Para o economista Luis Paulo Rosenberg, o governo é um agente recessivo e isso dificulta a confiança no país

Dólar em alta, redução da expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), expansão do coronavírus. Para muitas pessoas, o cenário é caótico e sem muitas perspectivas favoráveis. Só que para o economista Luis Paulo Rosenberg, é questão de tempo para a economia brasileira “pegar”. Entre os pontos positivos vividos hoje no Brasil está a ausência da inflação. Para Rosenberg, pela primeira vez, o índice de inflação se tornou um problema secundário no país. Além do cenário econômico, o economista fala também da concentração de renda.

 

Qual a sua análise do atual momento econômico, em especial, da política econômica do ministro Paulo Guedes. Qual é a sua avaliação e quais suas impressões sobre esse momento da nossa economia e sobre a situação fiscal do país?

A primeira coisa que precisamos reconhecer é que nunca na nossa história nós tivemos um momento tão propício para um crescimento sadio como agora. Estamos no quarto ano com inflação domada, isso nunca existiu nossa história. E como consequência disso, estamos falando das taxas de juros mais baixas que esse país já viu. Os juros altos eram um aleijão brasileiro, se praticava taxas absolutamente ofensivas para o investimento. Então, essa combinação de uma postura governamental favorável ao mercado, fim da inflação e juros caminhando com alinhamento com o mercado mundial, é algo absolutamente fantástico. As contas externas estão no alto, mais de 300 bi de reserva, o saldo comercial está muito bom, está aumentando o déficit em transações correntes, mas de uma forma extremamente saudável. Ainda há entrada de capital das multinacionais é maior do que a nossa necessidade e uma a liberdade de fluxos internacionais espetacular, o câmbio realmente oscila de acordo com os desejos do mercado. Muita gente se apavora com a desvalorização, mas esquece de notar o seguinte, não é o real que está se desvalorizando porque é uma moeda aviltada, é o dólar que está se valorizando no mundo inteiro, por causa desse temor, recente da praga (coronavírus), e de, uma forma geral pela guerra comercial que se desenhava, sempre provoca uma fuga para o país mais confiável. E, do ponto de vista de governo, existe um empenho fiscal como a gente nunca viu. Esse empenho fiscal tanto passa pela redução da conta de juros, bem como passa por uma austeridade de receita e despesa muito forte. Eu acho que mais notável disso tudo é que nós aprovamos a reforma mais difícil de todas. Nós aprovamos, apesar da absoluta alienação do presidente. É a primeira vez que algo importante do país é aprovado por iniciativa do próprio parlamento. Então, isso é um toque de maturidade política que supera tudo mais, tudo mais é o presidente mais tosco que a gente já teve. A capacidade que ele tem de ser líder da oposição, é algo absolutamente insólito, no começo assustador. Sabe quando o coração vai sofrendo o entupimento de uma aorta, vão se criando mecanismos periféricos que o alimentam.
A sociedade foi suficientemente ágil com destaque para o parlamento para perceber o risco que se corria de um presidente absolutamente descompensado, mecanismos alternativos desde a mobilização da sociedade a uma forma de autopreservação, seja do judiciário, seja do parlamento, em que o país que funciona a despeito do presidente. O que nos leva, então, ao Paulo Guedes. O Paulo Guedes tem uma característica que quem não é do mundo econômico talvez não se perceba, ele é da Escola de Chicago. A Escola de Chicago é uma das mais respeitadas na defesa do liberalismo, isso todo mundo sabe. O que não sabe é o seguinte, é que o tipo de treinamento que Chicago dá é diferente das outras. Ele não gosta tanto de abstrações teóricas de matematização da economia, ele gosta de resolver casos concretos, aqueles que chamam de resolução de problemas. Então, a formação do aluno de Chicago, economista de Chicago é extremamente pragmática, calçada por uma doutrina muito sólida, muito consistente e não só o Paulo é devoto dessa “religião”, mas ele levou vários colegas que já participaram de governos anteriores. Então, eles desfrutam não só de uma ideologia comum mas no conhecimento de como funciona a máquina, como poucas equipes anteriores tiveram. Então, eu vejo assim uma possibilidade de se dar uma primeira chance ao capitalismo no Brasil é extremamente alvissareiro. Os obstáculos a isso é a peste. A peste, o coronavírus, ela em si enquanto doença, não é um das mais terríveis que a gente teve. Quando surgiu a AIDS, por exemplo, ela dava uma coisa que era mortal. Um grau de contaminação absurdo, pegava qualquer um, agora estamos falando de uma gripe severa, mas como todas as gripes pega mais os idosos do que a classe produtiva. Então, como chacoalhada econômica em si, a doença não tem a gravidade que a gente está sentindo agora.

