são baixas as despesas podem ter a falsa noção de que são elevadas (numerador/denominador). Assim, a falta de crescimento deve ser definida como a principal causa das nossas dificuldades e mazelas, provocando um conjunto enorme de consequências nefastas que afetam toda a dinâmica nacional. Em síntese, atacar apenas as consequências tem sido um dos nossos maiores e principais males!


Fonte: Ipeadata – IBGE – Banco Central do Brasil/Relatório Focus – MinasPart Desenvolvimento

Na verdade, completaremos em 2020 40 anos – 4 décadas seguidas em que a economia brasileira simplesmente não consegue acompanhar o ritmo da economia mundial, crescendo em níveis inferiores à média mundial e em patamares que podem ser considerados medíocres se comparados com os países emergentes e em desenvolvimento:

Os brasileiros precisam recuperar a bandeira da Esperança! JK já afirmava que a maior de todas as bandeiras brasileiras é a bandeira da esperança.

    Para JK, as maiores ameaças à democracia são a miséria, o desemprego e o subdesenvolvimento. O medíocre desempenho da economia brasileira verificado, principalmente ao longo destas últimas décadas, coincide com a busca obsessiva pela estabilidade econômica – que nos tem ofuscado todas as possibilidades de colocar o desenvolvimento como a nossa grande, prioritária e fundamental meta nacional. Mantendo-se esses mesmos conceitos que considero ultrapassados, continuaremos correndo ainda o risco de ficarmos, durante várias outras décadas, relegando o crescimento vigoroso pela discussão centrada apenas no ajuste e no equilíbrio das contas públicas.

     O Brasil precisa se reconciliar com o crescimento econômico vigoroso, consistente, contínuo, sustentável e eleger o desenvolvimento como a nossa meta prioritária número 1!

    O crescimento econômico vigoroso deve deixar de ser apenas uma casualidade, uma questão episódica, uma efemeridade, um acontecimento meramente fortuito para se transformar, efetivamente, na grande meta econômica nacional, permeando a convolação do País em uma economia madura e desenvolvida. Nesta direção, já tivemos antes, vários exemplos de sucesso e que poderiam nos servir de inspiração, como foi o caso do Plano de Metas, implementado durante o Governo JK.

     País que não cresce a sua economia é país condenado à pobreza e ao subdesenvolvimento, e, por isso, torna-se imprescindível o estabelecimento de uma “Agenda Estratégica para o Desenvolvimento Nacional” – em que a transformação do Brasil em nação desenvolvida seja o grande objetivo.

Não seria utopia imaginarmos que o PIB do Brasil possa crescer cinco, oito ou dez por cento ao ano. A China e outros países da Ásia vêm demonstrando isso há mais de vinte anos seguidos. É o que se chama ciclo virtuoso de crescimento econômico, e isso é o que mais nos falta nos dias atuais.

E também não precisamos imitar os modelos asiáticos, pois um dia já vivemos essa realidade.

O Brasil soube, por muito tempo, a promover o crescimento econômico a taxas robustas e teve um período em que a expansão do seu produto interno bruto era considerado um “Milagre Brasileiro. Vide o gráfico anterior intitulado “Brasil – Taxas Médias de Crescimento do PIB por década (%)”.

Há 65 anos, Juscelino Kubitschek de Oliveira anunciava que o Brasil cresceria cinquenta anos em cinco, o que veio a se confirmar. No ritmo de crescimento atual, o Brasil pode demorar muito tempo para se transformar em Nação desenvolvida e obter o desempenho alcançado pelo Governo de JK!

De 1956 a 1961, o País efetivamente, em apenas cinco anos, registrou um crescimento acumulado próximo de 48%, o que representa uma média anual superior a 8%.

     JK também já alertava que é preciso que nos capacitemos, de uma vez para sempre, de que o desenvolvimento do Brasil é uma condição ligada à nossa sobrevivência num mundo que se impõe, mais e mais, pela força de sua vertiginosa marcha técnica. Ele afirmava que não temos de nos desenvolver apenas por ambição mesmo justa, mas desenvolver para sobreviver. E ainda acrescentava:

     “Não se faz, não se opera a modificação de um país, sem que haja também uma nova mentalidade, a mentalidade para o desenvolvimento, a mentalidade de grande país. É isso o que me parece indispensável ao nosso Brasil”.

     Essa experiência histórica, conduzida por um mineiro de Diamantina, não pode se constituir numa simples lembrança de um passado já quase longínquo. Ela deve ser a nossa inspiração e o nosso exemplo, para que o Brasil venha novamente abraçar a causa do desenvolvimento.

     Vamos transformar as nuvens de hoje na copiosa chuva de amanhã, para fecundar a economia e tornar mais humana e justa a sociedade brasileira.

 

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