Historicamente, a tomada de crédito sempre foi relacionada aos bancos tradicionais, o que acabava limitando o acesso à empréstimos por grande parte da população que, de alguma forma, não era conectada aos bancos ou, então, não tinha perfil de crédito atendido pelas instituições. Nos últimos dez anos, no entanto, fintechs em todo o mundo, lideradas pelos Estados Unidos, China e Inglaterra, enxergaram nesse cenário uma grande oportunidade de negócio e surgiram no mercado justamente para atender essa demanda cada vez mais latente.

Na China, por exemplo, o modelo p2p lending – que conecta tomadores com quem tem recursos para emprestar – cresceu de forma exponencial, muito por conta da maturidade que o mercado da região já obtinha. Em 2016, o segmento atingiu cerca de US$40 bilhões. Já nos Estados Unidos, além da aproximação com o mercado de capitais para facilitar a tomada de crédito, as empresas também alcançaram grande sucesso por conta da aplicação de taxas mais atrativas, justamente para as pessoas que não eram atendidas pelas instituições tradicionais. Atualmente, as fintechs já representam cerca de 15 a 20% do mercado de crédito americano.

A experiência bem sucedida nesses países apontava para um potencial sucesso desse mercado também aqui no Brasil. As altas taxas cobradas pelas instituições e a concentração bancária, somadas à grande parte da população que não eram atendidas – ou eram mal-atendidas – pelos bancos, tornavam esse mercado bastante promissor quando a primeira fintech de crédito digital foi criada por aqui, em 2011.

Atualmente, podemos dizer que esse mercado já avançou em muitos sentidos. O Banco Central, por exemplo, atua cada vez mais forte com o intuito de aumentar a oferta de serviços financeiros de qualidade, por meio de regulamentações que impulsionam a competitividade, como é o caso recente da flexibilização da entrada de fintechs com capital estrangeiro no país. Além disso, no último ano, o número de membros da ABCD, Associação Brasileira de Crédito Digital, em que sou presidente, triplicou.

No entanto, ainda vejo que há muito o que explorar. As fintechs representam menos de 1% do mercado de crédito como um todo. Esse número ainda é muito baixo perto do tamanho deste setor no país e da alta demanda da população. Além disso, o Brasil continua sendo um dos países que cobram as taxas de juros mais altas em todo o mundo. Um cliente com histórico de melhor pagador aqui no Brasil, por exemplo, paga taxas mais altas do que um consumidor com o pior perfil de crédito nos Estados Unidos. Outro fator determinante é em relação à mudança da cultura dos brasileiros, que ainda vêem o crédito como algo negativo.

Ainda temos, então, uma longa jornada pela frente, mas já estamos preparados para trilhá-la de forma rápida. A expectativa é de que, nos próximos anos, esse mercado seja 20 vezes maior do que é hoje. Assim, caminhamos para um cenário cada vez mais competitivo, com maior oferta de produtos e serviços financeiros e custos mais baixos para o consumidor, impactando significativamente a forma como os brasileiros se relacionam com suas finanças.

Sobre o autor:

Rafael Pereira é Co-fundador e CEO da REBEL, fintech que oferece produtos de crédito para classe média, e presidente da ABCD (Associação Brasileira de Crédito Digital). Possui formação em Engenharia Eletrônica e de Produção pela PUC-RJ e MBA pela Columbia Business School.

 

 

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