Avanço de 1,2% do PIB brasileiro em 2022 com cenário global desafiador diante da pressão de custos
Avanço de 1,2% do PIB brasileiro em 2022 com cenário global desafiador diante da pressão de custos
Avanço de 1,2% do PIB brasileiro em 2022 com cenário global desafiador diante da pressão de custos
Coface AL analisa os impactos da alta de preços das matérias-primas nas indústrias da América Latina
A Coface, líder global em seguro de crédito comercial e em serviços especializados, elevou a sua projeção para o crescimento da economia brasileira em 2022. A expectativa agora é de uma expansão do PIB de 1,2% neste ano, ante previsão feita em abril de 0,8%.

“No começo do ano, esperávamos estabilidade. Depois, revisamos para um crescimento de 0,4%, 0,8% e agora para 1,2%. De um lado é um crescimento pouco expressivo, mas, por outro, temos uma revisão para cima, com os preços das commodities favorecendo a atividade no Brasil, permitindo mais estímulos e ajudando no crescimento”, disse Patrícia Krause, economista-chefe da Coface América Latina, durante a apresentação, nesta terça-feira (14), do relatório “Impactos da alta de preços das matérias-primas nas indústrias da América Latina”.

Mesmo com a projeção mais otimista, o Brasil deve sofrer uma forte desaceleração em relação a 2021, quando o país cresceu 4,6%, assim como a economia global e da América Latina. Para o PIB mundial, a previsão da Coface é de um crescimento de 3,1% em 2022, após alta de 5,7% no ano passado. No caso da América Latina, essa desaceleração deve ser ainda mais intensa, passando de um crescimento estimado de 7% em 2021 para 2,4% neste ano.

“Diante desse cenário de pressão persistente de custos, a perspectiva é de uma desaceleração econômica não só localmente como também globalmente. Essas estimativas são revisadas sistematicamente e os riscos estão mais inclinados para revisões para baixo”, afirmou.

A economista avalia que os números para o crescimento do PIB global no primeiro trimestre foram decepcionantes, com perspectivas negativas no segundo trimestre, especialmente na Europa. E apesar de sinais de estabilização dos preços das commodities não energéticas, as pressões inflacionárias permanecem elevadas.

“É difícil dizer que estaremos no pico da inflação nos próximos meses. Em maio, os Estados Unidos apresentaram uma inflação maior do que a esperada, chegando a 8,6%, a mais alta desde 1981. Com o crescimento fraco do PIB global esperado no segundo semestre aliado à inflação alta e persistente, o cenário de estagflação acaba ganhando força pelo menos no curto prazo”, disse Patrícia, que chama atenção ainda para as perdas nas condições de crédito, com aumento de taxas de juros afetando os mercados.

De acordo com a economista, a guerra na Ucrânia e os bloqueios na China representam um novo choque para a cadeia global de suprimentos, que vem acompanhado também de fretes elevados. Além da maior demanda por bens e escassez de contêineres pós-lockdown da pandemia, os preços dos combustíveis dispararam acentuadamente por conta da invasão da Ucrânia.

“Outro fator importante é o aumento nos prazos de entrega do setor manufatureiro. Os Estados Unidos e a zona do Euro são os mais afetados. Os indicadores mostram uma melhora em maio, mas ainda com um cenário negativo para o prazo de entregas. Entre os motivos apontados estão os bloqueios na China e guerra na Ucrânia”, afirmou.

Indústria na América Latina

Na América Latina, segundo Patrícia, dados de maio mostram, em geral, uma atividade manufatureira resiliente. No entanto, preço da energia, escassez de insumos, lockdown na China e guerra na Ucrânia continuam também pressionando os custos.

“No Brasil, os preços ao produtor fecharam em alta de 18% em 12 meses, uma melhora em relação ao pico de 36% de um ano atrás, mas continuam em um patamar muito elevado. Os setores industriais mais intensivos no uso de energia estão entre os mais impactados, como os de petróleo e biocombustíveis, químico e de metais, que refletem aumento dos preços internacionais do petróleo sobre a indústria. Assim, o cenário segue desafiador para a produção industrial no Brasil, apesar do crescimento, na margem, nos últimos três meses”, afirmou.

Risco/recompensa a favor do dólar

A economista alertou ainda sobre risco/recompensa a favor do dólar. Para Patrícia, as saídas de capitais e a valorização da moeda norte-americana são um coquetel perigoso para países emergentes com posições externas frágeis. “Com a inflação acima da esperada nos EUA, os mercados começam a apostar que o Fed eleve os juros em 0,75 p.p. amanhã (15) e não mais em 0,5 p.p. como previsto anteriormente, causando pressão. Quando olhamos o fluxo líquido de investimento de portfólio, curto prazo, vemos uma saída de capitais nos últimos meses, o que é o sinal de alerta. Observamos ainda um fortalecimento do dólar por uma aversão ao risco” explicou.

Na América Latina, segundo a economista, ainda há uma entrada líquida de recursos no acumulado do ano. Os preços elevados das commodities, além do aperto de juros mais rápido na região em relação a outros mercados emergentes, levaram à valorização cambial.

“Vimos uma apreciação das moedas dos principais mercados latino-americanos, com exceção do peso argentino, no ano. Entretanto, a volatilidade aumentou com as preocupações com os juros nos EUA. Com isso, o câmbio mais forte na região pode ter vida curta uma vez que políticas monetárias mais rígidas nos mercados desenvolvidos tendem a renovar a volatilidade no segundo semestre o ano. No caso do Brasil, isso pode ser mais intenso devido às eleições e discussões sobre as questões fiscais”, disse.

Patrícia acrescentou ainda que o aperto monetário na América Latina não chegou ao fim. Para ela, as principais economias da região devem seguir elevando os juros nos próximos meses para conter pressões inflacionárias. Para o Brasil, a expectativa é que o Banco Central leve os juros a 13,25% ao ano na reunião desta quarta-feira (15). “A nossa projeção é que a taxa possa chegar a 13,75% em agosto”, completou.

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