O problema é a doença ter vindo da China, que é uma economia importante?

Ela está tão forte nos links e nas conexões comerciais do mundo inteiro, ela é um parceiro tão importante na produção, que ela gera uma recessão porque não entrega a produção. E isso é uma coisa que a gente ainda não consegue avaliar, qual é o impacto que isso tem. Eu acho que é um meio ponto de porcentagem de crescimento do comércio mundial já foi para o espaço. Quanto mais vai vir vai depender essencialmente da resposta das bolsas, que é aonde essa expectativa sobre o futuro de todos os agentes econômicos se pauta. Agora se for uma coisa desse tipo, eu acho que nós vamos ver um ano de 2020 satisfatório, não vai dar para crescer 3%, mas acho que vai ser mais do que 2%, no Brasil. E isso começa um ciclo novo que, pela primeira vez, não tem cara de ser um voo de galinha. Isso tem condições de continuidade, porque há uma capacidade ociosa grande. Então, dá para você crescer sem depender de investimento, você não precisa de um plano de investimento para uma empresa, basta uma política comercial agressiva, contratação de mais um turno e você tem uma facilidade de expansão fantástica do PIB. Do outro lado, o consumidor está com nível baixo de endividamento, uma inadimplência caindo e esse juro favorável dos bancos dispostos a emprestar como nunca. Então, dentro desse clima de incerteza, de insegurança, de sofrimento com as perdas patrimoniais nas bolsas existe por detrás um quadro bem objetivo brasileiro favorável.

Nós estamos vivendo um ambiente político bastante conturbado e como você citou a inépcia da presidência, temos um ministro da economia bastante atuante, só que ao mesmo tempo, há também manifestações programadas. Você acha que isso compromete a expectativa de crescimento e porque o Brasil não voltou a crescer já de uma forma mais efetiva?

Eu acho que acima de tudo você está tendo uma reversão de déficit fiscal, mas você ainda tem uma situação aterrorizante do lado das contas fiscais. Você tem o pior dos dois mundos, como você está contraindo o déficit, o governo é um agente recessivo e não expansionista. E como não é suficiente, não traz paz, você tem um elemento psicológico que diz: mas será que dessa vez vai? No quadro político eu acho o seguinte, realmente o presidente vai além do que se considera tolerado. Mas eu acho muito mais importante focar na robustez dos mecanismos democráticos que absorvem mais do que isso. Na maioria das medidas exóticas do presidente, ele voltou atrás. Então, o país está aprendendo a conviver com o primarismo do presidente e que, cada vez mais, afeta menos o resultado. Hoje, a gente sabe que o ministro da economia tem uma trajetória muito firme e que ele segue. Você acha que a relação do Trump com o parlamento americano é uma lua de mel? É uma desgraça. O grande problema é esse, a questão fiscal e quanto recente é o alívio monetário. Não faz um ano a gente tinha taxa de juros reais cinco vezes maior que qualquer país do mundo. Então, eu acho que é uma questão de tempo e a economia vai pegar.

Qual é a sua expectativa para a inflação para os próximos meses?

Acabou, esquece. Hoje em dia não tem mais inflação. Quando o nível do preço do mês para o outro, ele passa de 0,5% para 1%, não foi a inflação que cresceu, foi simplesmente algum preço da economia importante que teve um aumento, esse aumento o índice captura, mas não é repassado. Você não tem mais mecanismos para repassar, a concorrência entre empresas faz com que aquilo se torne, o que a gente diz em economia, uma mudança de preços relativos. O bem que estava escasso tem uma subida, mas os outros não conseguem acompanhar e compensa.
Você viu o que aconteceu com a carne, ela teve uma explosão comprometeu toda a virada de ano e está voltando. Por que os outros preços cederam, ele foi até um ponto, a demanda dela caiu e voltou aos patamares anteriores. Eu acho que a inflação no Brasil, pela primeira vez, é um assunto secundário.

