Projeção representa quebra de até 30,5% ante 2020 e reflete impactos da bienalidade, da estiagem e das altas temperaturas

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou, ontem, a safra 2021 de café do Brasil entre 43,9 milhões e 49,6 milhões de sacas de 60 kg, o que corresponde a uma quebra de 30,5% a 21,4% em relação à temporada anterior, que foi recorde de 63,1 milhões de sacas.
O Conselho Nacional do Café (CNC) esteve em contato constante com a estatal ao longo do levantamento e da apuração dos números e entende que a estimativa apresenta a realidade do cinturão cafeeiro do Brasil.
“A queda projetada pela Conab vem ao encontro do ciclo de baixa na bienalidade do café arábica e reflete o impacto da estiagem e das altas temperaturas que assolaram os cafezais, principalmente entre agosto e outubro do ano passado”, comenta Silas Brasileiro, presidente do CNC.
IMPORTÂNCIA DO FUNCAFÉ
Conforme ele, a partir dos números apresentados pela Conab, o CNC estreitará contato com a Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o governo federal para dar celeridade e monitorar as solicitações dos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) voltados para Recuperação de Cafezais Danificados.
Essa linha de financiamento teve seu orçamento elevado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), conforme orientação do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), de R$ 10 milhões para R$ 160 milhões no ano passado, exatamente para os produtores poderem refazer seus cafezais impactados pelas adversidades climáticas.
Brasileiro também destaca a importância do Fundo em uma safra como a que se desenha para 2021. “Num ciclo de baixa como o atual, os recursos do Funcafé são fundamentais, principalmente para que os produtores afetados possam realizar os tratos e recuperar seus cafezais, bem como para financiar a estocagem do produto, com os juros mais baixos da história, e poder colocá-los no mercado nos momentos mais adequados”, explica.
O trabalho intransigente de defesa do Funcafé que o Conselho realiza, completa o presidente, justifica-se em momentos como o atual. “A finalidade principal do nosso Fundo é possibilitar a geração de renda ao cafeicultor, por isso o CNC atua com compromisso e responsabilidade quando o assunto é o Funcafé, cujos recursos precisam ser preservados para ajudar produtores em situações adversas, como essa ocasionada pelo clima”, argumenta.
Ele recorda que os cafeicultores, que tiveram suas lavouras impactadas e desejam tomar o capital do Fundo para financiar a recuperação dos cafezais, devem iniciar o levantamento para lavrarem um laudo técnico da situação, já que essa é uma condição imposta pelo Manual de Crédito Rural e que também foi acordada entre cadeia produtiva e governo dentro do CDPC.

Sem escassez de café

O dirigente da entidade que representa cafeicultores e cooperativas de produção no Brasil relata que, apesar de uma colheita menor, o País não deixará de honrar seus compromissos.
“A safra a ser colhida somada aos nossos estoques de passagem permitirão que permaneçamos como principais exportadores mundiais de café e que também abasteçamos nosso mercado interno, compromissos que absorvem, em média, cerca de 60 milhões de sacas ao ano atualmente. E esse volume teremos à disposição com a colheita e o produto armazenado”, calcula.

Quebra de safra preocupa cafeicultores mineiros

Minas pode colher uma safra de café até 43% menor este ano. É o que revela o 1º Levantamento da Safra 2021 de café, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta quinta-feira (21). Ainda segundo o estudo, o Sul de Minas deve amargar perdas entre 43 e 47%, em relação ao ano anterior.
O vice-presidente do Sistema FAEMG e presidente das Comissões de Cafeicultura da entidade e da CNA, Breno Mesquita, confirma que os números batem com a percepção do setor produtivo. “Já vínhamos alertando para este cenário desde o ano passado. Além da bienalidade negativa, tivemos graves problemas climáticos em 2020, que já nos sinalizavam uma perda preocupante para a safra atual. Os percentuais levantados pela Conab são bastante similares aos que temos recebido de feedback dos produtores e cooperativas”.
Minas Gerais responde por quase metade de toda a produção nacional, e deve alcançar entre 19,8 milhões e 22,1 milhões de sacas (redução de 42,8% em relação ao último ano). A perda mineira pode ser percentualmente maior do que a média de outros estados, pela predominância do café arábica, que sofre maior influência da bienalidade negativa. Mas as perdas apontadas pela Conab são igualmente preocupantes para todo o país: o documento estima uma produção nacional total – somados conilon e arábica -, entre 43,8 milhões e 49,5 milhões de sacas, indicando uma redução entre 30,5% e 21,4%, em comparação ao resultado apresentado na safra passada.
“É uma perda muito significativa e que nos preocupa muito, porque esses reflexos do clima provavelmente impactarão também a safra seguinte, de 2022. Precisaremos criar dispositivos para que o cafeicultor brasileiro tenha condições de ultrapassar esse momento. Desde o ano passado temos trabalhado nessa busca por recursos, linhas de crédito e instrumentos de renda para o produtor. Já conseguimos o aporte de 150 milhões para a recuperação de cafezais danificados, que estão disponíveis aos produtores e serão essenciais para dar fôlego à cafeicultura brasileira”. – conclui Breno Mesquita.

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