O saldo da balança comercial foi de US$ 6,7 bilhões em abril, um bilhão acima do resultado de abril de 2019. No acumulado do ano, porém, o resultado até abril em 2020 no valor de US$ 11,8 bilhões foi inferior ao de igual período de 2019. O melhor desempenho da balança mensal, na comparação entre os meses de abril de 2019 e de 2020, é explicado pela queda mais acentuada das importações (-14,8%) em relação às exportações (-5,0%).

Os índices do ICOMEX permitem uma análise mais detalhada dos fluxos de comércio. Em volume, as exportações cresceram 0,3% e as importações caíram 7,6% entre os meses de abril de 2019/2020. Observa-se que as importações vinham registrando aumentos na comparação mensal interanual, desde dezembro, e em março tiveram um acréscimo de 15,4%. Risco de novas desvalorizações e efeitos defasados entre os contratos e a mudança no cenário doméstico com a tendência recessiva na economia explicariam esse resultado. A queda nas importações, em abril, mostra que o cenário de queda no nível de atividade da economia já foi incorporado pelos operadores do comércio exterior. No acumulado do ano até abril, entretanto, as exportações recuaram 2,3% e as importações aumentaram 4,2%. Espera-se que, nos próximos meses, as importações confirmem a tendência de queda, o que deve reverter o sinal do acumulado no ano.

O aumento das exportações é totalmente explicado pelas commodities, que aumentaram 17,1% em abril na comparação com abril de 2019; na comparação entre os dois primeiros quadrimestres de 2019 e 2020 aumentaram 8,1%. O volume exportado das não commodities recuou nesses mesmos períodos 30,1% e 18,4%, respectivamente.

A liderança das commodities nos volumes exportados está associada ao setor de agropecuária que registrou crescimento de 47,5% entre os meses de abril de 2019 e 2020, enquanto a indústria extrativa registrou queda de 5%. A indústria de transformação não se beneficiou da desvalorização cambial e num cenário de queda no comércio mundial recuou 17,1%, na mesma base de comparação. O resultado desse desempenho é que, entre os primeiros quadrimestres de 2019 e 2020, excetuando a agropecuária, todas as indústrias registraram queda nos volumes exportados.

A dependência das exportações das commodities e, em especial, do setor agropecuário se traduz na crescente importância da China na pauta de exportações do Brasil. Em abril, o volume exportado para a China cresceu 30,9% em relação a igual mês de 2019 e 28,2%. para o restante da Ásia. Para todos os outros mercados destacados no Gráfico 4 no press release, o volume exportado recuou, seja na comparação mensal, seja no acumulado do ano até abril. Destacam-se as quedas para a Argentina (45,2%), demais países da América do Sul (40,5%) e Estados Unidos (26,1%). A menor queda no volume de exportações foi a da União Europeia e é explicada pela maior presença de commodities na pauta de exportações para esse mercado.

Confirma-se, portanto, a importância do mercado da China atenuando a queda nas exportações brasileiras nesse momento de crise no comércio mundial. Como pode ser observado no Gráfico 5 no press release, a China explicou 31% das exportações brasileiras e 21% das importações, no primeiro quadrimestre de 2020. Esse país supera as participações de todos os principais mercados de destino das exportações e de origem das importações brasileiras. Destaca-se a queda nas exportações para a Argentina, levando o país à quinta posição como principal mercado de destino das vendas externas do Brasil, com uma participação de 2,6%.

A variação nas exportações por categoria de uso da indústria de transformação foi negativa na comparação mensal ou quadrimestral, exceto para bens não duráveis de consumo. Observa-se que a queda de 60,2% para os bens de capital em abril, não foi influenciada por transações associadas a plataformas de petróleo. No acumulado do ano até abril, a redução nas exportações de bens de capital sem plataformas é menor (30%). Nas importações, todas as categorias de uso recuaram em abril e, novamente, as plataformas não influenciaram esse resultado. Na comparação do acumulado até abril, bens de capital, bens de consumo não duráveis e bens intermediários mostram variação positiva, e como já salientado, as importações estavam crescendo nos primeiros meses do ano.

O desempenho favorável do setor agropecuário, no mês de abril, explica o aumento de 61,2% das suas importações de bens intermediários, enquanto o resto da indústria recuou em suas compras. Mesmo com o câmbio em alta, a dependência do setor na compra de insumos (fertilizantes e outros produtos químicos) e a demanda da China pelos produtos do setor agropecuário explicam esse aumento. A queda nas compras de máquinas para o setor foi influenciada pela desvalorização cambial. Ademais, parte do maquinário para o setor possui oferta doméstica, como tratores e máquinas de terraplanagem. Para o restante da indústria, as compras de máquinas nos meses iniciais refletem em parte as expectativas favoráveis que existiam no final de 2019 e início de 2020 em relação à recuperação da indústria.

Por último, os termos de troca apresentam uma tendência crescente desde janeiro de 2020, devido a uma queda mais acentuada nos preços importados do que exportados. O Fundo Monetário Internacional projeta uma queda de 42% para o petróleo e de 1,1% para não commodities. Esse comportamento beneficia o Brasil devido a sua pauta de commodities diversificada.

Perspectivas
A crise de 2008 levou a um aumento das exportações brasileiras para a China que passou a ser o nosso principal mercado de exportação. A crise atual acentua essa tendência e a consequente comoditização de produtos primários da pauta de exportações brasileiras. Sob esse prisma, a manutenção da política externa alinhada com os interesses exportadores do Brasil não pode ser negligenciada.

 

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