Presidente do BDMG, Sergio Gusmão é natural de São Paulo, bacharel em Direito pela USP, com mestrado em Direito, pela Harvard Law School, e em Comércio Internacional pela Sciences PO – Institut d’Études Politiques, de Paris. Foi diretor-geral do New Development Bank, o banco do BRICS, em Xangai, na China; vice-presidente para Desenvolvimento Corporativo da Continental Grain Company – Arlon Capital Partners, grupo de investimentos com sede nos Estados Unidos; atuou no setor econômico da Embaixada do Brasil em Washington; foi chefe de Gabinete da Presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); chefe da Assessoria Internacional da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; e supervisor de Defesa Comercial do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entre outras funções.

1- O sr. assumiu o BDMG em 2019, ano em que a economia mineira foi severamente impactada, especialmente pela tragédia envolvendo o setor de mineração e a queda nos números e perda de arrecadação. Como o sr. encontrou o Banco de Desenvolvimento e quais foram as primeiras ações realizadas?

O BDMG sempre foi um agente histórico para a construção da economia mineira, em todos os seus momentos. Nossa gestão veio somar a esta trajetória alguns desafios que são prementes. Entre eles, destaco a estruturação de um modelo de negócios que insira a transformação digital como meio e o desenvolvimento sustentável como fim em nossa estratégia corporativa. A evolução tecnológica e o advento da ‘economia verde’ têm mudado a forma de se tomar crédito no mundo, estabelecendo novos limites, padrões e oportunidades. Estamos orientando o nosso norte estratégico para estes temas. A dinâmica do mercado de crédito no mundo passa irremediavelmente por estes caminhos e não podemos perder o trem da história. Ao contrário, a qualidade de nossa equipe e a tradição de 57 anos do BDMG credenciam o banco a ter um papel de destaque nessa retomada da economia mineira.

2 – O Estado de Minas Gerais, conforme é de conhecimento geral, encontra-se com enorme déficit em suas contas, totalmente comprometidas com a folha do funcionalismo e dos pensionistas e aposentados. Existe saída em um futuro próximo? Como o fomento às empresas pode contribuir para que haja uma maior arrecadação e quais são as projeções neste sentido?

É um momento delicado, mas não inédito para o Estado. Traço um paralelo dessa situação agora encontrada pelo governador Romeu Zema com o início da década de 70, na administração do governador Rondon Pacheco. Ele também encontrou a administração pública com enormes dificuldades fiscais. Nos dois primeiros anos, conseguiu dar a volta por cima, com uma equipe técnica competente. O problema atual é realmente grave, decorrente de um desequilíbrio estrutural entre a dinâmica da receita e despesa do estado. O ajuste será longo e difícil, mas a gestão Zema tem lidado com o saneamento financeiro do Estado de forma muito pragmática e técnica. Nem todos sabem, mas o BDMG não opera mais com recursos do Estado, apenas com recursos próprios ou de repasse. Por isso, temos trabalhado com êxito para captar recursos de organismos multilaterais de fomento no mundo inteiro, garantir a nossa sustentabilidade financeira e crescer nossa carteira de crédito, sem onerar o Estado. Quem ganha com isso? Minas, com certeza. Em 2019, atuamos em 87% dos municípios mineiros e crescemos nosso desembolso para R$ 1,3 bilhão. Esses recursos estimularam a criação de 23 mil empregos.

3 – Quais segmentos da economia são as prioridades do crédito disponibilizado pelo banco? As áreas de inovação e tecnologia serão as mais favorecidas? Como ficam os setores mais tradicionais da economia mineira, como agronegócio, construção civil e mineração?

Atuamos de forma a compatibilizar o atendimento de setores tradicionais, como o agronegócio e a indústria, até os setores emergentes, como inovação e energias renováveis. Nosso compromisso é ser especialista em Minas Gerais. E isso inclui apoiar as vocações do estado, mas também prospectar suas potencialidades. Muita gente acha que o BDMG é um Banco que apoia somente a grande empresa. Mas não! Fomos pioneiros em criar uma plataforma digital no Brasil para tornar o crédito mais ágil e acessível para o pequeno empreendedor. E vamos fazer mais. Recentemente, revisamos nossa prateleira de produtos e promovemos reduções de taxa em diversas linhas de crédito, de modo a trazer condições ainda mais competitivas para nossos clientes de capital de giro.