Antes de se aprovar a reforma da Previdência, os investidores falavam do dólar R$ 3 e pouco, combustíveis mais baratos e a gente viu que a situação não é essa exatamente. Na sua visão existe uma acomodação do preço natural, do câmbio, que favorece de alguma forma também que a economia encontre seu próprio equilíbrio ou são fatores negativos?

Quando você está com uma economia com a situação externa administrável, o saldo comercial bom, dinheiro entrando e etc., você tem que reconhecer que uma desvalorização cambial é punitiva. O que é a desvalorização do câmbio? É o encarecimento de tudo que o brasileiro compra, seja para investir ou seja para consumir. Então, é ruim para o brasileiro que haja desvalorização cambial, agora como eu te disse, é muito mais devido à valorização do dólar do que a desvalorização do real. O dólar que está valorizando, isso é um fenômeno mundial. É mais um dos problemas que você tem que enfrentar, agora eu prefiro um problema como esse do que a inflação. No passado, só uma desvalorização cambial como essa de 10% já engendrava um aumento na inflação de oito pontos percentuais. Agora, não tem repasse nenhum disso aí, é mínimo. É um fator negativo mas tem que deixar, tem que acontecer, e a economia sabe lidar e sabe digerir isso.

Como que você avalia atualmente o modelo atual da gestão cambial pelo Banco Central, economia continua, mesmo com o presidente sendo um presidente que algum determinado momento ele poderia atuar contra essa autonomia, atualmente isto está bem resolvido?

Eu acho que sim, eu acho que todos os presidentes anteriores pecaram por excesso criou-se um mito no Brasil, um dogma de que o país que é relapso fiscalmente tem que ser agressivo monetariamente. Se você vai nos profetas do liberalismo, eles ensinam que a taxa de juros é mais ou menos como o ar-condicionado da fábrica, você bota em 24º graus e não fica mexendo, vai botar 30º graus para a fábrica trabalhar mais e 15º graus para a fábrica trabalhar menos. Não foi para isso que ele foi feito.  E no Brasil não, houve um desvario dos economistas e que agora vem sendo muito bem denunciado pelo André Lara Resende de que juro alto não faz mal. É sempre bom errar para mais.
Então, o atual presidente é muito mais razoável neste aspecto, ele entendeu o momento e ele baixou com muita coragem.  E eu diria que se tem mais alguma coisa para acontecer é para baixo e não para cima.

O Brasil fica pouco atrativo para os investidores com juros muito baixos, com a Selic muito baixa?

Não, porque toda vez que você abaixa os juros e diminui atratividade de uma aplicação em renda fixa, o CDB fica menos atraente que o pagamento de juros, a empresa aumentou a lucratividade, o custo financeiro dela despenca, as oportunidades de investimento aumentam. Então, você tem um influxo não mais para renda fixa, mas para renda maior.

 Selic baixa fica pouco atrativo para o investidor externo? E isso não impactou?

Nós estamos sobre o impacto do vírus, isso é inegável está saindo dinheiro do mundo inteiro indo para os Estados Unidos. Mas esse mito de que porque o juros cai, o investidor estrangeiro vai embora não existe, ele vai embora da renda fixa e vai para renda variável. E ele gosta, o que ele sabe fazer mesmo a vida inteira é aplicação em renda variável. Você vê, por exemplo, em São Paulo o que que está vindo de dinheiro para o mercado imobiliário é muito bacana, muito bonito, um novo modo de construir, são empreendimentos grandes com pouca garagem, bem pequenos como essa nova juventude prefere. Ela está mudando o país, está mudando uma forma muito bacana.

A própria disponibilidade de crédito no setor imobiliário, a Caixa lançando linhas com taxa de fixa, pode trazer uma série de notícias boas.