4 – Recentemente, o BDMG assinou com o Banco Europeu de Investimento (BEI) um acordo que trará 100 milhões de euros para o desenvolvimento de projetos de energia sustentável no Estado. Como este, há outros em negociação? Quais?

O BEI é o maior emissor de green bonds do mundo. Esta operação é uma oportunidade especial de contribuirmos para a diversificação da matriz econômica de Minas Gerais e de posicionar o Estado no mapa mundial dos grandes investimentos em sustentabilidade. Já temos dois projetos aprovados no âmbito dessa linha para o financiamento de fazendas solares no norte de Minas.  O que pretendemos é ter um portfólio de captações, cada um com apetite diferente e que possa atender a nossa estratégia.

5 – Na sua opinião, qual é o papel efetivo de um banco de desenvolvimento regional? E como o BDMG tem se posicionado em âmbito nacional?

Costumo dizer que o papel do BDMG já está descrito em seu próprio nome. A letra B, de banco, nos lembra que temos que garantir sustentabilidade financeira, buscando diversificar a origem do funding e trabalhar para crescer o saldo da nossa carteira; a letra D, de Desenvolvimento, nos convida a superar o papel de meros repassadores de dinheiro e a concretizar instrumentos financeiros eficientes para maximizar o  impacto positivo de nossa atuação e responder com eficiência às necessidades socioeconômicas do estado. E, finalmente, MG, que simboliza, sim, os nossos pés no Estado, mas nossos olhos no mundo. Temos que ser uma plataforma de atração de investimentos, conhecimento  e de recursos não só no contexto nacional, mas mundial.

6 – Os municípios mineiros também passam por dificuldades históricas, O BDMG lançou um edital para destinar R$ 200 milhões às prefeituras. Esses recursos são fiscalizados no sentido de darem o retorno esperado às populações locais? Como eles promovem a melhoria dos indicadores econômicos?

Do ponto de vista legal, como ocorre em todas as obras financiadas pelo BDMG a municípios, a fiscalização da obra fica a cargo da prefeitura, por meio de comissão nomeada por portaria ou decreto publicado pelo prefeito. O Banco possui procedimentos adicionais para autorizar as liberações das parcelas da operação de crédito, mas que não substituem a função fiscalizadora da prefeitura. Do ponto de vista do impacto social, o alinhamento de nossos projetos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que é uma tendência mundial do mercado de crédito, acarreta mudanças substanciais na maneira de processar e avaliar projetos. Tendo isso como base, estamos trabalhando ativamente para aumentar a nossa capacidade de mensurar o impacto socioeconômico dos projetos que financiamos. Este é o verdadeiro sentido de Desenvolvimento, a razão de ser do BDMG. Monitoramento e impacto é uma agenda que está na proa de nossa estratégia, assim como de vários organismos de fomento em todo o mundo.

7 – O sr. diria que os investimentos em negócios inovadores poderão trazer horizontes diferentes à economia do estado? Setores como energia limpa, audiovisual, start-ups têm potencial para isso?

Existe um apetite enorme de investidores que querem, a partir de uma plataforma regional, como o BDMG, alocar recursos em projetos com foco eficiência energética e energias renováveis, unindo inovação e sustentabilidade. Estamos em um dos estados com maior nível de insolação do Brasil. O ecossistema de inovação no estado vibrante e temos a honra de sediar, em parceria com a LM Ventures e o banco Olé, o Hubble, um hub de 13 startups que atuam na criação de soluções inovadoras, especialmente para o segmento financeiro. Estou convicto de que BDMG é um agente regional que tem conhecimento e que pode estruturar e financiar projetos que atraem recursos de fora do estado e internacionais. Vamos atuar cada vez mais em conjunto com organismos multilaterais para ajudar a relançar a economia brasileira e mineira em bases sustentáveis e inovadoras.

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