Uma coisa que também está acontecendo e que antigamente dinheiro para investimento só quem tinha era o BNDES e os bancos de desenvolvimento estaduais. Por que quem pode emprestar dinheiro há 15 anos, em um país que a inflação pode ser de 5% a 10% ao mês, e que paga 5% de juros real no curto prazo. Quem vai querer emprestar dinheiro? Isso está acabando com a queda dos juros e a queda da inflação, o investidor privado ganha perspectiva. Então, você vai ter daqui a pouco o setor imobiliário sendo financiado 15 anos, sem precisar de um banco estatal. Isso também é um o movimento muito favorável. O que está acontecendo de uma forma bem natural é essa substituição do paternalismo governamental pela iniciativa privada no aspecto de mercado, na produção. O que não se pode acreditar, e esse é um grande perigo do liberalismo é que a situação de concentração de renda que existe no país vai ser resolvida via mercado de educação. Isso não dá, isso pode levar 40 anos. Então, nós precisamos cada vez mais de um governo enxuto e que cuide dessa questão.  O instrumento mais eficaz para isso, é você criar um imposto de renda que atinge a todas as pessoas, quem ganha um salário mínimo ou meio salário mínimo faz a declaração de imposto de renda e sai dela ganhando um salário a mais. Então, o que você faz com o Imposto de Renda é diretamente uma transferência de renda da classe alta que paga a positivo o imposto de renda, para classe baixa que a recebedora de devolução do imposto que ele nunca pagou. Isso é crucial se você se afastar disso, você vai gerar uma crise social no país que não tem tamanho, porque nasce com uma concentração de renda como essa e você não faz nada, o país cresce sem fazer nada, ai concentra a renda mais ainda.

Fala-se muito que o Brasil precisa adotar um modelo de desenvolvimento, uma retomada do desenvolvimento e a gente vê que essas ações fiscais, tudo tem sido favorável. Entretanto, não existe um projeto de desenvolvimento para o Brasil. Qual é sua visão sobre isso e como isso poderia acontecer na prática?

Eu sou um fã rasgado do Juscelino e do programa de metas. Você pegar um país e dar a ele um rumo claro multifacetado e fazer uma simbiose entre governo e setor privado como Juscelino fez, é algo notável. O mundo de lá pra cá mudou barbaramente. Por exemplo, o que é a pedra de toque do Juscelino: desenvolvimento industrial. O desenvolvimento industrial hoje é piada, por causa das mudanças. Exemplo, quando você tem uma frota de automóveis privados, essa frota roda por dia duas horas ou três horas no máximo, ok. Quando você tem uma frota de Uber, ele roda 12h e até 15 horas. Resultado, a necessidade de veículos cai dramaticamente. Isso acontece com tudo, você não tem mais casa de campo. Tem uma estatística que mostra que você compra furadeira elétrica e usa ela 30 minutos por ano. Dessa forma, é muito mais lógico alguém prestar serviço para você. Então, a necessidade de produtos industriais cai. O fato da taxa de juros estar caindo, se você pensar em parte tem a ver com isso, porque antes para você ter desenvolvimento econômico, você precisava de investimento em capital, em máquinas, móveis e fábricas. Agora, como você cresce muito mais no setor terciário, o investimento é meia dúzia de computadores e cabeças. O desenvolvimento industrial que era a peça de resistência do planejamento, do crescimento, foi para o saco. Por outro lado, o Brasil hoje é um país muito mais integrado no mundo do que era, e mais, com uma vantagem incrível que, apesar de não ter tido nenhum dirigismo, o crescimento do setor primário no Brasil, seja mineração, seja agricultura ou agropecuária é um negócio fantástico.  Hoje, uma soja brasileira tem um grau de tecnologia de avanço comparável com um automóvel americano. Então, não é mais aquele produto primário do passado que a gente vai exportar cada vez mais, para receber cada vez menos. Resultado, o setor primário, em geral, é o condutor do crescimento, essa condução se faz liderada pelo setor privado que produziu esse crescimento. Alongamento de prazo de financiamento faz com que setor privado se financia, pós-graduação no Brasil para formar técnicos qualificados é das melhores que tem no mundo em desenvolvimento. Eu diria o seguinte, eu preciso muito mais que o governo não atrapalha do que ajude, é o que está acontecendo. Então, é claro que uma Embrapa é fundamental, e só o governo pode tocar uma Embrapa. É natural que ele cuide de indústrias nascentes, por exemplo, estamos falando de avanços na cumulação de energia fotovoltaica e ele vai trabalhar fomentando a pesquisa muito bacana, ele está pensando o tempo todo o que é o modelo educacional do Brasil dos próximos 30, 50 anos, é fundamental. Porque aí sim, isso não é o papel do setor primário. Então, se o governo passar de guiar um Rolls-Royce 1920 para guiar uma Ferrari enxuta e eficiente, aí você junta a fome com a vontade de comer. Eu não preciso mais daquele governo grandioso, ousado, paternalista, industrializante do JK, porque pelo fato da gente ter tido JK que fez tudo isso, hoje eu tenho uma economia muito mais amadurecida, muito mais preparada para conduzir o crescimento.

Para chegar nessa Ferrari evoluída e com o motor potente, o que está faltando? Qual o próximo passo? Reforma administrativa, o que o governo precisa fazer?

A reforma administrativa é crucial, mas eu acho igualmente importante a reforma entre as esferas de governo. Não tem cabimento o governo ter universidade federal, não faz o menor sentido. Ele tem que fazer o seguinte, o Estado quer ficar com a universidade pega, não quer, privatiza. O governo tem que lidar com estratégia de educação e não pagar professor de história medieval no Acre. Eu até adoraria, se a gente tivesse dinheiro para isso. Se não tiver dinheiro para fazer tudo, tem que ser seletivo. Da mesma forma, eu tenho a impressão que quanto mais municipalizado for o gasto, mais fácil fica de controlar e mais legítima é a decisão do povo. Sabe, eu prefiro um vereador sendo eleito e discutindo com a sua base, se nós vamos ter mais uma creche ou se nós vamos ter mais um asilo para velhos, do que alguém lá em Brasília toma uma decisão e vem em Belo Horizonte e constrói um dos dois. É muito remoto esse processo. Você vê nas grandes democracias que o governo local é muito importante e a eleição se faz por distrito, o voto distrital é uma exigência da democracia absolutamente dispensável.
Você não pode ter um deputado federal de Minas Gerais que teve cinco votos em cada urna do Estado, que não representa nada. Eu quero um deputado federal que represente o Leste de Belo Horizonte, de tal forma que quando chegar na próxima eleição ele contra o opositor dele, o opositor dele vai falar esse babaca todas as vezes que votou assim, contrário ao interesse dessa população. Essa vinculação que faz com que a cobrança do eleitor sobre o seu eleito seja muito mais claro e palpável, é crucial. Essas modificações que tirem do poder executivo do governo federal e traga para estado e município e essa legitimidade uma hora da eleição são dois condimentos que aceleraria muito o crescimento.

Além da reforma administrativa, passa também pela mudança do modelo tributário?

É um absurdo, veja, nós achamos absolutamente justo que uma empresa pequena pague 10% de imposto e que um banco pague 55%. Pensa bem, até uma empresa pequena que tem um dono só, que acaba faturando alguns milhares por ano, é o advogado, é o economista. O Bradesco que pagou 55%, tem milhares de viúvas que ganharam quatro cinco ações quando o finado se foi, e ela é tributada de uma forma expropriatória, com uma taxa de 55%, enquanto que o senhor advogado coitadinho está lá com uma empresa do simples, do lucro presumido. Não existe tributação empresa, a empresa não existe, a empresa é uma unidade de geração de produto e renda.  Agora, quando o dinheiro vai bater na pessoa física, aí você pega para valer, então a viúva receberia um lucro do Bradesco que não foi tributado pesadamente e pagaria 2% daquele lucro de imposto, e a família herdeira do fundador, essa pode pagar até 60% que eu não tenho nada contra. Essa primeira mudança é crucial, porque o modelo atual é contra a produção e é contra a redistribuição de renda, que é o maior problema que a gente tem.  É difícil de fazer. Como é que você tira vantagens do parlamento, se é o parlamento quem vota? Como reduzir o número de funcionários diante da pressão? Precisa de um governo absolutamente legitimado pelo voto que tenha chegado dizendo que vai fazer tudo isso, e faça sem medo da reação.

Entrevista realizada no dia 3 de março de 2020, na sede de MercadoComum

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